Entre os meteorologistas ouvidos, é consenso que, mesmo que chova, os volumes não serão suficientes para elevar os níveis dos reservatórios. Veja!
A falta de chuvas no Centro-Sul do Brasil deve agravar a crise hídrica já decretada pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) para o período entre junho e setembro na região da Bacia do Paraná. Entre os meteorologistas ouvidos, é consenso que, mesmo que chova, os volumes não serão suficientes para elevar os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, e consequentemente, causarão defasagem na demanda energética.
Outra previsão dos especialistas é de aumento de preços nas contas de energia, água e alimentos. No campo, o custo deve aumentar, e o maior impacto deve ser para a irrigação. Os produtores que sofrerem mais com a estiagem serão obrigados a ter de escolher qual parte da lavoura será irrigada.
Olivio Bahia, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta que os próximos meses serão de extrema atenção.
“O SNM emitiu o alerta de crise hídrica justamente por não haver chuvas previstas para mudar o quadro. É uma situação delicada, principalmente no Centro-Oeste e no Sudeste. No Sul, ainda devem passar frentes frias que ocasionarão chuvas que devem segurar um pouco a situação”, avalia.
“A perspectiva para os próximos meses é muito preocupante, porque sabemos que não serão chuvosos. E, mesmo que chova, os volumes para Centro-Oeste e Sudeste não revertem o quadro. É uma situação delicada”
Olivio Bahia, meteorologista do Inmet
Bahia destaca que hoje, os níveis dos reservatórios estão muito baixos. “Como se fosse uma caixa d’água, no período chuvoso ela enche, e no seco, utiliza-se essa água para geração de energia, consumo humano, irrigação, indústria. O problema é que ano após ano chove menos. Logo, a caixa vai secando cada vez mais”, observa.
A situação tende a não melhorar porque no dia 21 deste mês começa o inverno, estação mais seca do ano. “Não dá para esperar precipitações que reponham os níveis de umidade e dos reservatórios dos próximos meses no Sudeste e Centro-Oeste. Então, os principais alertas se voltam a essas regiões. Vai chover pouco”, concorda Celso Oliveira, meteorologista da Somar.
“Nos próximos três meses, não dá para esperar que tenhamos chuvas que faltaram no verão. Em áreas que sofrem mais com estiagem, é possível que não tenha água no segundo semestre para irrigar toda a lavoura”
Celso Oliveira, meteorologista da Somar Meteorologia
Ao longo de 2021, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, três Estados que compõem a chamada “caixa d’água”, receberam baixíssimos volumes de chuva. “Com isso, não foi possível ter uma reposição do nível dos reservatórios e, agora, o problema é que entramos no período seco. Assim, ficaremos na dependência das térmicas e eventuais chuvas na região Sul”, afirma Oliveira.
Nessa época do ano, o normal é ter chuvas mais fortes entre Itaipu (PR) e o Rio Grande do Sul. Até maio, as chuvas foram muito fracas e isso preocupa o setor elétrico. “A questão é o segundo semestre. Se o Sul continuar a receber poucas chuvas, significa que ele vai demandar energia, e não tem de onde tirar. Você vai ter que usar mais reservatórios do Sudeste, que já estão baixos para suprir o Sul”, acrescenta Celso Oliveira.
“No Centro-Oeste e Sudeste passaremos por um período seco, que é normal. De setembro em diante, as chuvas voltam, porém, continuarão irregulares e abaixo da média” Luiz Renato Lazinski, meteorologista
Luiz Renato Lazinski, meteorologista que mora em Curitiba (PR), ressalta outro obstáculo causado pelo desabastecimento das usinas. “A questão do abastecimento de águas para as cidades é um ponto crítico. Aqui em Curitiba estamos em racionamento de água há mais de seis meses. São 36 horas com água e 36 sem”, destaca.
Preços da energia, água e alimentos
Em razão dos baixos níveis dos reservatórios e perspectivas de chuvas irregulares e abaixo da média, será necessário a utilização de termelétricas para compensar o fornecimento de energia, e isso eleva o preço, com efeitos no valor da água e nos alimentos.
“A gente espera que não, mas muito provavelmente os preços dos alimentos também devem aumentar, porque os produtores vão pagar mais caro na água para irrigação”, alerta o meteorologista do Inmet.
“Nos próximos meses, não tem chuva para reverter a situação hídrica. Teria que chover entre o sul de Minas Gerais e Goiás e, nessa época do ano, seria inédito, não vai acontecer. Não vejo possibilidade de colapso, mas se a virada de 2022 for igual a 2021, aí sim teremos um caos”
Alexandre Nascimento, meteorologista da Rural Clima
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“Pelo menos até outubro, está decretado preços super altos de energia. Os impactos da escassez hídrica são fulminantes”, afirma Alexandre Nascimento, meteorologista da Rural Clima. A partir do momento que a escassez é decretada, as usinas têm o poder de mexer em defluência mínima, que nada mais é que segurar a água, explica Nascimento.
“A prioridade é preservar água para não faltar energia e isso causa impacto para o agricultor. Agora, ainda não vejo possibilidade de colapso, mas se a virada de 2022 for igual 2021, aí sim teremos um caos”, finaliza.
Com informações do Globo Rural.