Clima 2024: El Niño terá fim e projeções apontam possível La Niña

Estamos experimentando o auge da fase intensa do El Niño em 2023! Daqui em diante, ele entrará em um período de enfraquecimento, alcançando a neutralidade durante o próximo outono.

A fase positiva do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), conhecida como El Niño, permanece ativa e intensa sobre a região do Oceano Pacífico Tropical. Após seis meses de contínuo fortalecimento, o El Niño atingiu seu pico máximo de intensidade e em breve começará a perder força, gerando especulações sobre o momento de seu término.

Este evento específico de El Niño ficará registrado nos anais como um dos cinco mais robustos de toda a história, conforme os registros disponíveis. Contudo, é importante salientar que sua magnitude não o classifica como um “Super Niño”. De acordo com a última atualização da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, em inglês), todas as áreas de monitoramento do El Niño apresentaram Temperatura da Superfície do Mar (TSM) significativamente acima da média na última semana.

As anomalias térmicas registradas destacam-se em diferentes regiões, com a área Niño 4, localizada mais a oeste, apresentando uma anomalia de +1.4°C. A região oficial de diagnóstico do ENOS, Niño 3.4, registrou uma anomalia de +2°C, enquanto o Niño 3 alcançou o maior valor, com uma anomalia de +2.1°C, e o Niño 1+2, próximo à costa da América do Sul, apresentou +1.5°C. A marca de +2°C de anomalia na região do Niño 3.4 categoriza o atual evento como um El Niño de intensidade considerável.

É relevante observar que a região de máxima anomalia de TSM passou por alterações ao longo dos últimos meses. Inicialmente, em março deste ano, a região do Niño 1+2 experimentou um aquecimento rápido, atingindo valores máximos de +3.5°C entre julho e agosto, enquanto as demais regiões aqueciam gradualmente. A partir de setembro, as anomalias do Niño 1+2 começaram a enfraquecer, enquanto as demais áreas continuaram aquecendo. Essa dinâmica evidencia um deslocamento para oeste da região de máxima anomalia de TSM, alterando a aparência do El Niño ao longo do tempo.

A certificação oficial do fenômeno El Niño ocorre quando são registradas anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) iguais ou superiores a +0.5°C na região do Niño 3.4, por um período mínimo de cinco trimestres móveis consecutivos.

As observações atuais sugerem que o El Niño não experimentará uma intensificação significativa, mantendo as anomalias em torno de +2°C, permanecendo assim na categoria de El Niño forte. Esses valores de anomalia têm se mantido nos últimos dias, apresentando até uma leve tendência de diminuição, ainda que muito sutil. Dessa forma, embora este El Niño não alcance a classificação de Super El Niño, ele conquistará um lugar entre os cinco mais fortes, situando-se junto aos eventos de 1972/73 (+2.1 °C), 1982/83 (+2.2 °C), 1997/98 (+2.4 °C) e 2015/16 (+2.6 °C), conforme relatório da NOAA.

Ao examinarmos as temperaturas nas camadas mais profundas do Pacífico Tropical, notamos uma área anormalmente aquecida na porção central e leste, até 100 metros de profundidade. Contudo, a partir do final de novembro, uma massa de águas mais frias começou a ganhar destaque na porção oeste do Pacífico Tropical, em níveis mais profundos, avançando para leste na última semana. A expectativa é que essa região de águas mais frias se misture com as áreas mais quentes na porção central/leste nas próximas semanas, resultando no enfraquecimento das anomalias positivas de TSM.

Consequentemente, as projeções dos modelos já apontam para o enfraquecimento do El Niño nos próximos meses, com uma alta probabilidade de o evento se encerrar no mês de abril de 2024.

Olhando outros padrões oceânicos além do El Niño

Como abordado em textos anteriores, diversos padrões oceânicos significativos, em conjunto com o El Niño, têm modificado os padrões climáticos em diversas regiões do globo. Um destes padrões é a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico, que atingiu seu pico de intensidade máxima em outubro e agora está gradativamente enfraquecendo, podendo retornar à fase neutra no início de 2024. Dessa forma, não antecipamos uma influência expressiva desse padrão nos meses de verão.

As notáveis anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) que abrangem extensas áreas do Atlântico Norte têm sido o foco principal nos últimos meses, desempenhando um papel crucial na temporada de furacões mais ativa que o usual neste ano. Em conjunto com o El Niño, o Atlântico Norte mais aquecido tem desfavorecido a ocorrência de chuvas na porção norte do Brasil, agravando as condições de seca na região amazônica.

Embora o El Niño esteja prestes a perder força nos próximos meses, continuará exercendo impacto no clima global, juntamente com o Atlântico Norte, que permanecerá significativamente mais quente que o normal no início de 2024. As previsões indicam a manutenção dessas águas aquecidas no Atlântico Norte durante o primeiro trimestre de 2024. A porção tropical do Atlântico Sul também apresentará temperaturas mais elevadas que a média, embora não tão acentuadas quanto na porção norte. Além disso, todo o oceano Índico deverá conservar temperaturas acima do normal ao longo dos próximos três meses.

Com o término do El Niño, surge a indagação sobre o que podemos esperar a seguir. Haverá o advento de outra La Niña? Segundo as previsões, as anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), que caracterizam o El Niño no Pacífico Tropical, deverão permanecer acima da média pelo menos até o trimestre de fevereiro, março e abril de 2024. Posteriormente, observaremos um enfraquecimento mais acentuado da porção leste para a oeste, iniciando a transição para a fase neutra do fenômeno ENOS.

As projeções probabilísticas da NOAA indicam uma maior probabilidade de transição para a fase neutra do ENOS no trimestre de abril, maio e junho de 2024. Essa probabilidade de fase neutra diminui nos trimestres subsequentes, à medida que aumenta a probabilidade de ocorrência de La Niña (44%), tornando-se praticamente igual à probabilidade de fase neutra no trimestre de julho, agosto e setembro. Isso levanta a questão: há a possibilidade de formação de uma La Niña no próximo ano? É ainda cedo para afirmar categoricamente, mas a chance existe, considerando que, no passado, houve ocasiões em que uma La Niña se manifestou logo após um El Niño intenso.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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