Dia das Abelhas: descubra como elas impulsionam a produção agrícola

Empresas estão empenhadas em aprimorar os métodos de polinização.

As abelhas desempenham papéis cruciais na natureza, desde garantir a reprodução das plantas até manter o equilíbrio ambiental e a diversidade da vida selvagem. Reconhecendo sua importância vital, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 20 de maio como o Dia Mundial das Abelhas.

O mundo abriga atualmente uma impressionante variedade de cerca de 20 mil tipos de abelhas, sendo o Brasil o país com a maior diversidade, contando com aproximadamente 3 mil espécies.

A polinização realizada pelas abelhas é crucial para o ciclo de vida das plantas, garantindo a produção de frutos e sementes essenciais para os ecossistemas. Sua presença em áreas agrícolas não apenas aumenta a produtividade, mas também melhora a qualidade das safras.

Diversas iniciativas têm surgido para aprimorar a polinização. Uma delas é a Agrobee, que durante a época de floração das culturas, introduz colmeias nas plantações, otimizando o processo produtivo. De acordo com Guilherme Sousa, CEO da empresa, essa prática pode aumentar a produtividade em até 16%.

Durante muito tempo, o papel dos polinizadores neste ciclo foi subestimado, e as abelhas podem ser consideradas verdadeiros aliados na fertilização, promovendo assim uma produção mais sustentável”, explica.

A presença das abelhas nas áreas cultivadas não só aumenta a quantidade, mas também melhora a qualidade das colheitas agrícolas. Luís Carlos Gomes, um produtor de café do Espírito Santo, decidiu introduzir colmeias em seu cafezal pela primeira vez e observou uma maturação mais uniforme dos grãos de café.

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Foto: Divulgação

“Neste processo, a floração foi mais eficiente, resultando em um maior número de frutos e um aumento de 20% na quantidade de grãos descascados na área onde as abelhas estavam presentes”, afirmou. Além disso, houve uma significativa redução nos grãos deformados. O café conilon, ou robusta, cultivado por Gomes, apresentou resultados ainda mais expressivos do que o arábica, devido à sua rápida polinização cruzada neste método.

Sousa menciona que, em alguns estudos, foram conduzidas análises sensoriais que revelaram uma menor adstringência, uma maturação mais uniforme e uma maior doçura e complexidade sensorial do café. Além disso, testes realizados em plantações de café demonstraram um aumento médio de oito sacas por hectare com essa técnica.

As plantações de café, soja, laranja e canola são especialmente propícias a se beneficiarem da polinização assistida, especialmente devido à sua floração breve. A presença das abelhas atua como um reforço durante esse período crucial.

Essas iniciativas não apenas impulsionam a sustentabilidade ambiental, mas também geram benefícios econômicos significativos, proporcionando maior renda tanto para os agricultores quanto para os apicultores.

Projetos

Outras empresas têm se envolvido em projetos que envolvem as abelhas. Um exemplo é a parceria entre a Nestlé e a Agrobee, que resultou em uma linha de cafés especiais provenientes de dez lavouras que foram beneficiadas com a presença de colmeias.

Taissara Martins, responsável pela sustentabilidade e expertise em café da Nestlé, destaca que a introdução de colmeias está alinhada com práticas de produção regenerativa, permitindo uma produção mais eficiente com menos uso de fertilizantes e uma redução na pegada de carbono da agricultura.

Além disso, empresas agrícolas como a Syngenta e a São Martinho inauguraram quatro meliponários, cada um com 32 colmeias, em diferentes localidades dos estados de São Paulo e Goiás. Essa iniciativa reconhece a importância dos polinizadores na produção de alimentos.

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Foto: Divulgação

Não apenas empresas privadas, mas também órgãos governamentais têm demonstrado interesse no potencial da polinização em áreas agrícolas. Recentemente, o governo do Tocantins assinou um decreto com o objetivo de aumentar a produção agrícola através da melhoria das culturas por meio da polinização dirigida, enquanto preserva a biodiversidade do estado e protege os polinizadores, especialmente as abelhas. Iniciativas semelhantes também estão sendo implementadas no estado de Santa Catarina.

Potencial

O potencial dos serviços de polinização ainda não é totalmente explorado pelos apicultores e meliponicultores, cuja maior parte da renda está vinculada à produção de mel. Enquanto em países como os Estados Unidos os serviços de polinização representam 70% da receita desses profissionais, no Brasil, a maior parte da renda advém da produção de mel e própolis, com um potencial significativo ainda não aproveitado nos serviços de polinização.

Em 2023, a produção de mel atingiu um recorde no Brasil, alcançando 61 mil toneladas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento de 9,5% em relação ao ano anterior foi impulsionado pela crescente demanda por mel e seus derivados, como própolis e geleia real. Essa cadeia produtiva movimenta anualmente mais de R$ 950 milhões no país.

Apesar desse crescimento, o consumo de mel ainda é relativamente baixo no Brasil, com uma média per capita de apenas 10 gramas em 2020, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Esses números ressaltam o vasto potencial que ainda está por ser explorado, conforme destaca Eugênio Basile, co-fundador da empresa Mbee, que colabora com 15 espécies distintas de abelhas e 70 pequenos produtores em 15 estados brasileiros.

Uma parte fascinante das oportunidades reside nas abelhas nativas do Brasil, que conferem aos méis sabores únicos devido à sua fermentação natural e características de acidez distintas. Cada tipo de mel é uma expressão singular das condições do local de produção, como altitude, tipo de solo, exposição solar e padrões de vento.

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Foto: Divulgação

“O mel nativo não é apenas um produto; ele está intrinsecamente ligado à saúde, à sustentabilidade e ao prazer sensorial, oferecendo potenciais tanto econômicos quanto gastronômicos”, destaca Basile.

Ele ressalta também que, no Brasil, as abelhas apis mellifera, introduzidas no país, não enfrentam ameaças significativas de extinção e são responsáveis pela maior parte da polinização das culturas agrícolas. Por outro lado, as abelhas nativas, muitas das quais estão em risco de extinção, desempenham um papel crucial na polinização da flora brasileira e, portanto, são indispensáveis para a preservação ambiental.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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