Tecnologia avança no campo e agricultor já vê os benefícios na economia de recursos, segurança e precisão; mas acesso à conectividade ainda é desafio.
Drones sobrevoando lavouras, uso de inteligência artificial e dados, automação e máquinas agrícolas robotizadas. Esses são alguns dos símbolos da revolução digital que o Brasil vive na Agricultura 5.0. Eduardo Medeiros, agricultor de Guarapuava em Piraí do Sul, no interior do Paraná, acompanha de perto toda essa transformação desde a década de 1970, quando ainda trabalhava com crédito rural em uma instituição financeira.
“Quando eu comecei no campo, a maioria dos tratores ainda não tinha nem tração nas quatro rodas. Hoje evoluiu muito, tanto nos equipamentos, quanto na questão de solo e de meio ambiente”, destaca o agricultor.
Nas últimas quatro décadas, diversas tecnologias foram agregadas à produção de alimentos. Vale lembrar que em 1950 surgiram as primeiras máquinas para substituir o uso intensivo de mão de obra humana, e que a agricultura de precisão e a biotecnologia ficaram acessíveis somente na década de 1990.
As “modernidades” conquistaram de vez o paranaense, que na próxima safra irá testar a pulverização com drones. “Eu vou avaliar o custo, mas acho que vamos economizar o rastro do trator e no defensivo, além de trazer mais segurança na aplicação”, calcula Medeiros.
Capacitação e acesso
Para alcançar cada vez mais agricultores, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) irá construir um centro de formação rural no município de São Roque. O local deve abrigar startups e oferecer capacitação para pequenos e médios produtores, para que tenham mais acesso às tecnologias.
“Destaca-se a agricultura de precisão, que utiliza tecnologias como GPS, sensores e drones para monitorar e otimizar o uso de insumos, reduzindo o desperdício e minimizando o impacto ambiental”, ressalta Tirso Meirelles, presidente do Sistema FAESP/Senar-SP.
Desafio da conectividade
Apesar dos avanços, a conectividade segue sendo uma barreira para a ampliação tecnológica no meio rural. O paranaense Eduardo Medeiros conta que há uma dificuldade de integrar os equipamentos em tempo real por conta da falta de acesso e problemas de estabilidade com a internet.
Na fazenda, os dispositivos autônomos que guiam os tratores por GPS para plantar e pulverizar têm ligação direta por satélite. Entretanto, a dificuldade de conexão impede a instalação de sensores nas máquinas para acompanhar, simultaneamente, os talhões que estão sendo colhidos. “Existem muitos buracos para essa comunicação”, lamenta.
E esse não é um caso isolado. Segundo o Indicador de Conectividade Rural (ICR) da Associação Conectar Agro, feito em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), apenas 19% da área disponível para uso agrícola no Brasil tem cobertura 4G e 5G, equivalente a 35% dos imóveis rurais. O último Censo Agropecuário apontava para 28,19% dos estabelecimentos com acesso à internet.
O diretor administrativo da Conectar Agro, Renato Coutinho, ressalta que para aumentar a conectividade rural é preciso investimentos públicos e privados. “Em regiões como o Centro-Oeste e o Matopiba, a conectividade tem se viabilizado pelo investimento direto das empresas agrícolas ou dos próprios produtores, que reconhecem os benefícios em eficiência produtiva e retenção de mão de obra.”
Tokenização e os negócios na era digital
A gestão do campo também ganhou tecnologia. Um exemplo é a tokenização, um processo inovador que digitaliza a produção e facilita a comercialização. Basicamente, cada unidade de grão ou lote de grãos é representado por um token digital. Essa espécie de certificado virtual registrado carrega informações sobre a origem, qualidade, e características do grão.
“Garantimos a segurança dos dados utilizando tecnologia blockchain de criptografia avançada e seguindo a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Nossa equipe de cibersegurança monitora constantemente as informações para protegê-las”, explica Eduardo Astrada, CEO e CO-Fundador da Agrotoken.
Com os grãos convertidos em ‘agrotokens’, o produtor pode usar o crédito para comprar máquinas e insumos. De 2023 para cá, a empresa argentina já atendeu mais de 3 mil produtores e transformou 230 mil toneladas de grãos em tokens, gerando R$ 350 milhões em transações comerciais aqui e no país vizinho.
Mas a ideia de converter a produção em um ativo digital ainda encontra resistência entre os agricultores. “Fazer um cripto ativo das minhas ordens? Eu não sei como é isso! Aí não me convide”, brinca Medeiros, que ainda prefere manusear as ordens de compra e venda pelo celular, na plataforma da cooperativa que faz parte. Moderno, mas com cautela.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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