Os agricultores na França estão promovendo uma ampla campanha contra o que consideram “concorrência desleal”, buscando proteção contra a entrada de produtos importados.
A França é um dos maiores produtores agrícolas da Europa, mas nos últimos anos os agricultores na França vêm enfrentando uma série de desafios que ameaçam sua sobrevivência. Baixos preços, concorrência internacional, mudanças climáticas, restrições ambientais e pressão social são alguns dos fatores que geram insatisfação e revolta no setor.
Em oposição à política ambiental da União Europeia e ao governo nacional, os agricultores franceses estão realizando manifestações, bloqueando estradas próximas a Paris com caminhões, tratores e blocos de feno. Há também ameaças de interrupção do fornecimento de alimentos na capital. O movimento recebe apoio de produtores de diversos países, incluindo Alemanha, Itália, Bélgica, Polônia, Romênia e Lituânia.
Principais razões por trás da revolta no setor rural europeu
Aumento dos custos dos combustíveis
O ponto de partida para esse movimento foi o aumento do imposto sobre o diesel, uma medida voltada para reduzir o uso de combustíveis fósseis e atender às metas ambientais da União Europeia. No entanto, essa ação resultou no aumento dos custos de produção, deixando os produtores em uma situação difícil. Nas propriedades rurais, não há um substituto viável para o diesel.
Redução das emissões na agricultura
Na batalha entre ambientalistas e ruralistas dentro das instituições da União Europeia, o setor agrícola está perdendo espaço continuamente. Em Bruxelas, são os ambientalistas que ditam as regras, implementando leis que obrigam os produtores a diminuir o uso de fertilizantes nitrogenados, pesticidas, antibióticos e até mesmo água. A meta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, substituindo insumos químicos por orgânicos ou biológicos. No entanto, os resultados frequentemente resultam na queda da produtividade e no aumento dos custos.
Combate à concorrência desleal
Neste cenário, os produtores estão pleiteando a redução das importações de alimentos na Europa, afetando diretamente países como Brasil e Ucrânia. Devido à guerra com a Rússia, a Ucrânia enfrentou dificuldades em escoar sua produção pelo Mar Negro e fez um acordo com a União Europeia para enviar seus grãos para o continente europeu, gerando indignação entre os produtores da Polônia e da Romênia.
O Brasil
No entanto, o principal foco dos agricultores franceses é o Brasil, que é o principal fornecedor de produtos agropecuários para a Europa, totalizando US$ 25 bilhões em 2022, superando os Estados Unidos com US$ 20 bilhões. A União Europeia ocupa a posição de segundo maior importador mundial de produtos do agronegócio, ficando atrás apenas da China.
Os agricultores franceses estão promovendo uma ampla campanha contra o que consideram “concorrência desleal”, buscando proteção contra a entrada de produtos importados. Essa narrativa é recorrente desde a criação da PAC (Política Agrícola Comum) pela então Comunidade Europeia no final dos anos 1950. Uma onda de notícias falsas tem se intensificado, alegando que o Brasil utiliza hormônios na produção de frangos e pesticidas proibidos na Europa.
Outra crítica ao Brasil envolve a comparação das legislações ambientais. Argumenta-se que as normas europeias são mais rígidas, exigindo a manutenção de 4% das terras em descanso (pousio) para revitalização do solo. No entanto, no Brasil, o Código Florestal estabelece regras mais rigorosas, exigindo 20% de reserva legal no Sul e Sudeste, 35% nos Cerrados da Amazônia Legal e 80% no bioma Amazônico.
É relevante observar que os subsídios agrícolas permanecem elevados na Europa, com orçamentos significativos. A diferença é que agora estão direcionados para apoiar práticas agrícolas sustentáveis, como agricultura ecológica, orgânica, preservação das paisagens rurais, produção local e redução do uso de insumos. Contudo, a “verdificação” da PAC tem custos elevados e impacta negativamente a produtividade das fazendas.
Quanto ao acordo União Europeia-Mercosul, se já estava fadado ao fracasso, agora parece estar definitivamente encerrado. Os produtores rurais franceses, historicamente organizados e politicamente influentes, destacam o “orgulho rural” como parte das tradições do país, que abrange mais de 30.000 municípios.
A população urbana tem grande apreço pela vida no campo, frequentemente visitando vilarejos rurais para adquirir produtos como queijos, vinhos, mel e outros alimentos. O destaque vai para a maior feira agrícola da França, realizada anualmente no Paris Expo Porte de Versailles, situado no coração de Paris. Esse evento representa um momento de união e confraternização entre a cidade e o campo.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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