Custo de produção sobe mais uma vez em abril, já acumula uma alta de mais de 3,55%, enquanto o preço do leite terá nova queda. Até quando vai essa crise no leite?
O custo de produção da pecuária leiteira registrou novo aumento em abril. Na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), os desembolsos do produtor cresceram 0,36% frente a março. Com isso, o Custo Operacional Efetivo (COE) acumula alta de 3,55% em 2020. Suplementação mineral e concentrado foram os itens do COE que mais influenciaram a elevação dos custos.
Os insumos de suplementação mineral se valorizaram 2,19% em abril na “média Brasil”. Por conter matérias-primas importadas, os preços dos sais minerais tendem a acompanhar a movimentação do dólar, que, ao considerar as médias mensais, subiu mais de 8% frente ao Real em abril.
Outro grupo de insumos que favoreceu a alta dos custos foi o concentrado. Os preços das rações subiram 1,20% em abril na “média Brasil”, acumulando aumento de 7,65% em 2020. Vale lembrar que o concentrado é, em geral, o principal custo nas propriedades leiteiras, respondendo por 9% a 66% dos desembolsos; portanto, o produtor de leite deve planejar e gerenciar bem seus estoques para aproveitar oportunidades favoráveis de compra.
Mas qual a situação do preço pago ao produtor?
P esquisas em andamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/ USP, indicam que, na Média Brasil, o valor do leite ao produtor em maio (captação do mês anterior) pode ser pressionado em decorrência das incertezas geradas pela crise do coronavírus no mercado de derivados em abril.
Depois de terem registrado demanda intensa em março – e consequente alta de preços naquele mês, quando o coronavírus começou a avançar no Brasil –, as negociações envolvendo derivados lácteos se enfraqueceram durante em abril no mercado brasileiro (ver seção de Derivados, na página 5).
Abril marcou o primeiro mês completo de enfrentamento à pandemia e de uma nova dinâmica de consumo da população. Além do atendimento dos serviços de alimentação (importantes canais de distribuição de lácteos) terem sido prejudicados pelo agravamento da pandemia, também houve a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores e a redução da renda de muitas famílias. Esses fatores impactaram negativamente sobre a demanda de diversos derivados em abril, especialmente os refrigerados (perecíveis), que têm maior valor agregado para as indústrias.
O consumo de queijos foi o mais prejudicado e a dificuldade em assegurar a liquidez impactou negativamente na produção deste lácteo em abril. Como consequência, houve o aumento da oferta de leite cru no mercado spot (negociação entre indústrias) em abril. Em Minas Gerais, o preço médio caiu 7,3% na primeira e 11,7% na segunda quinzenas de abril, respectivamente.
As perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos e o aumento da incerteza em abril diminuíram o investimento das indústrias em estoques, ainda mais num momento em que a matéria-prima está valorizada, por conta das condições de oferta.
É preciso lembrar que o preço no campo é formado depois das negociações quinzenais do leite spot e da venda dos derivados lácteos. Assim, a defasagem temporal entre a produção e a comercialização dos derivados causa o delay de um mês nesse repasse das condições de mercado para o produtor. Por conta dessa dinâmica de formação dos preços no campo, as cotações do spot e dos derivados de abril irão influenciar os valores do leite captado naquele mês, que serão pagos ao produtor em maio.
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Junho pode trazer uma melhora
A produção leiteira está num momento de transição para a entressafra no Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, a estiagem prejudica a atividade e compromete a quantidade e a qualidade da produção de silagem para os próximos meses. Pesquisas do Cepea mostram que, depois de caírem 0,8% na primeira quinzena de maio, as cotações do leite spot em Minas Gerais registram alta de expressivos 29% na segunda quinzena deste mês, devido à redução da produção.
Na média deste mês, o preço do spot em maio ficou 6,7% acima do de abril, em termos nominais. Assim, a diminuição da oferta de leite no campo pode manter ou até mesmo elevar os preços ao produtor em junho.
Compre Rural com informações do CEPEA