“Do topo ao fundo do poço”, veja onde vai parar a arroba

O mercado do boi gordo viveu “momentos de glória” com preços da arroba indo as alturas, mas a dependência externa acabou trazendo um cenário obscuro para o pecuarista!

A semana encerrou com o boi gordo atingindo um dos piores patamares de preços para a arroba nos últimos doze meses. Segundo o levantamento, após acumular uma semana de pressão negativa nas ofertas, o recuo na cotação já acumula uma variação negativa de 10,77%. Sendo assim, após viver momentos de glória, com preços atingindo o topo do preço já negociado, a arroba foi ao fundo do poço e criando um cenário obscuro para o curto prazo. Afinal de contas, qual é o piso para o valor da matéria prima no campo?

Os pecuaristas, principalmente aqueles com bois no cocho, relatam a grande dificuldade na capacidade de retenção, uma vez que os custos de nutrição animal permanecem muito elevados, além das chuvas que voltaram e dificultam o manejo nos confinamentos e na transição dos pastos. Segundo algumas análises, alguns já acumulam um prejuízo de até R$ 1.200,00 por cabeça.

A queda drástica nas cotações foi noticiada no fechamento do Indicador do Cepea para o Boi Gordo, no dia 22, onde a média teve uma nova desvalorização com um recuo de -0,99%, firmando três quedas seguidas, atingindo o valor de R$ 260,20/@. Ainda segundo a instituição, o boi gordo acumula uma variação negativa de -10,77% no comparativo mensal.

O valor atingiu o menor preço do Indicador no ano, confira o gráfico abaixo. Ainda segundo os dados o preço em dólar segue nas mínimas do ano, fechando cotado a U$ 46,13/@, deixando o boi brasileiro como o mais barato do mundo. Entretanto, segundo alguns analistas, a alta dos preços do dólar podem ajudar a melhorar as margens das indústrias e, consequentemente, trazer melhores ofertas para arroba na próxima semana.

Segundo as informações do Balizador do GPB, os preços recuaram novamente e os preços mínimos atingiram o valor de R$ 260,00/@ com uma média de R$ 264,00/@, veja a imagem abaixo!

Para se ter uma ideia do baque que a China causou as exportações, até a terceira semana de outubro (10 dias úteis), o Brasil embarcou 45,69 mil toneladas de carne bovina in naturaA média diária exportada foi de 4,56 mil toneladas, o que representa uma queda de 44% em relação ao volume registrado em igual período do ano passado, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Os problemas com escoamento da produção de carne bovina no mercado interno (enfraquecido pela atual crise econômica), além dos desvios ao País de parte das mercadorias que seriam embarcadas à China, tem enfraquecido os preços internos dos cortes bovinos, justificam as consultorias.

Quais os possíveis cenários no curto prazo?

Cenário pessimista

Em um momento como o que vive a economia do país, muitas coisas podem impactar no consumo. Começando com as mudanças em relação ao lançamento do Programa do Governo, o Auxílio Brasil, que iria aumentar a renda para a população mais carente do país, acaba fazendo com que o mercado interno continue a patinar.

Além disso, o cenário de retorno das exportações para a China, nesse momento, não é visto por muitos analistas como algo fácil de se resolver. Sendo assim, o grande ponto aqui é qual será o impacto dessa maior oferta de carne bovina nos preços praticados aqui no país.

Sendo assim, os valores neste cenário, seriam de uma arroba cotada na praça paulista em um piso de R$ 245,00/@, com pagamento à vista e um mercado de R$ 250 a R$ 255,00/@ para o pagamento à prazo.

Cenário Otimista

Caso ocorra a retomada das exportações para a China, em um momento como esse vivido agora, o cenário pode alterar a demanda por animais para atender essa demanda. Unido a esse fator, o atual preço do dólar deixa a carne brasileira como a mais competitiva frente aos seus principais concorrentes, lembrando que o preço da arroba em dólar segue nas mínimas do ano, fechando cotado a U$ 46,13/@, deixando o boi brasileiro como o mais barato do mundo.

Outro ponto é o possível pagamento do Auxílio Brasil, no valor de R$ 400,00, o que deixaria a população capitalizada e, diante das recentes quedas de preço da carne no atacado, aumentaria o consumo e traria um rápido escoamento da carne, ajudando na demanda por matéria prima por parte dos frigoríficos.

Além disso, temos a chegada da primeira parcela do décimo terceiro, o que ajuda a movimentar a economia e deixa a população com um maior apetite pela carne bovina, situação que poderia impactar positivamente nas cotações da arroba.

Sendo assim, os valores neste cenário, seriam de uma arroba cotada na praça paulista em um piso de R$ 270,00/@, com pagamento à vista e um mercado de R$ 275 a R$ 280,00/@ para o pagamento à prazo.

Prejuízo atual é grande para o pecuarista que possui animais prontos para abate

Segundo o levantamento realizado com alguns pecuaristas, o prejuízo da manutenção dos animais no semiconfinamento e ou confinamento, já impactou negativamente na margem de lucro da atividade. Em alguns casos, são relatados prejuízos de até R$ 1.200,00 por cabeça.

Se fizermos um cálculo rápido, colocando um animal de 20@ que seria vendido pelo preço médio de R$ 300,00 por arroba, deixaria uma receita bruta de R$ 6.000,00. Com o atual recuo dos preços, com uma arroba hoje negociada a R$ 260,00 por cabeça, esse mesmo animal é vendido a R$ 5.200,00, ou seja, um prejuízo de R$ 800,00 levando em conta apenas o preço de venda.

Quando somado as diárias, custo fixo e demais despesas no período em que foi mantido esse animal na propriedade, o prejuízo é ainda maior. Diante desses fatores, os cenários são muitos e, a cada ano pecuário, fica nítida a importância da utilização de uma gestão de risco e um planejamento atrelado ao mercado futuro e ferramentas que ajudem a mitigar os impactos de mercado.

Não estamos, em momento algum, buscando dizer que o melhor neste momento é segurar ou vender desesperadamente a boiada. Os números precisam ser analisados caso a casso, dentro da realidade de cada propriedade e atrelado a um planejamento eficiente. As informações aqui contidas, trazem a realidade do mercado e os possíveis cenários para um mercado que vive na corda bamba.

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