Entenda porque o gado não é culpado pelo efeito estufa

Animação criada por organização australiana mostra como, por meio do ciclo natural do carbono, o gado pode fazer parte da solução climática.

O Brasil anunciou durante a conferência do clima das Nações Unidas, a COP26, meta importante para frear as suas emissões: cortar em 50% as emissões de CO2 até 2030 e eliminar o desmatamento ilegal até 2018. O país também assinou o Compromisso Global de Metano, em que se compromete a reduzir 30% das emissões de metano até o final da década. Essa fixação em culpar o “pum do boi” pelo efeito estufa no planeta está alcançando níveis estratosféricos, a ponto de afirmar que para se produzir 1 quilo de carne bovina são liberados na atmosfera 2 toneladas de metano (CH4) e cerca de 50 kg de dióxido de carbono (CO2).

Ainda que a meta seja alcançada, a colaboração brasileira para a melhoria climática será modesta: o país responde por 2,9% dos gases de efeito estufa.

O Maurício Palma Nogueira, sócio diretor na Athenagro, satirizou a afirmação criando uma nova raça de bovinos no Brasil. A nova raça de gado, capaz de emitir 2 toneladas de metano em apenas 1 kg de carne produzida, pode chegar a 37 toneladas de peso vivo no momento do abate. ISso tudo aos 36 meses de idade.

conheca a nova raca de bovinos gigantes
Fonte: Athenagro

Estudos conduzidos pela Embrapa comprovaram que o uso de tecnologias sustentáveis na Agricultura é capaz de gerar economia de terras de cultivo da ordem de milhões de hectares. Somente no caso da soja, o uso dessas tecnologias, que incluem sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, uso de bioinsumos incluindo controle biológico de pragas, entre várias outras, foi capaz de gerar uma economia de 71 milhões de hectares de áreas plantadas, o que corresponde à soma dos territórios de Irlanda e França.

As tecnologias poupa-terra são aquelas adotadas pelo setor produtivo, de baixo ou alto custo, que permitem incrementos sustentáveis na produção total em uma mesma área e, graças ao seu uso, evita-se a abertura de novas áreas para produção agropecuária. Práticas conservacionistas, como o plantio direto, o manejo e a conservação do solo e dos recursos hídricos, podem ser caracterizadas como práticas poupa-terra, uma vez que aumentam a produtividade de modo sustentável.

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Poder 360

Entre as principais tecnologias poupa-terra já consolidadas no Brasil, estão os sistemas ILPF, que integram lavoura, pecuária e floresta em uma mesma área. Esses modelos integrados podem utilizar cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de modo que haja benefício mútuo para todas as atividades. Em 2015, eles ocupavam uma área de aproximadamente 11 milhões de hectares no Brasil. Em 2021, esse número saltou para 17 milhões.

Os sistemas ILPF aliam produtividade e benefícios ambientais, especialmente para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

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Fotos Wenderson Araujo

O pum da vaca é vilão?

Uma organização não governamental australiana chamada Good Meat, produziu um vídeo auto-explicativo mostrando que a pecuária não é a causadora do efeito estufa no planeta, e sim, o consumo de combustíveis fósseis. A animação abaixo mostra como o impacto ambiental das emissões de metano das vacas é fundamentalmente diferente do dióxido de carbono dos combustíveis fósseis.

Como a pecuária pode ser parte da solução climática?

Todos nós sabemos que vacas (e outros ruminantes como ovelhas) emitem metano, mas esse metano faz parte de um ciclo natural ou biogênico do carbono, onde o metano se decompõe em dióxido de carbono (CO2) e água. A grama então absorve o CO2 por meio da fotossíntese, as vacas comem a grama e o ciclo continua.

O CO2 da queima de combustível fóssil, por outro lado, permanece na atmosfera por potencialmente 1.000 anos

Na Austrália, as emissões de metano da Agricultura estão caindo. Na verdade, a indústria de carne bovina australiana reduziu as emissões de GEE em mais da metade desde 2005. Com investimentos em práticas e tecnologias inovadoras de redução de emissões, a indústria de carne vermelha e pecuária será neutra em carbono até 2030 e desempenhará um papel fundamental na solução climática.

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