Possibilidade de negociação entre produtores rurais e a agroindústria na Cadecs tem feito com que os dois elos da cadeia produtiva dividam, em parte, os prejuízos causados pela “tempestade perfeita”.
A possibilidade de negociação entre produtores rurais e a agroindústria no âmbito das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) tem feito com que os dois elos da cadeia produtiva dividam, em parte, os prejuízos causados pela “tempestade perfeita”.
Um exemplo vem de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná. O suinocultor Eloi Daga Favero, que tem uma granja de 770 matrizes para produção de leitões desmamados (7,5 quilos), destaca a importância de uma planilha unificada com a agroindústria. “Tivemos um aumento significativo de custos e as empresas não conseguiram repassar esse reajuste integral porque também estão deficitárias. Mas hoje nós conseguimos sentar e debater a partir de um único número. Acabou aquela história de nós produtores levarmos um índice e a agroindústria outro”, pontuou Favero, ampliando: “Com a mesma planilha, no ano passado, mesmo em tempos de prejuízo da atividade, tivemos ganhos dentro das reuniões da Cadec. Não é o ganho que esperávamos, mas quando a crise reverter, assim como fomos parceiros na hora dos prejuízos, vamos reivindicar que sejamos parceiros nos lucros”, ressalta.
Quem também participa das reuniões de Cadec no Oeste do Paraná é a suinocultora Ana Cristina Schneider Scheaedler, de Toledo, que tem um sistema produtivo integrado para produzir leitões e engordá-los até cerca de 23 quilos.
O aumento nos custos tem feito seu faturamento diminuir em torno de 15%, mas com transparência e diálogo junto à agroindústria, a sensação na região tem sido de apertar os cintos até que venham dias melhores. “É uma queda significativa na receita. Mas a situação seria pior se não tivesse a Cadec com nossas reivindicações por aumento. Conseguimos reajustes que hoje fazem muita diferença no contexto de crise que estamos vivendo”, revela Ana Cristina.
Em Dois Vizinhos, na região Sudoeste, o produtor Miguel Thomas tem uma granja com 650 matrizes na mesma modalidade de Ana.
O suinocultor também cita como um dos principais avanços a unificação da planilha de custos dos produtores e da agroindústria no âmbito da Cadec. “Quando foi unificada a forma de obter os números tudo começou a melhorar, porque a empresa visualiza as defasagens que temos”, avalia, acrescentando: “Conseguimos reduzir os prejuízos, de 30% de defasagem num primeiro momento e para 10% agora. Hoje nós não estamos sentindo tanto a crise”, celebra Thomas.
Lei da Integração
O Sistema Faep/Senar-PR foi uma das principais entidades representativas do agronegócio nacional a encampar a ideia da criação, no Congresso Nacional, da chamada Lei da Integração (13.288/2016), que completou seis anos em maio de 2022.
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A ferramenta cria fóruns equilibrados que possuem representantes das agroindústrias e dos produtores para criar consensos nas grandes questões envolvidas na cadeia produtiva, incluindo os valores de repasse a pecuaristas das cadeias integradas – entre elas a suinocultura. Atualmente, o Paraná possui seis Cadecs na área de suinocultura.
Historicamente, o Sistema Faep/Senar-PR investiu esforços nesse sentido, tornando o Estado um exemplo para o Brasil. Há, por exemplo, um núcleo que reúne todas as comissões do Estado. Essa instância faz todo tipo de assessoramento às Cadecs, desde a realização de assembleias no interior tirando dúvidas sobre as comissões, auxiliando produtores na elaboração do regimento interno e subsidiando-os com informações técnicas para negociações com a agroindústria.
“Essa união de esforços é um ponto-chave para nos mantermos firmes na atividade. Conseguimos evoluir nisso com grande apoio da FAEP. No início, a gente não tinha experiência em termos de custo de produção, na realização de reuniões, então contamos com ajuda da Federação, que continua nos assessorando no diálogo com as empresas e no que mais precisarmos”, afirmou Thomas.