O uso das DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie), como ferramentas de avaliação da pecuária de corte causou uma verdadeira democratização no mercado de touros.
A DEP é expressa na unidade de medida original da característica em questão: kg, dias, g/dia, cm, cm2, mm, etc., tratandose, por exemplo, de peso corporal, idade ao primeiro parto, ganho médio diário de peso, perímetro escrotal, área de olho-do-lombo e espessura de gordura subcutânea, respectivamente, permitindo uma interpretação direta das diferenças entre animais.
Antes do cálculo das DEPs, os pecuaristas se baseavam no pedigree e em avaliações visuais para determinar quais eram seus melhores reprodutores. Claro que selecionadores experientes atingiam grande porcentagem de acertos, mas a comprovação só viria, em média, três anos depois da decisão, com o uso do animal e nova avaliação de suas crias. No entanto, o risco era grande, já que decisões incorretas com a utilização da genética refletem-se durante muitos anos na produção de uma fazenda.
Vários programas de melhoramento genético calculam DEPs de seus reprodutores e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) oferece a chancela do CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção) para os programas bem embasados em princípios científicos e com verdadeiro progresso genético. Por isso, animais com CEIP possuem as mesmas vantagens de animais registrados em associações de raça, como isenção fiscal e acesso a financiamentos. Além da garantia que o produtor realmente só comercializa até os 30% melhores animais de cada safra.
Programas de melhoramento genético bovino
É importante lembrar que não é possível comparar DEPs calculadas por programas de seleção diferentes, já que as bases genéticas das avaliações não são as mesmas. Para exemplificar, se analisarmos um touro com DEP de peso ao desmame de 12 kg, podemos dizer que, em média, seus filhos serão 12 kg mais pesados na desmama que um touro com DEP zero.
Confira um exemplo de tabela de sumário com as DEPs
As estimativas de valor genético das características avaliadas são apresentadas na forma de DEPs (Diferença Esperada na Progênie), confira as mais comuns e de interesse econômico:
Peso ao nascer (PN)
Expressa em kg, a DEP PN é um importante preditor de facilidade no parto. Touros com altas DEPs para PN não são recomendados para novilhas com pequena abertura pélvica. A seleção para PN não deve ser conduzida para os extremos, pois as maiores taxas de sobrevivência perinatal são observadas quando os PNs estão próximos da média.
Dias para ganhar 160kg do nascimento a desmama (D160)
É um indicador da precocidade de crescimento em dias necessários para ganhar 160 kg do nascimento a desmama. A DEP D160, além de evitar a seleção direta para peso ao nascer, estabelece objetivos de seleção mais associados a conceitos de otimização, pois possibilita identificar touros com progênie mais uniforme e que atingem determinado peso na desmama o mais rápido possível. DEPs elevadas indicam touros que produzem as mesmas unidades de produto (bezerros desmamados com 190-200 kg) mais precocemente ou num menor período de tempo.
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Ganho de peso do nascimento a desmama (GND)
Expressa em kg, a DEP GND é um indicativo da capacidade do touro transmitir genes com efeito direto sobre a velocidade de crescimento do nascimento a desmama (205 dias) de sua progênie. DEPs elevadas geralmente são recomendadas para sistemas com boa disponibilidade de alimentos de qualidade.
Conformação, precocidade e musculatura (CPM)
Estas características são importantes para se obterem animais mais equilibrados e produtivos. São avaliadas através de escores visuais, por avaliadores treinados, com variação de um a cinco, na desmama (205 dias) e no sobreano (550 dias), sempre de forma relativa à média do grupo contemporâneo. Os escores mais altos indicam presença mais marcante da característica. DEPs de CPM elevadas são desejáveis para uma maior e mais eficiente produção de carne em sistemas de ciclo curto.
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A conformação (C) é influenciada pelo tamanho corporal (principalmente pelo comprimento) e pelo grau de musculosidade da carcaça do animal. Ao imaginar a carcaça do animal, o avaliador estima a quantidade de carne desta carcaça.
A precocidade de terminação (P) é uma característica muito importante, pois os criadores, ao venderem seus bois para o frigorífico, iniciam sempre por aqueles com melhor grau de acabamento. Os animais que demoram mais tempo para atingir um grau de acabamento adequado para comercialização aumentam os custos de produção. Na apreciação da precocidade avalia-se a capacidade do animal chegar a um grau mínimo de acabamento de carcaça com um peso vivo não elevado. Animais com maior precocidade de terminação apresentam depósitos de gordura principalmente na base da cauda e na virilha. Animais altos, esguios, com pouca profundidade e enxutos são mais tardios e, por isso, recebem as notas mais baixas para precocidade. É importante combinar as precocidades de crescimento (ganho de peso) e de terminação para produzir animais equilibrados e obter a mesma classe de novilho num menor período de tempo.
A musculatura (M) avalia o desenvolvimento da massa muscular como um todo, observando-se a paleta, o lombo, a garupa e, principalmente, o traseiro.
Prepúcio (UMBIGO)
Avalia-se o tamanho e formato do prepúcio, nos machos, e do umbigo, nas fêmeas. O prepúcio tem grande importância funcional, pois machos com prepúcio muito longo freqüentemente sofrem lesões causadas pela vegetação, o que pode comprometer seriamente o desempenho reprodutivo. Esta característica também é avaliada através de notas de 1 a 5, sendo que as notas mais altas são atribuídas a animais com prepúcios maiores ou pendulares.
Habilidade Materna para GND (HM)
As diferenças no desenvolvimento dos bezerros são influenciadas pelas diferenças no potencial de crescimento próprio (direto) e habilidade materna das mães, sendo estas fortemente determinadas pelas variações na produção de leite. Ao particionar o GND nos componentes direto e materno, obtém-se a DEP HM. A DEP HM é um indicador da capacidade do touro transmitir às suas filhas genes relacionados à habilidade materna, que resultarão em efeito sobre a característica GND de seus netos.
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Dias para ganhar 400kg do nascimento ao sobreano (D400)
É um indicador da precocidade de crescimento em dias necessários para ganhar 400 kg do nascimento ao sobreano. A DEP D400 é obtida somando-se as DEPs D160 e D240 (dias necessários para ganhar 240 kg pós-desmama). A DEP D400 possibilita identificar touros com progênie mais uniforme e que atinge o ponto de comercialização rapidamente. DEPs elevadas indicam touros que produzem as mesmas quantidades de produto (novilhos acabados com 430-440 kg) num menor período de tempo.
Ganho de peso do nascimento ao sobreano (GNS)
Expressa em kg, a DEP GNS indica o potencial genético do touro em transmitir à sua progênie genes com efeito direto sobre a velocidade de crescimento, do nascimento ao sobreano (550 dias). A DEP GNS é obtida somando-se as DEPs de ganho de peso do nascimento a desmama e ganho de peso pós-demama. DEPs elevadas geralmente são desejáveis para sistemas com boa disponibilidade de alimentos de qualidade.
Perímetro Escrotal ao Sobreano (PE/I e PE/IP)
Expressa em cm, a DEP para perímetro escrotal ao sobreano é um indicador de precocidade sexual. Por ser uma medida corporal associada ao peso dos animais, as DEPs de perímetro escrotal foram estimadas de duas formas: ajustando-se apenas para idade (PE/I) e ajustando-se para idade e peso (PE/IP).
O perímetro escrotal é de grande importância nos programas de melhoramento genético do Nelore, pois touros com DEPs elevadas para esta característica tendem a produzir filhos e filhas mais precoces sexualmente.
Idade ao primeiro parto (IPP)
Expressa em dias, a DEP IPP é indicadora da precocidade sexual das filhas do touro e está fortemente relacionada à eficiência, rentabilidade e competitividade do rebanho. As DEPs dos touros foram avaliadas através da performance reprodutiva de suas filhas. DEPs negativas são desejáveis.
Retorno Maternal (RMat)
Retorno Maternal é um índice bio-econômico que visa identificar vacas com maior eficiência produtiva, e os touros que produzem estas vacas. Os componentes contemplados no cálculo do RMat são: precocidade sexual, permanência produtiva e custo estimado de mantença da vaca, e desempenho de seus bezerros. O RMat é uma estimativa do retorno por vaca em kg de peso vivo produzido ao ano, descontado o custo estimado de mantença. O retorno estimado é avaliado não apenas quanto ao peso, mas também quanto à composição deste peso, uma vez que as DEPs das características conformação, precocidade e musculatura são contemplados no cálculo do índice. Touros com maiores valores de DEP RMat são desejáveis pois tendem a produzir filhas com menor idade ao 1º parto, maior permanência produtiva no rebanho, menor custo de mantença, e que produzem bezerros com maior ganho de peso e melhor composição da carcaça em termos de conformação, precocidade e musculatura.
Altura no sobreano
Esta característica é avaliada no sobreano. A medida é tomada em centímetros, na garupa dos animais. A altura é um indicador de tamanho corporal. Por isso, ela pode contribuir na seleção de animais com tamanho adequado ao sistema de produção e ao mercado particular de cada criador.
Duração da gestação
A duração da gestação representa o número de dias entre a concepção e o nascimento. Vacas com menor período de gestação têm mais tempo para se recuperar após o parto e, conseqüentemente, melhorar sua eficiência reprodutiva. Menores períodos de gestação estão associados com baixos pesos ao nascer e menor dificuldade de parto. Touros com DEPs baixas ou negativas têm maior potencial para gerar filhas com menor período de gestação do que touros com DEPs elevadas.
Caracterização Racial
A caracterização racial é avaliada através de escores com variação de 1 a 5, no sobreano. Todos os itens previstos nos padrões raciais, definidos pelas respectivas associações de raça, são considerados. Touros com DEPs mais elevadas tendem a produzir progênie com características mais próximas dos padrões raciais.
Peso adulto e alturas das vacas
Estas duas características estão diretamente relacionadas com o custo de mantença dos animais. Ao considerar as DEPs dos touros para peso adulto e altura das vacas, o produtor deve ter em mente que vacas de peso e tamanho moderados são mais eficientes em ambientes desafiadores, como aqueles fornecidos pelos sistemas de produção predominantes no Brasil. Em ambientes com baixa disponibilidade de nutrientes, a utilização de vacas com pesos adultos elevados resultará em menor precocidade (sexual e de acabamento) e redução da fertilidade e eficiência produtiva.
O touro ideal para trabalhar nos rebanhos brasileiros deve reunir todas estas características, isto é, avaliação genética, CEIP e ser oriundo de um programa de seleção adequado aos seus objetivos, que leva em consideração tanto características de peso e carcaça quanto de reprodução.
Na hora da escolha, o pecuarista também precisa conhecer seu mercado e definir que tipo de animal oferecerá à sua região. É necessário, ainda, conhecer o seu rebanho de vacas e identificar as características que precisam de intervenção para melhoria.
Material retirada do Sumário Aliança