Da enxada ao pandeiro: conheça a escola de samba de agricultores no sertão do Ceará, foi fundada por produtores em 1963 a Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro.
A magia do Carnaval é tão poderosa que, no sertão nordestino, tem agricultor torcendo para não chover. O motivo é nobre. Pela 58ª vez consecutiva, a Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd), fundada por produtores rurais, vai desfilar neste domingo (23/2) no centro de Várzea Alegre, cidade de 40 mil habitantes no sul do Ceará.
“É até contraditório, porque chuva ajuda no campo, né? Mas a agricultura está indo bem, todos estão animados e esperamos que não chova para ter um bom desfile”, conta Maria da Conceição Sousa, presidente da Esurd, professora e filha de agricultores.
O samba-enredo para 2020 é “Tributo a doutor Pedro: Uma história de vida cantada em samba”, em homenagem ao médico Pedro Sátiro. Filho de agricultores e ex-prefeito, ele completou 90 anos no fim de janeiro.
Carro alegórico e 14 alas
Conceição conta que, no desfile deste ano, a escola terá 14 alas e um carro alegórico. Segundo ela, mais de 300 dos 700 componentes são agricultores. Os demais são moradores da cidade, muitos deles familiares de produtores rurais.
“A maioria planta milho, feijão e arroz, além da criação de animais. Moram aqui na comunidade mesmo”, conta a presidente da Esurd.
As fantasias são confeccionadas pelos próprios membros da escola. As principais fontes de financiamentos são colaborações dos participantes e eventos, como o tradicional forró que ocorre em junho. A escola também recebe apoio da prefeitura.
“A participação da Esurd é muito positiva no nosso Carnaval. Preservar o amor dos agricultores pelo samba e pela cultura significa muito, até porque a escola é considerada a única de origem rural do Brasil”, diz Antônia Pereira de Oliveira, secretária de Cultura e Turismo.
Aprendizado na prática
Devido à lida na roça, os ensaios da escola de samba para o Carnaval costumam ser realizados à noite ou aos domingos. E, na bateria, o conhecimento musical atravessa gerações.
“Os filhos aprendem com os pais, observam a afinação, ajudam uns aos outros. Aos poucos, vão evoluindo e passando para outros instrumentos. Quem não pode se envolver tanto devido às tarefas no campo participa na criação do samba-enredo ou na montagem”, diz Conceição.
Tradição que atravessa gerações
O amor pelo samba passa dos pais para os filhos. Tudo começou no Carnaval de 1963, quando agricultores apaixonados por música e dança resolveram mostrar seu talento na rua. Pintaram a cara com carvão e saíram desfilar. Temiam a rejeição do povo. Mas adivinha?
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“As pessoas gostaram e pediram para eles voltarem e tocarem de novo. A partir desse dia, nunca mais a escola deixou de participar do Carnaval”, diz Conceição.
A presidente da escola destaca a importância dessa união para a comunidade, pois também é uma forma de perpetuar o gosto pelo samba para as próximas gerações.
“É muito bom ver que essa cultura é tão forte que os jovens, apesar do mundo digital, são contagiados a levar essa tradição adiante”Maria da Conceição Sousa, presidente da Esurd
Compre Rural com informações do Globo Rural