Mato Grosso do Sul tem cerca de 21,5 milhões de cabeças de gado e quase 58 mil estabelecimentos rurais, segundo dados do Iagro.
O estande +Precoce, da 14ª Dinapec, reuniu pesquisadores, técnicos, estudantes, empresários e especialistas para discutir o aprimoramento da produção dos novilhos precoces no estado que tem o 4º maior rebanho bovino do país. Em Mato Grosso do Sul existem hoje cerca de 21,5 milhões de cabeças de gado e quase 58 mil estabelecimentos rurais, segundo dados da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro MS). Quem apresentou essas informações foi Rogério Beretta, superintendente de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), que abordou as características do Programa Precoce MS na primeira apresentação do estande.
Programa Precoce MS
O Precoce MS é um programa estadual de incentivo à produção no novilho precoce. Os produtores aprovados no programa recebem uma isenção do Imposto Sobre Circulação de Serviços e Mercadorias (ICMS) de 16% a 67% do valor total pago sobre os animais. As bonificações são concedidas com base em critérios que avaliam fatores como o processo produtivo e a tipificação da carcaça. Para se inscrever, o produtor rural precisa atender a critérios como estar com as obrigações fiscais, tributárias, sanitárias e trabalhistas da fazenda regulares, além de contratar um profissional de ciências agrárias para atuar como responsável pela propriedade.
“No ano de 2016, o índice de emissão de anotação de responsabilidade técnica (ART) aumentou em 375%”, diz o superintendente. “Dois anos após a implantação do programa, já abatemos mais de 1 milhão de cabeças. Classificamos 956 mil animais e desclassificamos 18 mil. O índice de homogeneização do rebanho é de 84%, representando a porcentagem que atingiu a classificação desejada pelo governo. Já foram pagos R$55 milhões para 1.6 mil estabelecimentos rurais”, descreve. Ainda segundo Beretta, o programa bonificou quase R$60 por cabeça em 2018. “Isso é muito importante, principalmente em anos em que temos os índices de rentabilidade de produção muito apertados”.
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Além do incentivo para a produção do novilho precoce, a Semagro deverá lançar planos de bonificação para a produção de carne orgânica e sustentável do Pantanal no estado.
Melhoramento genético da carcaça
Gilberto Menezes, pesquisador da Embrapa Pantanal, abordou também formas para melhorar o acabamento da carcaça apresentando a tese de doutorado intitulada “Efeito da raça paterna e do mérito genético para acabamento de carcaça sobre o desempenho e qualidade do novilho precoce”, de Thiago Luís de Araújo, da Universidade Federal do Ceará. “Buscamos atender a uma demanda clara da cadeia produtiva – carcaças com falta de acabamento, com falta de cobertura de gordura. Isso estava comprometendo as bonificações em animais Nelore ou meio sangue Angus-Nelore”, diz Gilberto. “Além do sabor da carne, essa gordura atua como uma proteção para a carcaça, principalmente contra o resfriamento de câmara fria dos frigoríficos, que pode levar à perda de qualidade da carne”.
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Uma alternativa para lidar com o problema, de acordo com o pesquisador, é o uso de touros com genética melhoradora para beneficiar o acabamento. Para escolher esses animais, ele sugere a análise dos sumários de touros, que descrevem e quantificam suas caraterísticas genéticas. Um touro com diferença esperada na progênie (DEP) positiva para acabamento de carcaça, por exemplo, deve gerar bezerros com maior espessura de gordura. Se a DEP para acabamento de um animal é de 1,5mm, seus filhos deverão ter 3mm a mais de gordura, em média (considerando que o touro provê metade do mérito genético do bezerro).
Ganho de peso na desmama
O pesquisador Rodrigo Gomes, da Embrapa Gado de Corte, discutiu uma técnica avaliada há dois anos pela equipe da unidade: o condicionamento da desmama, que envolve a suplementação nutricional estratégica para manter o ganho de peso nesse período. “Para abater um animal precoce de 2 anos, 2 anos e meio, ele precisa ter um crescimento contínuo – inclusive no primeiro período crítico que ocorre em função do stress da desmama, levando os animais a perderem peso, e a qualidade da pastagem na seca, que é baixa”.
Segundo Rodrigo, a meta recomendada na fase depois da desmama para produzir o novilho precoce é o ganho de peso de 200 a 300 gramas por dia. “Pensando nessa questão veio o conceito dessa técnica. O condicionamento é um misto entre uma suplementação proteica de baixo consumo e uma suplementação um pouco mais elevada, mais cara. Mas ao invés de utilizar essa última por toda a primeira seca do animal, utilizamos só no início desse período, logo depois da desmama”. O pesquisador explica que a técnica prevê o fornecimento de 1kg por cabeça/dia de uma ração palatável, proteica e energética por um período curto, que vai de 30 a 50 dias.
“Isso ajuda a dar um arranque nessa época. Depois, o animal entra no resto do período da seca com um suplemento de baixo consumo, que é mais barato e suficiente para fornecer a proteína que ele precisa para ganhar os 200 gramas/dia”. Em um experimento realizado de 2017 a 2018, a equipe comparou dois lotes e condicionou a desmama de um deles, que recebeu a ração proteica por 37 dias. Em junho de 2017, os animais dos lotes tinham o mesmo peso. Depois de 37 dias, os animais estavam 11kg mais pesados. O peso que ele ganhou no condicionamento se manteve durante a seca”.
Nutrição na reprodução bovina
O executivo de vendas externas da Connan, Frederico Nadaf Filgueiras, abordou a alimentação de matrizes em épocas reprodutivas. “Buscamos trabalhar desde a época fetal, no embrião, até o desmame e na idade do animal se reproduzir”, afirma Frederico. Para isso, ele conversou com os participantes da Dinapec 2019 sobre a importância do balanço genético para definir como alimentar os animais nesses períodos. “Em determinadas épocas do ano, a vaca não atende à sua demanda de energia com o que come; em outras, a energia sobra. Tentamos trabalhar com essa questão de forma estratégica”.
A produção de leite, cita o executivo, é um período em que o corpo do animal demanda muita energia. Ao trabalhar com estações de monta, é possível se programar para atender a essa necessidade e evitar a perda de peso. “Analisamos dois rebanhos de mil vacas: um deles foi alimentado só com sal mineral e capim. Outro recebeu um sal melhorado (…). O primeiro rebanho, com menos tecnologia, gastou R$79 mil para alimentar os animais em um ano. O outro gastou R$123 mil, mas produziu 10% a mais de bezerros. Assim, os dois faturaram R$670 mil e R$800 mil, respectivamente”. Para Frederico, melhorar a alimentação do rebanho depende de ações simples. “Quando o produtor escolhe fazer uma nutrição mais tecnológica, você não precisa ter tantas mudanças na fazenda. É o mesmo cocho”.
Nutrição animal
Em um estudo de caso implantado em uma fazenda de Nova Andradina (MS), especialistas da Embrapa avaliaram o desempenho e produtividade animal em pastagens safrinha dos capins Piatã e Paiaguás. O pesquisador Orcírio Fialho, da Embrapa Gado de Corte, mostrou alguns impactos registrados na economia da propriedade: o primeiro deles foi o aumento do ganho de peso vivo. Em 2014, a propriedade registrou ganhos de 166 kg de peso vivo por hectare. Em 2018, esse ganho subiu para cerca de 460 kg vivo/hectare. “Ou seja, um aumento de 300 kg de peso vivo. Muito dessa participação foi resultante do uso do pasto safrinha”.
Outro impacto foi a curva de crescimento dos animais, diz Orcírio, especialmente na recria. Em agosto/2017, os animais registraram 214 kg no pasto convencional e no safrinha. Ao longo da recria, esse peso passou para 341 kg no convencional e 406 kg no safrinha (em março/2018). “Ou seja, 65 kg a mais durante esse período resultante da alimentação no pasto safrinha quando comparado com o manejo tradicional. Esses animas recebiam 600 gr de suplemento proteico energético por cabeça/dia, independentemente do seu tamanho”. Os capins Piatã e Paiaguás atingiram taxas de proteína de até 19% e 15%, respectivamente, com produção de massa seca com cerca de 8 mil kg e 7 mil kg em 38 piquetes de 50 hectares.