El Niño: os eventos extremos mais danosos do último ano

O fenômeno El niño que se aproxima do seu término foi responsável por provocar uma série de eventos climáticos extremos, incluindo inundações, secas e incêndios florestais em várias regiões do globo

Enfraquecido e próximo do fim, o El Niño 2023/24 é considerado um dos cinco mais intensos já registrados no mundo, conforme informações da Organização Meteorológica Mundial (WMO). Em um boletim divulgado no primeiro trimestre deste ano, a agência americana destacou que o fenômeno provocou um aumento de 2 °C na temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico, em comparação com a média histórica.

Ludmila Bardin Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima, explicou: “Ele atingiu níveis de um El Niño forte, ao contrário do ocorrido entre 2015 e 2016, quando tivemos um Super El Niño. Mesmo assim, os efeitos foram mais intensos ou complicados desta vez, devido à combinação do fenômeno com outros fatores.”

O El Niño foi um fator crucial para as temperaturas recordes no planeta, com 2023 sendo o ano mais quente já registrado. Além disso, houve um aumento na frequência de eventos climáticos extremos em todo o mundo. Vamos relembrar os eventos mais danosos do último ano.

Relembre os eventos extremos influenciados pelo El Niño em 2023 — Foto: Maurício Tonetto / SECOM

Chuvas extremas

Recentemente, os brasileiros enfrentaram um evento impactante: as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024. O excesso de chuvas foi resultado de uma conjunção de fatores complexos. Uma onda de calor nas regiões Centro-Oeste e Sudeste impediu o avanço das frentes frias, enquanto uma massa de ar seco empurrou a umidade da Amazônia diretamente para o Sul, deixando a região suscetível a áreas de instabilidade.

De acordo com um estudo recente da World Weather Attribution (WWA), o evento, raro e estimado a ocorrer a cada 100 a 250 anos no clima atual, dificilmente ocorreria em um cenário sem aquecimento global. A pesquisa revelou que a combinação das mudanças climáticas e do El Niño dobrou o risco de ocorrência de chuvas extremas, resultando em um aumento de 6% a 9% na intensidade das precipitações no Sul do Brasil.

El Niño: os eventos extremos mais danosos do último ano
Registro da enchente em Candelária (RS) — Foto: Prefeitura de Candelária/divulgação

As consequências foram devastadoras: as inundações causaram 172 mortes no Rio Grande do Sul e afetaram 2,3 milhões de pessoas. Na agropecuária, os prejuízos aproximaram-se de R$ 3 bilhões, com perdas significativas em culturas como soja, arroz, milho e feijão, segundo estimativas preliminares da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).

Essa não foi a primeira vez que o Estado enfrentou desafios climáticos. Em 2023, chuvas intensas já haviam causado estragos. Um ciclone extratropical em setembro e chuvas fortes acompanhadas por granizo e ventos em novembro prejudicaram lavouras e provocaram danos na infraestrutura e na pecuária, resultando em prejuízos bilionários para o agronegócio.

El Niño: os eventos extremos mais danosos do último ano
Satélite mostra impacto de ciclone no Rio Grande do Sul em 2023 — Foto: Planet/SCCON do Programa Brasil Mais/Divulgação

Além do Brasil, outros países também foram afetados por eventos climáticos extremos. No Afeganistão, inundações em maio de 2024 resultaram na perda de mais de 350 vidas e na destruição de milhares de casas. Na Ásia, o Sri Lanka enfrentou enchentes e deslizamentos de terra, enquanto na Europa, moradores do sul da Alemanha enfrentaram chuvas incessantes, especialmente na Baviera e em Baden-Wuerttemberg.

Onda de calor

Durante a vigência do El Niño no Brasil, as ondas de calor foram uma ocorrência predominante. Apenas no primeiro semestre de 2024, o país enfrentou quatro dessas ondas. Na mais recente, encerrada em maio, as temperaturas dispararam, especialmente nos estados do Sudeste e Centro-Oeste, com os termômetros ultrapassando os 35°C.

Essa situação já se repetira em 2023, levando a Organização Meteorológica Mundial a designar o ano anterior como o mais quente já registrado no país. A média das temperaturas atingiu 24,92°C, superando em 0,69°C a média observada entre 1991 e 2020, que foi de 24,23°C.

El Niño: os eventos extremos mais danosos do último ano
Em 2023, a Amazônia enfrentou sua maior seca em 40 anos — Foto: Yan Boechat

Segundo Ludmila Camparotto, especialista entrevistada pela Globo Rural, “O El Niño tende a aumentar as temperaturas na região central do país, como de fato ocorreu.”

No cenário internacional, em 29 de maio, os termômetros registraram 52,9°C em Nova Délhi, Índia. O calor intenso também assolou o México, onde mais de 50 pessoas perderam a vida nos últimos dois meses devido ao aumento das temperaturas.

Seca

As altas temperaturas desencadearam uma seca histórica na Amazônia, considerada a mais severa em quatro décadas. Mais de 500 mil pessoas, oriundas de oito Estados da região, foram afetadas pela estiagem, que teve consequências devastadoras para a fauna, flora e economia local.

A escassez de chuvas resultou na morte de peixes e botos ameaçados de extinção, além de comprometer a qualidade do solo em áreas destinadas à agricultura e pecuária em aproximadamente 80 municípios do Amazonas e 144 do Pará. O baixo nível dos rios também interrompeu o tráfego de navios, elevando os custos das rotas comerciais na região Norte do Brasil.

Embora o El Niño tenha contribuído para a redução do volume de chuvas na região, um levantamento da WWA revelou que a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e outras atividades humanas agravaram significativamente a estiagem.

Queimadas

O clima seco na Amazônia acarretou em diversos problemas, incluindo um aumento alarmante nas queimadas, conforme revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No final de outubro de 2023, os pesquisadores identificaram 72.809 focos de incêndio na Amazônia, representando um aumento de 7% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

El Niño: os eventos extremos mais danosos do último ano
Estado americano do Texas enfrentou neste ano o maior incêndio florestal de sua história — Foto: Getty Images

Além disso, entre fevereiro e março de 2024, o Texas, nos Estados Unidos, enfrentou o maior incêndio florestal de sua história. Impulsionadas por ventos fortes e temperaturas elevadas, as chamas devastaram aproximadamente 400 mil hectares em apenas duas semanas, resultando na destruição de residências e propriedades rurais. Sid Miller, comissário agrícola do Estado, estimou a perda de mais de 10 mil animais.

Onda de frio

Enquanto os brasileiros enfrentavam as altas temperaturas em janeiro, os americanos lidavam com uma onda de frio extrema. Em algumas áreas dos EUA, os termômetros despencaram para quase -40°C.

O frio intenso teve um impacto significativo nas atividades agropecuárias. Em Alachua, na Flórida, plantações de tomate, banana e brócolis foram danificadas ou completamente destruídas.

Com as temperaturas baixas, os animais procuraram abrigo em locais quentes. Um caso incomum que se tornou viral nas redes sociais foi o resgate de uma vaca que havia caído em um lago congelado.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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