A absorção de carbono acontece inicialmente pela parte aérea da planta, mas são as raízes que fazem a interação com as camadas mais profundas do solo
Um menor volume de emissões de dióxido de carbono (CO2) na produção brasileira de soja, a partir de práticas consideradas conservacionistas, foi constatado através de dados do programa Pró-Carbono, realizado pela multinacional Bayer – em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Verificou-se uma emissão média de 783 quilos de dióxido de carbono equivalente por tonelada (kg CO2 eq/t), depois da avaliação do histórico produtivo das safras de 2017 a 2021 em talhões de oito propriedades. O número é inferior aos cerca de 2.700 kg CO2 eq/t emitidos em outros projetos administrados pela própria Embrapa e mais baixo ainda se comparado com a produção do grão em regiões de clima temperado.
Analisando globalmente, em um cenário que emitir menos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera se tornou prioridade, os resultados – ainda que baseados em uma amostra – indicam que o Brasil está em uma posição favorável em comparação com outros países produtores de soja. A vantagem, de acordo com os pesquisadores, estaria exatamente no fato da produção brasileira ser feita em clima tropical.
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Capazes de até três safras por ano, os solos brasileiros conseguem reter mais carbono, desde que o manejo das lavouras seja feito de forma correta. Sistema de Plantio Direto, rotação de cultura e uso racional de insumos, como adubação nitrogenada apenas quando necessário, são algumas das práticas citadas pela pesquisadora Marília Folegatti, da Embrapa Meio Ambiente, como meios de reduzir a emissão de CO2 ao longo das safras.
Ainda segundo Marília Folegatti: “a pior mudança do uso da terra é substituir uma vegetação natural por uma cultura anual mal manejada”. Por isso, ela diz, a monocultura tende a mostrar baixa capacidade de absorção do CO2. O oposto é verdadeiro. “Quanto mais complexos forem os sistemas, como a rotação genuína das culturas ou ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), maior a capacidade de emitir menos e sequestrar mais carbono”.
A absorção de carbono acontece inicialmente pela parte aérea da planta, mas são as raízes que fazem a interação com as camadas mais profundas do solo e realizam as trocas de nutrientes. Participante do programa Pró Carbono, a produtora Lia Helena Katzur, de Jataí (GO), é enfática: “Percebi que eu tenho que produzir raiz”. Com um talhão da Fazenda Itapiranga há três safras sob as orientações de Bayer e Embrapa, Lia conta que acompanha os índices de emissão de carbono com satisfação. Segundo ele, além da questão ambiental, há o ganho de produtividade. Na área incluída na pesquisa, o rendimento médio cresceu três sacas a cada ano.
Ela admite que já havia construído o perfil de solo dos 800 hectares produtivos há 12 anos e que algumas práticas conservacionistas já eram adotadas. Outras, no entanto, foram instruções do programa, que já foram estendidas a outros talhões da propriedade.