No Brasil, um aumento considerável dos custos de produção de leite, associado ao período de entressafra resultaram numa inflação de lácteos.
O ano de 2022 foi marcado por acontecimentos que impactaram a cadeia do leite do Brasil. O ano teve início com redução dos efeitos da pandemia: taxas de vacinação crescentes, redução de casos e mortes por Covid 19 e retomada da economia. Mas, logo em março, o início da guerra entre Rússia e Ucrânia abalou as economias do mundo todo.
Por serem grandes fornecedores globais de insumos (grãos, fertilizantes e petróleo), a guerra provocou uma crise energética mundial trazendo, dentre outras consequências, uma inflação de custos de um modo geral. No Brasil, um aumento considerável dos custos de produção de leite, associado ao período de entressafra resultaram numa inflação de lácteos que retraiu o seu consumo. No segundo semestre, o cenário político gerou volatilidade cambial e aumentou o nível de incertezas. E a possibilidade de uma recessão mundial aumentou a insegurança nos mercados.
Com tudo isso, o cenário para o setor lácteo neste final do ano ainda se apresenta complicado. Os preços no atacado têm registrado quedas significativas. O litro do leite UHT foi cotado a R$ 3,82 em 12 de dezembro (queda de 40,5% desde final de julho/22) e o quilo do queijo muçarela chegou a R$ 28,27 (queda de 34,8% desde final de julho/22). Já o leite spot em Minas Gerais está cotado em R$ 2,34, um recuo de 43% ante julho. Com tudo isso, o preço do leite ao produtor, que durante grande parte do ano permaneceu acima dos patamares históricos (R$ 2,12), chegando ao pico de R$ 3,53, agora está próximo do valor pago em novembro de 2020 (R$ 2,70).
As importações de lácteos nos 11 meses de 2022 foram 21,5% maiores em comparação a 2021. Já as exportações do setor apresentaram queda de 11,4% no mesmo período.
A notícia mais positiva refere-se a uma desaceleração do custo de produção, medido pelo ICPLeite da Embrapa, que apresentou queda de 1,7% em novembro, influenciado principalmente pelo recuo de 4,5% no custo do concentrado. Essa foi a terceira queda consecutiva no ICPLeite.
As estimativas do quarto trimestre do ano indicam que a produção de leite parece ter se recuperado, mantendo-se semelhante à oferta de leite do mesmo período em 2021. Após 4 anos de altas consecutivas na produção leiteira, o setor apresenta 2 anos de quedas significativas. Para 2022, estima-se recuo de 4,4% na produção formal, atingindo uma oferta de 23,9 bilhões de litros.
A estimativa da Embrapa é que o consumo aparente de leite no Brasil tenha caído para 163 litros/habitante, retomando a quantidade consumida em 2010, impactado por um nível menor na renda da população, além de perda de poder de compra devido a taxas mais a altas na inflação nos primeiros meses de 2022. Apesar disso, quedas nos índices da inflação e do desemprego ao longo do segundo semestre, foram fatores favoráveis ao cenário de vendas de lácteos.
De acordo com a Scanntech, em termos de vendas de alimentos, o mês de novembro foi o segundo melhor mês do ano, perdendo apenas para o mês de abril que foi impulsionado pela Páscoa. Na comparação com o ano passado, o valor de vendas de alimentos está 11% maior. Esse resultado pode ter sido impulsionado também pela ampliação do Auxílio Brasil e Copa do Mundo.
O mês de dezembro é, historicamente, um período de incremento nas vendas de alimentos por conta das festas de fim de ano. Esse ano, o pagamento do 13º. salário deve injetar na economia cerca de R$ 251,6 bilhões de reais, o que equivale a 6% a mais do valor de 2021, já descontada a inflação. De acordo com a CNC, há a expectativa de que os brasileiros priorizem o pagamento de dívidas.
Mas, os supermercados devem ser os maiores impactados, recebendo cerca de R$ 15,55 bilhões. Nos produtos lácteos que estão incluídos nas cestas de produtos que apresentam grande incremento de vendas com o Natal, tem-se o leite condensado e o creme de leite. Para este ano, estima-se crescimento de 32% nas vendas de leite condensado e 31% para creme de leite em relação à média de venda do ano.
Em termos de tendências de mercado para o próximo ano, o setor deve se atentar para 3 macrotendências: saudabilidade, sustentabilidade e influenciabilidade. Nas duas primeiras, os produtos lácteos estão em desvantagem visto que está havendo uma migração de hábitos de consumo da fauna para a flora, em busca de maiores benefícios para a saúde e menores impactos para o meio ambiente.
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Já a macrotendência influenciabilidade refere-se ao impacto que os influencers e as redes sociais estão tendo na criação de novos hábitos de consumo. Isso indica que o setor deve estar mais atento e investir mais neste tipo de mídia.
Fonte: Embrapa Gado de Leite
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