Gigante da indústria de soja na Argentina, que entrou em recuperação judicial em 2019, aguarda decisão da Justiça sobre a venda de ativos para a Bunge e a Viterra
Um tribunal superior da Argentina deverá decidir se as gigantes do setor agrícola Bunge (BG)e Viterra terão permissão para assumir o controle de uma empresa que já foi a joia da coroa da enorme indústria de processamento de soja do país.
A decisão sobre a Vicentin SAIC é esperada para este mês e tem grande importância para o comércio global de soja, já que a Argentina é o maior fornecedor de farelo e óleo de soja processados.
A aprovação de um plano de resgate da Vicentin, que entrou com pedido de proteção contra falência – recuperação judicial – há quase cinco anos, solidificaria ainda mais a participação da Bunge-Viterra na capacidade mundial de esmagamento de soja. Por outro lado, uma rejeição abriria uma oportunidade para propostas concorrentes.
A Vicentin tem uma rara história de sucesso empresarial na Argentina assolada pela crise, construída ao longo de décadas pela dinastia da família Vicentin, que enfrentou o domínio das tradings de commodities como a Cargill e a Louis Dreyfus.
Mas a situação mudou em 2019, quando a empresa deixou de pagar cerca de US$ 1,5 bilhão em dívidas e entrou em processo de recuperação judicial – prejudicando o comércio de safras de grãos da Argentina.
Empresa familiar, os executivos da empresa tentaram manter a empresa viva, obtendo a aprovação dos credores para um resgate que incluía uma aquisição de seus ativos liderada pela Bunge e pela Viterra, apoiada pela Glencore, que estão concluindo uma fusão.
Após anos de disputas legais entre a Vicentin e credores hostis, o destino da empresa agora está nas mãos da suprema corte de Santa Fé, a província onde está localizada a cidade de Rosário – um hub para o transporte fluvial de grande parte da soja do mundo – e Avellaneda, a pequena cidade onde a Vicentin foi fundada há quase um século.
Se os juízes concordarem com a aquisição pela Bunge, Viterra e a cooperativa local ACA, o grupo ficará com os ativos, incluindo uma participação na Renova SA.
A empresa é um ativo valioso no comércio de soja, já que sua fábrica de Timbues, no centro de Rosário, pode esmagar muito mais grãos por dia do que qualquer outra instalação no mundo.
A Viterra já controla 67% da Renova. Ela foi a primeira a intermediar o plano de resgate com a Vicentin, no qual muitos credores receberiam de volta apenas cerca de 30% de seu dinheiro. A Bunge aderiu mais tarde.
Espera-se que a aquisição da Viterra pela Bunge, no valor de US$ 8,2 bilhões, seja finalizada nos próximos meses. Não se sabe ao certo qual seria a reação de órgãos antitruste argentinos a uma aquisição da Vicentin atrairia.
Importância da soja argentina
O complexo agroexportador de soja é o principal setor da economia argentina, representando um terço das exportações e um crescimento nas últimas décadas muito acima da média da sua economia. Durante os governos de Nestor e Cristina Kirchner, os impostos às exportações de soja se elevaram para 35%, e no governo Macri está em 30%. Mesmo com este pesado tributo, o complexo continua crescendo e aumentando sua produção.
Beneficiadas por uma série de políticas econômicas que possibilitaram o controle por parte do setor privado da estrutura pública de transporte, armazenagem e comercialização de grãos nos anos de 1990, somados aos avanços técnicos, aumento das áreas semeadas, concentração da propriedade da terra e expansão da via clássica do capitalismo no campo, a produção de soja na Argentina tem crescido a um ritmo médio próximo a 11% anual nos últimos 20 anos.
Anteriormente isolada na terceira posição, a Argentina em 2023 teve um déficit de 43,2% em sua produção de soja, se comparado ao mesmo período de 2021/2022. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, devido à seca histórica dos últimos três anos, aliado às altas temperaturas registradas, grande parte da produção tem sido perdida.
No território argentino, a produção de soja se concentra em Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e Santiago del Estero. É importante ressaltar que a China vem crescendo como um grande exportador de soja, com quase 21 milhões de toneladas do grão, cerca de 3 milhões de toneladas atrás da Argentina.
Com informações da Bloomberg