Fazenda de manga do Vale do São Francisco, a mais importante zona de produção de frutas tropicais do País.
A ocorrência de seis espécies de cochonilhas-de-escama foi registrada, pela primeira vez, no Submédio do Vale do São Francisco. Cochonilhas-de-escama são pragas que podem causar danos graves às culturas, inclusive a morte das plantas. Em 2022, foram identificadas outras espécies da praga na mesma região, o que alerta pesquisadores sobre a presença crescente desses insetos no Vale do São Francisco, a mais importante zona de produção de frutas tropicais no Brasil. A identificação correta das espécies é fundamental para que o produtor adote formas de controle adequadas. O monitoramento, por parte dos produtores, da presença das cochonilhas na fase vegetativa impede o aumento populacional e a migração das pragas para os frutos.
Seis espécies de cochonilhas-de-escama foram registradas pela primeira vez no Submédio do Vale do São Francisco, a mais importante zona de produção de frutas tropicais do País, localizada na região semiárida. As pragas foram encontradas em pomares de manga e uva, causando danos diretos aos frutos e comprometendo sua qualidade e o desenvolvimento das plantas.
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De acordo com o pesquisador da Embrapa Semiárido Tiago Cardoso da Costa Lima, a identificação correta das espécies que causam danos à cultura é a base para o manejo integrado de pragas. “A partir dessa informação podemos conhecer melhor sobre a biologia do inseto e quais medidas de controle podemos adotar. Tem sido um trabalho constante conduzido na Embrapa Semiárido para ajudar os produtores no monitoramento dessas pragas”, destaca.
O pesquisador explica que as cochonilhas podem provocar a despigmentação da casca dos frutos e, mesmo mortas, continuam presas à superfície, prejudicando sua aparência. “Por isso, é importante que os produtores monitorem essas cochonilhas com cuidado na fase vegetativa, impedindo o aumento populacional e a posterior migração para os frutos”, ressalta.
Infestação e primeiros relatos
Os primeiros relatos de problemas causados por essas pragas foram feitos por produtores de manga, entre 2021 e 2022, que comunicaram à Embrapa sobre danos em folhas e frutos. Já em 2023 foi a vez dos produtores de uva relatarem infestação de cochonilhas no tronco da videira, provocando, inclusive, a morte das plantas.
Em resposta, a Embrapa Semiárido realizou um levantamento em diferentes fazendas nos municípios de Petrolina (PE), Belém de São Francisco (PE) e Curaçá (BA) para coletar uma amostragem desses insetos. O material foi enviado para o Centro Estadual de Pesquisa Agronômica (Ceagro) do Rio Grande do Sul, onde foi identificado pela taxonomista Vera Wolff. Os resultados foram publicados em artigo no International Journal of Tropical Insect Science.
Espécies identificadas
Em videiras, foi identificada a ocorrência de duas espécies. A primeira, que ataca os troncos da planta, é a Melanaspis arnaldoi, restrita ao Brasil, com registros anteriores nas Regiões Sudeste e Sul. Essa praga acarreta maiores custos com o manejo, pois os produtores têm adotado a prática de retirada da casca dos troncos para, em seguida, conduzir as pulverizações.
A segunda foi a Aonidiella orientalis, que infesta folhas, pecíolos, entrenós e bagas. A espécie é amplamente distribuída no mundo e possui uma elevada gama de plantas hospedeiras, sendo conhecida como praga de citros, mamão e manga.
Já em mangueiras foram identificadas quatro novas ocorrências de cochonilhas para a região: Mycetaspis personata, Aonidiella comperei, Chrysomphalus aonidum e Hemiberlesia lataniae. As três primeiras foram observadas em folhas e frutos e a última apenas em folhas. A Aonidiella comperei foi a única espécie que ainda não havia sido registrada em cultivo de manga em nenhum país.
Cochonilhas-de-escama
As cochonilhas-de-escama, também conhecidas como cochonilhas-com-escudo, são insetos sugadores que pertencem à família Diaspididae. Elas se movem em sua fase inicial de desenvolvimento, logo que eclodem do ovo. Depois disso, se fixam na planta e iniciam a sua alimentação.
As cochonilhas desenvolvem um escudo sobre o seu corpo – que dá origem ao nome comum desse grupo de insetos. A presença dessa estrutura garante uma maior proteção contra inimigos naturais e também dificulta o controle dessas pragas com inseticidas. Sob o escudo das fêmeas adultas, também ficam posicionados os ovos até a eclosão de novas ninfas, que vão migrar para outras partes da planta. Já o macho adulto é mais similar aos insetos usualmente conhecidos, com a presença de asas.
De acordo com a taxonomista Vera Wolff, esses insetos têm importância, principalmente no setor agrícola, quando há uma grande infestação em determinadas plantas de interesse. “Eles podem causar injúrias, desde problemas nas folhas, sugando a seiva, e também causando deformações nos frutos e até mesmo a morte de algumas plantas. Então, quando estão em grande população, eles precisam ser controlados, e para isso é necessário saber qual é a espécie”, explica.
Wolff destaca, ainda, que os insetos identificados também são encaminhados para o Museu de Entomologia Professor Ramiro Gomes Costa, onde há um banco de dados das cochonilhas que ocorrem no Brasil em diferentes hospedeiros, com informações sobre a distribuição geográfica de cada uma dessas espécies. “Isso também é um conhecimento importante para saber a biodiversidade da nossa fauna brasileira”, ressalta.
Outras cochonilhas
Em 2022, a Embrapa Semiárido e instituições parceiras registraram outras espécies de cochonilhas que até então não haviam sido relatadas em mangueira no Submédio do Vale do São Francisco. Foram elas: uma cochonilha-de-escama (Pseudischnaspis bowreyi) e duas cochonilhas-de-cera (Ceroplastes floridensis e Ceroplastes stellifer). Os resultados também foram publicados na International Journal of Tropical Insect Science.
“Isso demonstra o aumento de importância desse grupo de insetos na região”, destaca o pesquisador Tiago Costa Lima. Nesse sentido, projetos estão sendo elaborados buscando avaliar melhores estratégias de controle dessas pragas.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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