Da Índia ao Brasil: A história e importância da raça Nelore

A história da raça Nelore no Brasil é rica e remete, principalmente, ao século passado; a raça têm um grande significado para os indianos

Você sabia que o motivo do nome Nelore é porque os primeiros animais que chegaram ao Brasil foram embarcados pelo porto ‘Nelore’ do estado Andhra Pradesh, localizado na costa oriental da Índia? A trajetória que transformou o Ongole indiano no Nelore brasileiro, começa na primeira metade do século XIX, de quando datam os primeiros registros de desembarque no país de zebuínos originários da Índia.

Considerado um animal sagrado, os bovinos têm um grande significado para os indianos, que em sua maioria não se alimentam nem sequer do leite da vaca.

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Foto: Divulgação

Na Índia, país originário da raça, o animal é utilizado também como tração, porém, devido a problemas socioeconômicos intensos o animal é alimentado em sua maioria com restos de colheita de grãos, pastoreio de arbustos e até soltos pelas ruas comendo restos de comidas.

Devido à boa aceitação desse animal nos serviços rurais da Índia, O Nelore é fruto de um cruzamento com mais 14 raças diferentes. Mas, por questões religiosas e culturais na Índia, esse animal não teve nenhum melhoramento, mantendo suas características rústicas para o serviço de tração e pouca produção leiteira.

Do zoológico Alemão para as fazendas Brasileiras

Segundo a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), a história descreve que a primeira aparição do Nelore no país teria ocorrido em 1868 quando um navio, que se destinava à Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo. Os animais teriam sido comercializados, permanecendo no país.

Dez anos depois, em busca de animais exóticos para trazer ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgruber, imigrante suíço teve contato com a raça Ongole durante uma visita ao zoológico de Hamburgo, na Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de animais da raça, em outubro de 1878.

Conta a história que ele ficou impressionado com os bovinos de chifres grandes e cupim bastante salientes no dorso que estavam expostos no zoológico e assim fez a primeira aquisição, abrindo os caminhos para o sucesso da raça no Brasil que atualmente é a raça mais difundida no país.

Outro precursor da raça Nelore no Brasil, e principalmente na Bahia, foi a marca OM. Foi o importador, criador e selecionador Manuel de Souza Machado, usineiro do Recôncavo Baiano, que em 1906 importou da Índia o casal de Nelore Cacique e Aracy. A matriz Aracy chegou prenhe de touro indiano e deu cria a primeira bezerra vermelha e POI nascida no Brasil que veio a se chamar Itabira.

Vários criadores e selecionadores de Nelore como os das marcas SORAYA, TRINDADE, TREVO, VR (Torres Homem Rodrigues da Cunha), BRUMADO (Rubico Carvalho) dentre outros iniciaram suas criações com o Nelore da marca OM do criador e selecionador Otávio Ariane Machado, filho do importador Manuel de Souza Machado e depois com seus filhos Otávio Vilas-Bôas Machado e Luciano Vilas-Bôas Machado. Hoje o continuador da seleção e detentor da marca OM é o criador e selecionador Paulo Vilas-Boas Machado, filho de Octávio Vilas-Boas Machado e dona Hermínia, que a poucos dias atrás completou seus 100 anos, lúcida e com muita saúde.

Posteriormente, outras partidas oriundas diretamente da Índia aportaram no Rio de Janeiro. A raça Nelore foi se expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo e Minas Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico, começaram a ser definidas as características raciais do Nelore.

A importação de bovinos da Índia para o Brasil também teve dois anos marcantes: 1960 e 1962. Estes anos representavam as duas últimas e significativas compras de reprodutores Nelore feitas pelo Brasil. No entanto, a 1962, teve uma contribuição extraordinária. “Em termos de gado e de melhoramento genético foi a coisa mais importante que já existiu na pecuária brasileira. Acho muito difícil de ser suplantada”, diz o criador e pecuarista Antonio José Prata Carvalho, mais conhecido como Tonico Carvalho da Nelore Brumado.

Nesse período desembarcaram no país, em Fernando de Noronha, onde foram submetidos a quarentena, grandes genearcas como Kavardi, Golias, Rastã, Checurupadu, Godhavari, Padu e Akasamu que são a base formadora das principais linhagens de Nelore, animais de suma importância para o avanço da raça no país desde então.

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Genearca Karvadi IMP

Dentre os genearcas citados, Kavardi foi considerado o pai da linhagem Nelore no Brasil. Reprodutor da raça Ongole na Índia, já tinha sido largamente premiado como tetracampeão nacional indiano e campeão da Ásia.

Adquirido pelo criador e selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha, da fazenda VR (situada em Uberaba-MG), foi considerado o melhor touro da história da raça Nelore, transmitindo beleza racial aos seus filhos, sendo na época apto aos mais diversos cruzamentos. Kavardi deixou milhares de descendentes.

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Foto: Divulgação

Mato Grosso do Sul: berço da raça Nelore no Brasil

O estado do Mato Grosso do Sul se tornou o principal berço da raça, isso porque nasceu em 2003 o projeto Nelore JOP, por iniciativa de um grupo de selecionadores, com o objetivo de buscar na Índia, o berço do zebu, novas linhagens do Nelore para refrescar o sangue do rebanho bovino brasileiro.

Esse trabalho envolveu diversas viagens ao país de origem do Nelore, no início da década de 2000, para visitar propriedades e prospectar oportunidades genéticas. O resultado superou a melhor das expectativas.

Após percorrer milhares de quilômetros e centenas de propriedades, os participantes do Nelore JOP garimparam excepcionais exemplares com as características exigidas pela pecuária moderna.

“Todos esses animais espetaculares que temos hoje no Brasil, são frutos de importação da Índia, haja vista sua rápida adaptação ao nosso clima também tropical, solos semelhantes e boas precipitações pluviométricas”, ressalta Marcos Moura. O pecuarista administrou os trabalhos do grupo NJOP na Índia desde junho de 2004, atuando operacionalmente na aquisição, cruzamentos, coletas de embriões e negociações com o governo e indiano e brasileiro para realizar a importação desses embriões da raça Nelore para o Brasil, visando à perpetuação da raça e a continuidade dos trabalhos de desenvolvimento genético desses animais no Brasil.

No ano de 2004 foram realizadas as primeiras viagens do grupo que percorreram por 70 dias diversas vilas e cidades indianas, principalmente do Estado de Andhra Pradesh, região do Ongole (Nelore).

Segundo Moura é outra realidade. A Índia tem uma população aproximadamente seis vezes maior do que a brasileira e não possui espaço suficiente para manejo de pastagem.

“Cada vila possuía seu touro, alimentado por todos os moradores e esse animal tinha como função a cobertura das vacas dos pequenos produtores, utilizadas no trabalho de campo, entre outros”, disse.

A seleção dos animais e o desenvolvimento genético lá não têm os mesmos critérios utilizados no Brasil. As raças são regionalizadas, ou seja, o Ongole (Nelore) é encontrado só no Andhra Pradesh, o Gir somente no Estado de Gujerat, o Kankrej (conhecido aqui como Guzerá) só é encontrado no Rajastam, e assim com as demais raças.

“No caso do Nelore a preocupação deles é se o animal tem uma boa estrutura para tração, cor baia, e no caso da fêmea um bom úbere. Já a seleção genética brasileira é muito mais detalhista e busca principalmente desenvolver o bovino para a comercialização futura da carne. Conseguimos desenvolver animais superiores aos indianos em vários aspectos, entretanto, devemos nos preocupar em manter a praticidade e rusticidade do Nelore que o ajudou a se adaptar tão bem em nossas pastagens”, destaca Moura.

O Nelore é a raça que puxa o carro de boi da pecuária em Mato Grosso do Sul. Em 2019, de um rebanho bovino de aproximadamente 21,4 milhões de animais, o quarto maior do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 85% dos animais – a exemplo do que ocorre no país, são da raça, conforme estimativa da Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore MS).

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