De origem nas expedições espanholas, conheça o Cavalo Campeiro

Cavalos selvagens da região dos pinheirais do Brasil originaram a raça; Daí a denominação “Marchador das Araucárias” para o Cavalo Campeiro, uma das principais raças brasileiras

Você sabia que os primeiros registros de cavalos no Brasil datam do ano de 1534, na Vila de São Vicente? Aos poucos, eles foram se espalhando e acabaram se instalando pelos quatro cantos do país, sendo que, atualmente, existem muitas raças brasileiras de cavalos reconhecidas no âmbito internacional. Um desses belos exemplos é o Cavalo Campeiro, uma das principais raças de cavalos brasileiras.

Em 1541 uma expedição espanhola comandada por Alvar Nuñes – Cabeza de Vaca desembarcou no litoral de Santa Catarina. Trouxeram muitos equinos no navio, e provavelmente esses animais muito tempo na umidade ficaram com os cascos moles, e quando atracaram em SC e seguiram por terra até Assunção-Paraguai muitos desses se extraviaram durante o percurso.

Essas manadas extraviadas, por anos se procriaram livremente e moldadas pela natureza deram origem às raças equinas no Sul do Brasil.

Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor
Foto: Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

Em média de 200 anos após a expedição de Alvar Nuñes, foi registrada oficialmente a presença de animais selvagens, por tropeiros que passavam pelo Sul do Brasil. Destacaram-se em 1728 e 1731 os tropeiros Francisco de Souza e Farias, e Cristóvão Pereira de Abreu.

Foto: Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

No Planalto Catarinense, planalto do Rio Grande do Sul, e Sudoeste do Paraná, região dos pinheirais do Brasil, após o processo de seleção natural, e adaptação dos equinos ao clima com acentuadas mudanças na temperatura, e alimentando-se de vegetação nativa, os equinos ficaram conhecidos como “Pelo Duro”, “Peludo” ou “Raça Velha”. Entre esses existiam alguns Marchadores.

Entreveiro das Tunas! Cavalo campeiro o marchador das Araucárias
Foto: Divulgação

Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

Por volta do século XIX grandes fazendas surgiram em Curitibanos, Santa Catarina. Dentre os fazendeiros se destacou nos campos do Guarda Mor, o Cel. Henrique Paes de Almeida, que selecionou dentre os animais existentes, os marchadores. Esses animais se destacavam em meio a outros pelo fato da comodidade proporcionada ao cavaleiro e facilidade em percorrer longas distâncias em menos tempo, tendo em vista que era o único meio de transporte na época.

Foto: Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

Esses equinos também apresentavam rusticidade, resistência e docilidade, por isso eram utilizados para os serviços do campo. Os filhos do Cel. Henrique continuaram a criação de equinos dessa variedade, principalmente o Major Simpliciano Rodrigues de Almeida, que aumentou muito a manada da fazenda. Graciliano Nonato de Almeida, filho do Major Simpliciano e grande admirador de cavalos, desde 1920 melhorou e ampliou a criação de equinos marchadores.

Idealizador da raça Cavalo Campeiro

Ivadi Coninck de Almeida, ícone do cavalo Campeiro, faleceu em 2019

Ivadi Coninck de Almeida, filho de Graciliano, herdou de seus ancestrais a paixão por cavalos marchadores. Assim como aconteceu em outras famílias que também criavam esse tipo de cavalo na região. Inicialmente pensavam que os animais dessa região fossem da raça Mangalarga, porém Ivadi ao ir a uma exposição em Bauru-SP, com interesse de adquirir um cavalo, percebeu que os animais não se pareciam com os criados por ele em Curitibanos.

Retornou a sua cidade sem comprar o cavalo e a partir daí foi idealizada uma raça. Para evitar o desaparecimento dos cavalos marchadores e estimular sua criação, Ivadi convidou alguns amigos, também aficionados por cavalos para discutir o assunto.

Foto: Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

Esse grupo fundou um Departamento junto a Associação Rural de Curitibanos e enviou os papéis para o registro e oficialização da raça á Comissão Coordenadora de Criadores de Cavalos Nacionais – CCCCN. Depois de algumas negativas, foi durante a XX Eneced (semana do cavalo), em Brasília(DF), que os criadores levaram dez éguas para o Presidente da República, o General João Batista Figueiredo, marcar a fogo o primeiro exemplar da raça.

Presidente da República - General João Batista Figueiredo
Presidente da República – General João Batista Figueiredo

E em 1985, a raça obteve o livro de registro (Herd Book), e foi instituído o Serviço de Registro Genealógico. O veterinário Dirceu Costa, foi indicado a participar de um curso em Belo Horizonte, para se tornar técnico do registro.

O nome Campeiro foi escolhido por unanimidade em meio a outras sugestões, pelo fato de ser um cavalo para os homens do campo, segundo Ivadi é “um cavalo do campo para o campo”.

Panamenha da LC (Tordilha) e Petunia da Agua Dura (rosilha)
Foto: Júlia Pedrassani

Preservação da raça

A preservação da raça permanece muito forte na região de Curitibanos, Gianice de Almeida Solano, neta de Ivadi, mantém a tradição de criar Cavalo Campeiro na Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor. Segundo ela as principais qualidades são a marcha, andamento natural da raça, e a docilidade.

“Crio Cavalo Campeiro porque foi meu avô Ivadi Coninck de Almeida, que idealizou a raça. Então desde pequena acompanhava ele na fazenda e criei amor pela raça. Ele foi tropeiro, e sempre selecionou animais marchadores. Então juntamente com outros amigos que também tinham animais semelhantes, criaram a Associação de Criadores de Cavalos Campeiro” – nos contou Gianice.

égua Dança da Alvorada - cavalo campeiro - Cristiano Boff
Foto: Cassiano Boff

Outro admirador da raça, o médico-veterinário Cassiano Ricardo Boff, do Haras Verde Alvorada de Caxias do Sul (RS), conta suas experiências com a raça. “Campeiro é uma raça de marchadores do Sul do país que precisa ser resgatada. É marchador por natureza, tem habilidades para lidas de fazendas, muito rústico e funcional, bom para percorrer longas distâncias sem cansar o cavaleiro” – foram por essas características que o criador escolheu a raça.

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Mariana D Becker / Foto: Arquivo Pessoal

Mariana D Becker, do Haras MB em Curitibanos (SC) nos contou que conhece a raça dede pequena, pois seu pai criava para uso com o gado, e desde então se apaixonou por cavalos. Segundo seu relato um dos diferenciais da raça é sua marcha, onde torna-se mais cômodo para encilha. “A comodidade e docilidade deles é bem notável. Cavalos de confiança e agilidade, onde se encontra muita rusticidade e qualidade. É um cavalo tranquilo para cuidar, sem muito zelo se consegue um animal bonito” – confessou Mariana.

Quer conhecer mais sobre a raça? A raça expõe, através da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Campeiro (ABRACCC), vários exemplares durante a Expointer, aproveite para visitar a feira e conhecer mais sobre essa raça, genuinamente brasileira.

  • Referências:
  • Gianice de Almeida Solano
  • Documentos da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Campeiro
  • Solano G.A., Silva M.C., Sereno J.R.B. Aspectos Sobre o Sistema de Criação de Cavalo Campeiro no Sul do Brasil. AICA – Actas Iberoamericanas de Conservación Animal. Volumen 1/año 2011.

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