Discussão recorrente no Grupo de Pecuária do Brasil (GPB), o cálculo do custo da arroba produzida em confinamento está descrita abaixo com detalhes.
Por Walter Magalhães Jr* – Primeiramente, gostaria de me desculpar por retornar a um tema que aparentemente já havia sido pacificado: o cálculo do custo da arroba produzida em confinamento. Este assunto é de relevantíssima (o superlativo tem a conotação da ênfase) importância no processo de tomada de decisão dessa natureza pois, uma informação equivocada pode levar o produtor a cometer um erro de difícil recuperação.
Não pretendo polemisar ou trazer à baila grandes discussões sobre o assunto mas, sim, levar uma outra luz sobre o tema, de tal forma que, os produtores que tiverem contato com esse material possam tirar as suas próprias conclusões sobre o objeto tratado. Também não desejo que formem uma imagem a meu respeito, de uma pessoa que seja teimosa, mas o fato é que não consigo conviver com teses que me deixam intrigado ou operações que não sejam matematicamente comprováveis.
O planejamento, como todos nós sabemos, é uma das atividades da vida de um gestor que antecede toda a ação a ser implementada. Planejar, portanto, é antecipar fatos, podendo, muitas vezes, ser conduzida utilizando-se de valores estimados que poderão ser ajustados na fase de implantação. No caso de um confinamento, algumas variáveis importantes podem e devem ser determinadas antecipadamente, com a finalidade de dar suporte e consistência ao trabalho a ser realizado.
As 3 principais variáveis do custo da arroba em confinamento são:
- Peso de Entrada dos Animais (PE);
- Custo Diário da Alimentação (CDA); e
- Ganho Médio Diário (GMD).
Com essas 3 variáveis definidas, o planejador pode realizar todos os cálculos necessários para se chegar às informações que suportem a decisão a ser tomada. Feito isso, passemos a colocar números nas variáveis acima descritas.
- PE = 400 kg
- CDA = R$ 7,00
- GMD = 1,200 kg
Com esses dados podemos estabelecer, de forma também antecipada, um peso de abate (PA) estimado para os animais. Nesse estudo fica definido que queremos um ganho bruto (GB) de 120 kg, levando os animais a um peso final de 520 kg.
- GB = 120 kg
- PA = 520 kg
Com esses dados já determinados, podemos estimar os dias de confinamento (DC) que serão necessários para que os animais ganhem os exigidos 120 kg, bem como o custo total (CT) a ser despendido por cabeça.
- DC = GB/GMD = 120/1,200 = 100 dias.
- CT = CDA x DC = R$7,00 x 100 dias = R$700,00.
Neste ponto, podemos dar por concluída a primeira fase do processo de planejamento, dessa engorda em confinamento. O programa, então, é fazer um confinamento de bois, cujo peso de entrada será de 400 kg, com um custo dia de alimentação de R$ 7,00, que deverá ganhar 1,200 kg por dia.
Esses animais deverão ser confinados por 100 dias, resultando em um incremento de peso de 120 kg, alcançando o peso de abate de 520 kg vivo. O custo total da engorda sera de R$ 700,00 por cabeça. Mas afinal, vamos à questão crucial de todo este estudo, ou seja:
Qual é, afinal, o custo da arroba produzida no confinamento?
Para produzirmos a primeira arroba da engorda, com um ganho diário de 1,200 kg por dia, levaremos 12,5 dias (1@/GMD = 15 kg/1,200 kg). O custo dessa arroba será de R$ 87,50 ou R$ 88,00 (12,5 dias x R$ 7,00). Mas esses animais, ficarão 100 dias no confinamento, ganhando 1,200 kg por dia, para fecharem um ganho de 120 kg, levando-os a um peso vivo de 520 kg para o abate.
Se a cada 12,5 dias esses animais estarão ganhando 1@, quantas arrobas eles ganharão em 100 dias de confinamento?
A resposta correta é 8@ (100 dias/12,5 dias), correto? Aqui está o segredo da conta ou o “trick” (como dizem os americanos). O custo total de R$ 700,00 dividido por 8@ resultara exatamente nos R$ 87,50 ou R$ 88,00 apresentados na tabela.
Mas vejam bem, esse processo de engorda está produzindo realmente 8@ de carne a serem pagas pelo frigorífico?
A resposta, como todos nós pecuarista sabemos é, absolutamente, não.
Uma boiada boa, de raça, bem engordada no confinamento do José Roberto Ribas, pesará no gancho, no mínimo 280,80 kg (520 kg x 0,54 rendimento de carcaça), sendo 64.8 kg de carne vindo dos 120 kg da engorda (120 kg x 0,54) e 16 kg vindo do rendimento do peso de entrada (400 kg x 0,54), resultando em um ganho total de carne recebível de 80,80 kg (64,8kg + 16,0 kg).
Em arrobas, o ganho do confinamento foi de 4,32@ (120 kg x 0,54 = 64,8 kg ÷15) liquidas de carne recebíveis do frigorífico.
Então, ao invés das 8@ de carne nos 100 dias, nós produzimos, na verdade, 4,32@?
Sim.
E qual foi o custo da arroba produzida, então, no confinamento?
A um custo de R$ 7,00 por dia, em 100 dias, o custo da arroba produzida foi de $162,04 ((7,00 x 100 dias) ÷ 4,32@) e não os $87,50 ou $88,00 apresentados na tabela.
Diante disso, gostaria de afirmar que a fórmula correta de cálculo, como já apontado anteriormente é:
C@P = (CDA ÷ (GMD x RC)) x 15
Este é, verdadeiramente, em nosso exemplo, com os dados de custo dia e ganho diário tirados da tabela, o custo efetivo da arroba produzida. Espero, sinceramente, que este demonstrativo possa sanar todas as dúvidas geradas anteriormente pelo debate salutar que realizamos.
Assuntos como este, tão importante para determinar o sucesso ou o fracasso de uma iniciativa empresarial adotada para a condução do negócio pecuário.
Walter Magalhães Jr – Fazenda Caiçara, administrador de empresas e Produtor Rural em Dourados-MS.