Especialista: Qual o melhor capim para o gado de corte?

“O melhor capim para uma fazenda poderá não ser o melhor capim para outra” – afirmação é de uma das maiores especialistas de capim do Brasil, Janaína Azevedo Martuscello, da Universidade Federal de São João Del-Rei

Por Janaina Azevedo Martuscello* – Essa é uma pergunta muito comum. Afinal, se soubermos qual é o melhor capim para criação de gado de corte teremos maior produção de @/ha, maior ganho de peso diário, maior taxa de lotação e maior rentabilidade. Mas, essa resposta não é simples! Infelizmente.

O melhor capim para uma fazenda poderá não ser o melhor capim para outra. Vejamos: se a fazenda A tem solo argiloso, que tem maior retenção de água o melhor capim para essa fazenda não será o melhor capim para a fazenda B, que tem solo arenoso. Por isso, o melhor capim é aquele se adapta melhor as condições de solo, clima, topografia e capacidade de manejo da fazenda.

Sabendo disso, preparamos um passo a passo para que você consiga chegar em um bom capim para sua fazenda.

Rebanho de rodeio Cia Paulo Emilio na Fazenda Santa Martha
Foto: Marcio Peruchi

Passo 1) Avalie a topografia da sua região

Para regiões de declive acentuado, por exemplo, muito comum na bovinocultura de corte, recomenda-se uma forrageira que faça boa cobertura de solo como aquelas de crescimento decumbente (Brachiaria decumbens) ou estolonífera (estrela, tifton, humidicola) ou até mesmo prostrados (grama batatais). Esse tipo de declive, somado a altas de lotação, deixam os solos sujeitos a erosão e por isso há necessidade de boa cobertura de solo. Capins cespitosos nesse tipo de declividade deixam muitas áreas de solo descobertas, trazendo problemas ambientais e econômicos.

Em se tratando de áreas planas o numero de forrageiras que podem ser usadas aumenta consideravelmente, podendo ser indicadas capins de crescimento estolonífero, decumbente ou cespitoso.

Tecnologias como o Programa Pasto Forte da Harvest Agro
Foto: Divulgação

Passo 2) Avalie o clima de sua região

O clima é um fator importante na definição do capim a ser usado. Regiões secas, com déficit hídrico exigem forrageiras que sejam adaptadas a esse tipo de solo, sob o risco de desaparecimento no pasto na primeira seca extrema. Alguns exemplos de plantas adaptadas e locais secos são: Andropogon gayanus, Capim buffel, B. decumbens, Massai, Camello (Híbrido de braquiária), Paiaguás (B. brizantha). Por outro lado, em regiões com chuva mais frequentes, acima de 900 mm anuais, as opções aumentam consideravelmente, havendo pouca restrição.

É importante avaliar também a possibilidade de geadas na região, uma vez que plantas não adaptadas podem sofrer com esse intempérie climático. Para essas regiões recomenda-se capins como Hermartria, Aries 2, Aruana e aqueles próprios da região.

O Descompactador de solo, Advanced Auto, estará em exposição durante o evento
Foto: Divulgação

Passo 3) Avalie o tipo de solo de sua fazenda

Para fazendas com solos alagados é importante que se escolha forrageira adaptadas a esse tipo de estresse. Infelizmente, para esse tipo de solo, que alaga, temos poucas opções de forrageiras. Mas, decidir uma planta tolerante ou resistente ao alagamento é imprescindível para o sucesso na atividade. Alguns exemplos são: Brachiaria humidicola (quicuio da Amazônia), B.arrecta (Angola), B. mutica (Braquiaria do brejo), Tangola (cruzamento natural entre angola e braquiária do brejo), Cayman (novo hibrido no mercado), Setaria cv. Tijuca, capim estrela (baixa tolerância).

As opções de capins para fazendas que não apresentam áreas marginais (como morro, alagamento, pedra) são muitas. A escolha irá depender do nível tecnológico e dos ganhos esperados em @. Para fazendas mais extensivas, com pouco nível tecnológico é necessário que escolha forrageiras de baixa exigência em fertilidade, pois haverá menor investimento em calcário e adubos.

Sobressemeadura de pastagem na Amazônia - plantadeira de capim
Foto: Judson Ferreira Valentim / Embrapa

Passo 4) Avalie o nível tecnológico que você usará

Para sistemas mais intensificados, que se espera maiores ganhos por área, é necessário a escolha de um capim que apresente alta produção de massa e também bom valor nutritivo. Mas, é importante destacar que a escolha do capim deve ser feita levando em consideração a capacidade de manejo do pecuarista e equipe. Isso porque, em geral, plantas mais produtivas são mais exigentes em fertilidade do solo e manejo, portanto, se as exigências não forem atendidas as qualidades da forrageira irão se perder. Para sistemas mais tecnificados pode-se escolher capins da espécie Panicum maximum (Mombaça, Zuri, Quenia, Miyagui, Tamani, Aries…) e algumas cultivares de Brachiaria (MG5 Xaraés, alguns híbridos).

Alguns capins podem ser usados tanto em sistemas mais intensisvos quanto mais extensivos, como é o caso dos capins Marandu, Massai e os híbridos de Braquiaria.

Agropecuária Kangayan - touros nelore - top fotao
Foto: Agropecuária Kangayan

Passo 5) Avalie a categoria animal

Além disso, o que tem que ser avaliado é a categoria animal que a fazenda trabalha. Por exemplo: animais de recria são mais exigentes que de cria, o que exige uma forrageira de melhor valor nutritivo.

Para animais de cria, há de se observar o porte do capim, uma vez que importante que se veja os bezerros, por isso evita-se recomendar capins muito alto, como Mombaça e Paredão, esses quando bem manejados podem ser usados para recria e engorda, pois garantem excelente ganho de peso.

Dra. Janaina Azevedo Martuscello é pesquisadora da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

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