Rota Bioceânica tem potencial para movimentar R$ 1,5 bilhão em Mato Grosso do Sul; empreendimento é impulsionada por investimentos privados e públicos
No ano 2000, o governo Fernando Henrique Cardoso e os dos demais países da América do Sul lançaram a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA). O propósito era construir uma rede de obras de infraestrutura: hidrovias, portos, interconexões energéticas e de comunicações e corredores rodoviários. Para os proponentes, os maiores desafios a serem vencidos eram ambientais, devido à existência de três grandes “obstáculos”: a Floresta Amazônica, o Pantanal e a Cordilheira dos Andes.
A Rota de Integração Latino Americana (RILA), ou Rota Bioceânica, é um corredor rodoviário com extensão de 2.396 quilômetros, que pretende ligar o Oceano Atlântico aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Paraguai e Argentina. Segundo seus propagadores, seria uma alternativa ao Porto de Santos (SP), encurtando distância e tempo para as exportações e importações brasileiras entre mercados potenciais na Ásia, Oceania e Costa Oeste dos Estados Unidos. No estado de Mato Grosso do Sul, a rodovia atravessa a parte sul do Pantanal.
A implantação da rota ou corredor bioceânico tem o intuito de expandir a relação comercial do Estado com países asiáticos e sul-americanos e deve fomentar, além da diversificação da pauta de exportações, a atração de indústrias e empresas para Mato Grosso do Sul. O objetivo da criação de um corredor rodoviário entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile é interligar os oceanos Pacífico e Atlântico. Estudo desenvolvido pela professora e pesquisadora Luciane Carvalho, que integra o projeto de pesquisa e extensão Corredor Bioceânico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), aponta as possibilidades de diversificar a economia do Estado.
A proposta do corredor é conectar e integrar os países vizinhos (Paraguai, Argentina e Chile) e diversificar a pauta dos produtos exportáveis para os países asiáticos. “O corredor poderá favorecer, também, o comércio com a Costa Oeste dos Estados Unidos e a Oceania”, explica a pesquisadora.
“Futuramente, com o corredor há perspectivas de instalações de novos empreendimentos nos municípios. Mas isso também depende de políticas de atração de novas empresas e da decisão de empresários, que veem o corredor como oportunidade para expandir suas atividades”, considera.
Conforme estudo desenvolvido na UFMS, os custos para o envio da produção sul-mato-grossense serão reduzidos, além do tempo de viagem, que será encurtado em até 17 dias rumo ao mercado asiático.
A rota também deve promover a integração entre os países da América do Sul e o desenvolvimento local nos municípios alcançados. O estudo identificou que o Paraguai pode fornecer a Mato Grosso do Sul produtos que atualmente são importados da China, como tecidos de malhas e fios sintéticos.
Levantamento realizado pela Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) aponta que o Corredor Bioceânico terá potencial para movimentar US$ 1,5 bilhão por ano em exportações de carnes, açúcar, farelo de soja e couros para os outros países por onde passará.
A pesquisadora da UFMS considera que a rota poderá potencializar as relações comerciais entre municípios dos quatro países que farão parte do trajeto e destaca possibilidades para o transporte de mercadorias. “A ideia é que os caminhões que vão até os portos do Chile carregados com commodities retornem para o Brasil com alguma carga, há produtos como o feijão nas regiões argentinas, como San Salvador de Jujuy e Salta, além da produção de vinho no Chile e na Argentina”, conclui Luciane.
Porto Murtinho está se transformando em grande hub logístico
O principal projeto para a efetivação da Rota é a construção da ponte de aproximadamente 680 metros sobre o Rio Paraguai, que liga o Brasil ao País vizinho pelas cidades de Porto Murtinho e Carmelo Peralta.A travessia será construída com recursos da usina hidrelétrica Itaipu Binacional Paraguay e a estimativa é de que sejam investidos US$ 75 milhões na obra, que deve iniciar em 2021 e terminar em 2023. Com localização privilegiada dentro da Rota Bioceânica entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, o município de Porto Murtinho deve se transformar nos próximos anos em um grande hub logístico da América do Sul.
Rota Bioceânica será prioridade em 2021
O senador Nelsinho Trad, afirmou que o projeto da Rota Bioceânica será prioridade para impulsionar o desenvolvimento econômico da América do Sul após a pandemia de covid-19. O senador participou de seminário virtual promovido pelo Parlamento do Mercosul (Parlasul) para discutir o andamento do projeto, que remonta aos anos 1990. A Rota Bioceânica (oficialmente chamada Rota de Integração Latino-Americana) será um corredor logístico entre portos brasileiros no Atlântico e chilenos no Pacífico, passando também por portos fluviais na Argentina, no Paraguai e no Brasil.
O avanço nas obras de pavimentação asfáltica da Rota Bioceânica no Paraguai e a conclusão do processo de licitação para a pavimentação do acesso ao estacionamento de triagem (ETM Murtinho), em Porto Murtinho, marcam mais uma etapa nas ações de infraestrutura para a consolidação do corredor rodoviário.