Cientistas brasileiros fazem importante descoberta, inédita no mundo, os genes que tornam a carne do boi mais gostosa e saudável.
Os pesquisares Luiz Lehmann Coutinho, da ESALQ, e Luciana Regitano, da Embrapa Pecuária Sudeste, são os coordenadores de uma conquista científica notável. É a primeira vez que se identifica – no mundo e para qualquer raça de bovino – quais são os genes que controlam características como o sabor da carne, sua suculência, maciez, bem como o acúmulo de gorduras saudáveis (insaturadas) e gorduras nocivas à saúde (insaturadas). Objetivo da pesquisa é produzir uma carne bovina que seja mais saborosa e mais saudável, com menor teor de gordura nociva à saúde.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina (em volume). Sua vantagem competitiva deve-se, principalmente, ao custo de produção do bovino brasileiro, que é um dos mais baixos do mundo. Para ampliar ainda mais a sua participação no mercado inter-nacional, os pecuaristas brasileiros precisam adequar sua produção de carne aos padrões estabelecidos pelos importadores.
Entre os quesitos de qualidade, a maciez, a quantidade e o tipo de gordura intra-muscular influenciam o sabor e a suculência da carne, bem como seu valor nutricional.
Pesquisa iniciada há cerca de 8 anos na ESALQ e na Embrapa Pecuária Sudeste visa identificar justamente quais são os genes que regulam todas aquelas características na carne do gado Nelore, que compõe a maior parte do rebanho de corte nacional.
Após anos de investigação, tal objetivo foi finalmente alcançado. Num trabalho que acaba de ser publicado no periódico científico BMC Genomics, os pesquisadores identificaram centenas de genes responsáveis pelo sabor, maciez e qualidade da carne de bovino.
“Em termos mundiais, nossa pesquisa é a primeira se consegue identificar os genes que regulam a qualidade, o sabor, a quantidade e o tipo de gordura na carne em bovinos. Não há outros grupos – no Brasil ou no exterior – com resultados simi-lares. A pesquisa foi feita com gado Nelore. Até o momento não existe nenhum es-tudo semelhante para quaisquer outras raças bovinas,” afirma o geneticista Luiz Lehmann Coutinho, coordenador do Centro de Genômica da ESALQ.
A pesquisa busca acelerar o melhoramento genético do gado Nelore, para a produção de carne de melhor qualidade. Como consequência, espera-se que os resulta-dos deste trabalho possam, no médio prazo, resultar na elevação dos lucros dos pec-uaristas brasileiros.
“Nosso objetivo final é, daqui cerca de três anos, oferecer aos pecuaristas brasileiros a oportunidade de melhorar seus rebanhos e lucros, com vistas à produção de carne que seja ao mais macia e gostosa ao paladar do consumidor, e também muito mais saudável,” afirma Coutinho.
“No que diz respeito ao consumidor final, que aprecia carne, o objetivo da pesquisa é tornar um corte nobre como por exemplo o contra-filé, mais gostoso, suculento e saudável,” diz Coutinho.
O trabalho de seleção de 30 de touros e 2 mil vacas da raça Nelore com as carac-terísticas desejadas para a pesquisa, e que geraram os 800 novilhos dos quais se coletou amostras de carne e sangue para a investigação genética, ficou sob a responsabilidade da pesquisadora Luciana Correia de Almeida Regitano, da Embrapa Pecuária Sud-este, em São Carlos (SP). Regitano também atua como docente do programa de Pós-graduação em Genética Evolutiva e Biologia Molecular da Universidade Federal de São Carlos (UFScar).
Toda pesquisa genômica do projeto ficou sob a responsabilidade de Luiz Lehmann Coutinho, do Centro de Genômica da ESALQ.