Grande opositora do agronegócio brasileiro, Anitta resolveu investir na Fazenda Futuro, foodtech que produz alimentos à base de plantas
A cantora e empresária resolveu aumentar seu portfólio de investimentos, Anitta se tornou a mais nova sócia da foodtech brasileira Fazenda Futuro, conforme anunciou a companhia nesta quinta-feira. Avaliada em R$ 2,2 bilhões, a empresa é uma das primeiras foodtechs da América Latina voltada à produção de carne à base de plantas. Segundo a empresa, um dos objetivos com a chegada da cantora é democratizar e expandir a categoria no Brasil. Este é o primeiro investimento de Anitta em uma empresa de alimentos.
“Minha história com a Fazenda Futuro começou faz um tempo já. Em um dos meus aniversários pedi para que providenciassem hambúrgueres à base de plantas. Fiquei louca com os da Fazenda Futuro e comecei a me interessar mais pelo setor e pela empresa também. Adorei a equipe e fechamos negócio”, conta Anitta à Bloomberg Línea.
Anitta é uma crítica implacável do agronegócio brasileiro, com certa frequência a cantora promove lives em suas redes sociais com outras celebridades acerca do assunto. O conteúdo é sempre contrário às praticas agropecuárias atuais, dizendo serem nocivas ao meio ambiente.
“Existe também a questão da agropecuária, hoje em dia existem mais cabeça de gado do que pessoas. Eu estava estudando para entender melhor o assunto e poder falar, isso mostra que o nosso consumismo exagerado e desnecessário.” Em outro momento, segundo Anitta – “o peido da vaca é muito poluente para o nosso ar, cada vaquinha soltando seus gases é um dano gigantesco para o nosso meio ambiente.”
Somente neste parágrafo existem duas afirmações fáceis de se contestar. Sobre a quantidade de cabeças de gado que o Brasil possui, há muitas informações desencontradas. Em recente artigo, o Engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária Maurício Palma Nogueira, estimou que o rebanho brasileiro é cerca de 30 milhões de cabeças menor do que se acreditava. Das 214 milhões de cabeças, o país pode ter apenas 184 milhões de bovinos e bubalinos. Ainda segundo ele o número mais aceito atualmente está superestimado.
Maurício é autor de vários artigos, uma das maiores autoridades do agronegócio brasileiro, em um deles ele fala sobre a sustentabilidade. Nos últimos 30 anos, a pecuária de corte brasileira aumentou a produtividade em quase 150%, mais do que dobrando a produção de carne em uma área de pastagens cerca de 16% menor. O desenvolvimento tecnológico da pecuária a partir dos anos 1990 foi suficiente para evitar o desmatamento de 270 milhões de hectares. Apesar de silenciosa para o cidadão urbano, no campo a revolução tecnológica é barulhenta.
Sobre os gases emitidos pelas vacas, o metano, também lembramos que outra celebridade usou fontes nada seguras para emitir suas opiniões, lembramos do caso do humorista Fábio Porchat, em debate no Canal GNT, culpou as fezes bovinas pela poluição dos rios brasileiros. O fato ocorreu em 2019. “A gente esquece que estes 170 milhões de bois do Brasil defecam diariamente muito, pra onde vai esse esterco? Uma parte é reutilizada, mas 80% dessas fezes vai sendo levado pela chuva, e mata os rios, desagua no mar e mata em volta toda a vida, tem algumas imagens que mostram a saída dos rios no oceano já não há mais vida em um raio de 300 quilômetros” disse Porchat. Esse tipo de narrativa tornou-se padrão para atacar o agronegócio brasileiro.
Há vários estudos que possibilitam a neutralização da emissão de gases de efeito estufa pelos bovinos. Foi comprovado por estudos da Embrapa que a fixação de carbono pelas árvores em diferentes modelos de sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é capaz de neutralizar a emissão de metano por bovinos.
Atual cenário do mercado plant-based
Investimento vem em momento conturbado para a indústria de plant-based. A americana Beyond Meat, que fabrica proteínas de base vegetal que imitam o sabor e a textura da carne de animais, fechou o quarto trimestre do ano passado com prejuízo líquido de US$ 80,4 milhões, uma perda 320% maior que a registrada no mesmo período de 2020, quando foi de US$ 25,1 milhões. Em todo o ano de 2021, o prejuízo da companhia aumentou 245%, para US$ 182,1 milhões.
Ethan Brown, presidente e CEO da Beyond Meat, comentou que as vendas no ano passado apresentaram sinais de retomada com o arrefecimento da pandemia. O executivo destacou ainda que a empresa fez muitos investimentos para ampliar as operações na União Europeia e na China, o que pesou sobre suas despesas operacionais e a margem bruta em 2021, “um ano em que já fomos impactados por volumes abaixo do esperado”, acrescentou.
Mercado plant-based
A Fazenda Futuro, que completa três anos este mês, foi pioneira da categoria plant-based no Brasil e hoje atua em mais de 30 países, com os principais negócios concentrados aqui e na Inglaterra. Na América Latina, a companhia atua nos mercados relevantes de consumo de carne animal: Colômbia e Chile, entrando agora também na Argentina.
“O potencial do Brasil é gigantesco, aqui só crescemos. O país representa um dos nossos principais volumes e temos a responsabilidade de continuar democratizando e explicando a categoria de forma divertida, saudável e consciente, de forma a oferecer produtos para o consumidor que já está acostumado a comer carne animal”, afirma Leta.
Os carros-chefes da marca são o hambúrguer, a carne moída e a almôndega. Outros produtos incluem frango, linguiça e o mais novo, o atum, vendido em lata.
Comparando com os Estados Unidos, cujo mercado plant-based começou muito mais cedo, em 2010, Leta diz ver algumas similaridades e espaço para crescimento. “O brasileiro ama carne e está repensando o consumo excessivo de carne animal – o que favorece carnes vegetais que consigam entregar textura e sabor semelhantes, para o consumidor não perder a experiência que ama”, conta.