Competição acirrada por matéria-prima deve elevar cotações em julho; Custo de produção sobe 4,3% no 1° semestre de 2020. Confira os dados do Cepea.
Existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção. Neste período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste. Em maio, o Índice de Captação Leiteira (ICAP- -L) do Cepea registrou queda de 0,2% frente a abril na “Média Brasil”, fator que estimulou o aumento em 9,5% das cotações de junho (os valores foram deflacionados pelo IPCA de junho/20), que chegaram a R$ 1,5135/litro.
Assim, para julho, o contexto de oferta reduzida no campo deve sustentar o movimento de valorização do leite. Pesquisas ainda em andamento do Cepea indicam que a competição acirrada entre laticínios para garantir a compra de matéria-prima deve intensificar a alta, podendo levar os preços para patamares superiores aos verificados em anos anteriores. O aumento da competição entre indústrias, por sua vez, está atrelado à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos.
Tipicamente, as indústrias empenham esforços nessa direção antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores. Contudo, neste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos diante da pandemia da covid-19 aumentaram o nível de incerteza em abril e diminuíram o investimento das indústrias em estoques.
Com a reação no consumo (ancorada nos programas de auxílio emergencial), as vendas de lácteos se fortaleceram em maio e junho, reduzindo ainda mais os estoques. Diante disso, houve expressivas altas nos preços dos derivados lácteos em junho (ver seção Derivados, na página 5). No campo, a oferta restrita no mês resultou em disparada no preço do leite spot.
Na média do mês, o preço do leite spot em Minas Gerais ficou 45% acima do de maio, em termos nominais, chegando a R$ 2,28/litro. Nesse sentido, as altas nos mercados de derivados e de spot em junho devem ser repassadas no pagamento ao produtor de julho (referente à captação de junho).
AGOSTO
Existe uma defasagem temporal no repasse das condições de mercado para o produtor, de modo que as negociações quinzenais do leite spot e a venda dos lácteos de julho irão influenciar os valores do leite captado naquele mês, que serão pagos ao produtor em agosto. O leite spot registrou valorização de 1% na primeira quinzena de julho, chegando a R$ 2,34/litro em Minas Gerais. O mesmo se observou para a muçarela, que se valorizou 2,4% no mesmo período.
No caso do leite em pó, houve estabilidade das cotações e, no do UHT, houve queda acumulada de 0,5% na primeira quinzena de julho (ver seção Derivados, na página 5). Parte dos agentes consultados pelo Cepea acredita que o preço ao produtor continue subindo em agosto, fundamentada na oferta limitada no campo.
No entanto, outra parcela de agentes acredita que a valorização em agosto pode ser freada por dois fatores: o primeiro é a pressão dos canais de distribuição, em especial nas negociações de UHT, dado que estes procuram atrair consumidores com preços baixos nesse período delicado de diminuição da renda agregada; o segundo é a retomada da produção no Sul do País, que, já em junho, deve se elevar consideravelmente em virtude das melhores condições climáticas e também do aumento do fornecimento de concentrado e silagem, estimulados pelos patamares de preços do leite.
Custo de produção sobe 4,3% no 1° semestre de 2020
O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira aumentou por mais um mês. Em junho, na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), a alta foi de 0,26%. No primeiro semestre deste ano (janeiro a junho), o desembolso do produtor de leite subiu 4,32%. O destaque é para o estado de Santa Catarina, onde os custos aumentaram 8,29%, devido à forte valorização de 15,18% do concentrado nesse período.
Com o Real se valorizando 7,75% (considerando a média mensal) frente à moeda norte americana em junho, os insumos que têm seu preço balizado pelo dólar registraram queda ou estabilidade no período. As cotações dos adubos e corretivos caíram 0,15%.
Por outro lado, no acumulado do primeiro semestre, os valores desses produtos registraram alta de 2,33%, acompanhando o movimento de desvalorização cambial. A oferta restrita de milho em 2020, em função de adversidades climáticas na primeira safra e do alto volume exportado no fim de 2019, impulsionou os preços do cereal em mais de 20% no primeiro trimestre do ano, chegando a atingir R$ 60,00/sc.
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Já no segundo trimestre, os preços caíram, oscilando entre R$ 45,00/sc e R$ 50,00/sc. Nesse cenário, as rações acumularam valorização de 8,56% em 2020, desafiando os custos de produção do leite.
Com o recuo nas cotações do milho em junho, o leite obteve a melhor relação de troca do ano com o cereal (35,22 litros de leite por saca de 60 kg de milho). Entretanto, em junho de 2019 eram necessários 24,9 litros/sc 60kg. Dessa forma o poder de compra do produtor de leite diminuiu quase 30% na comparação anual.
Fonte: Cepea