Crise ou oportunidade: o que podemos aprender com o ciclo pecuário

A análise do ciclo pecuário de preços do boi gordo quando realizada em conjunto com a análise histórica da taxa de abate de fêmeas, nos permite fazer algumas inferências sobre o futuro dos preços.

A pecuária, há muito tempo, tem sido uma das espinhas dorsais da economia agrícola em muitas regiões do mundo. No entanto, recentemente, surgiram dúvidas sobre seu futuro, com pressões crescentes relacionadas às questões ambientais, bem-estar animal e o surgimento de fontes alternativas de proteína, entre outras. Apesar dessas pressões, os sistemas pecuários demonstram uma notável capacidade de adaptação às situações adversas. O que podemos aprender com o ciclo pecuário?

Portanto, todos os participantes da cadeia de produção de carne enfrentam um desafio significativo ao buscar equilibrar a viabilidade econômica, a responsabilidade ambiental e a justiça social. O ajuste desses fatores é essencial para garantir a sustentabilidade da produção de carne. Os dados relativos a esse equilíbrio devem gerar informações fundamentais e que fazem parte da preocupação central dos consumidores modernos.

O planejamento de uma fazenda de gado de corte não depende apenas de indicadores zootécnicos e das condições edafoclimáticas, mas também de um conjunto de variáveis econômicas. Essas variáveis podem influenciar o mercado de bovinos, promovendo transformações e alterações no sistema de produção e na
dinâmica dos ciclos pecuários. Isso pode incentivar, impedir ou desencorajar os produtores em investir ou até mesmo abandonar a atividade.

Entender o ciclo pecuário é fundamental para tomar decisões mais qualificadas e aprimorar a gestão na comercialização de animais na propriedade rural. Esse ciclo está intimamente relacionado com a produção de bezerros, o abate de fêmeas e os preços correspondentes, ocorrendo aproximadamente a cada 5-6 anos.

A evolução cíclica dos preços, com fases de alta (que tendem a estimular a retenção de matrizes e o investimento na pecuária) intercaladas com fases de baixa (caracterizadas por um aumento das taxas de abate de vacas e consequentemente, uma redução do capital investido no setor), pode não ser benéfica nem para os produtores nem para os consumidores. Ela parece favorecer principalmente os setores de comercialização e especulação, que têm um impacto mais significativo sobre os pecuaristas de menor porte.

Atualmente, estamos presenciando taxas de abate de fêmeas atingindo recordes em muitas regiões do país. A análise do ciclo pecuário de preços do boi gordo quando realizada em conjunto com a análise histórica da taxa de abate de fêmeas, nos permite fazer algumas inferências sobre o futuro dos preços. No gráfico abaixo é possível observar um padrão de comportamento, entre o momento de retomada do
crescimento de preços e a taxa de abate de fêmeas.

ciclo pecuário

A análise dos fenômenos sazonais e dos ciclos estacionais inerentes à pecuária de corte é fundamental para compreender as flutuações nos preços dos bezerros. Nas operações de cria, cerca da metade do faturamento do produtor provém da comercialização dessa categoria. Se olharmos para o passado como um indicativo do futuro, o gráfico sugere a hipótese de que há um sinal indicativo da retomada no ciclo de alta do boi gordo, e esse sinal ocorre quando a taxa média de abate anual de fêmeas começa a declinar.

O aumento do abate de fêmeas exerce uma influência significativa sobre a quantidade total de abates, o que, por sua vez, resulta em uma desvalorização da arroba dos machos a longo prazo. Este fator tem um impacto maior no preço da arroba do que a conjuntura econômica do país, que tem efeito mais imediato, mas os abates de fêmeas são os que realmente determinam o nível de preço da arroba no longo prazo. Em resumo, na pecuária, a variação repentina da oferta é o fator preponderante responsável pelo ciclo pecuário, superando a influência das variações da demanda.

O período de pico de preços, historicamente, tem ocorrido a cada seis anos e coincide com o período de redução da taxa de abate de fêmeas. Portanto, espera-se que os preços subam a partir de 2024, atingindo seu pico em 2026. Em suma, os novilhos comercializados na próxima alta do preço do boi gordo serão os filhos das matrizes acasaladas em 2023. Isso destaca a importância de planejar estrategicamente a produção de bezerros e a gestão do ciclo pecuário.

Entre muitas lições valiosas que podemos aprender com o ciclo pecuário, destacam-se três principais:

Conhecimento do Ciclo: O produtor que não conhece ou não compreende o ciclo pecuário está
navegando na contramão do mercado. É crucial estar ciente das fases de alta e baixa para tomar
decisões financeiramente sólidas.

Oportunidade de Aprendizado: Estamos passando por uma oportunidade de aperfeiçoamento e
aprendizado na gestão das fazendas. Isso inclui estratégias de manejo, reprodução, venda de animais
e compra de categorias de reposição nos melhores momentos.

Investimento na Cria: Em momentos de preços baixos, como nas categorias de reposição, incluindo
matrizes e touros, é hora de investir na cria. Isso garantirá um suprimento sólido de animais prontos
para o mercado quando os preços estiverem em alta novamente.

As flutuações sazonais e cíclicas dos preços são elementos chave que caracterizam o sistema de comercialização da pecuária de corte no Brasil. Por conseguinte, os produtores que não estão familiarizados com essas variações ou não se prepararam para estes eventos frequentemente enfrentam desafios financeiros mais intensos durante os períodos de queda nos preços.

Prova de reprodutores Hereford e Braford começa no Sul
Foto: Ana Virgínia Guterres

Diante disso, surge uma oportunidade para adquirir conhecimento e aprimorar a gestão das fazendas. Nesse contexto, os produtores frequentemente se questionam: “O que fazer enquanto o ciclo pecuário não sofre alterações?”

A tomada de decisão e as ações devem se concentrar nos aspectos da produção em que intervenções
imediatas são possíveis. Alguns elementos internos do sistema de produção, quando desalinhados, podem expor a atividade a riscos, mas podem ser ajustados com o uso de conhecimentos que não demandam necessariamente investimento financeiro direto.

Excesso de lotação, falta de planejamento forrageiro e sanitário, ausência de coleta e registro de dados e deficiência em planejamento financeiro são exemplos de causas internas que podem gerar problemas significativos nos resultados econômicos durante a fase de cria. Esses problemas podem manifestar-se na forma de baixos índices reprodutivos, desequilíbrio no fluxo de caixa, redução das taxas de desmame e baixo peso dos bezerros no desmame.

Ajustar a taxa de lotação da fazenda de acordo com a capacidade forrageira ao longo do ano, desfazer-se dos animais não produtivos e realizar a venda de animais gordos em momentos estratégicos pode contribuir para equilibrar o fluxo de caixa da fazenda, gerando um impacto positivo no resultado financeiro geral.

Em tempos de mudança e desafios constantes, a pecuária demonstra sua capacidade de adaptação e resiliência, e aqueles que compreendem os ciclos pecuários e aplicam estratégias adequadas estarão posicionados para enfrentar as adversidades e prosperar no setor. Portanto, é hora de investir na pecuária, aproveitando as oportunidades que o ciclo pecuário oferece.

Para mais informações sobre a cadeia produtiva da carne bovina acesse cicarne.com.br.

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