A fase inicial da vida de qualquer ser vivo é crucial para o seu desenvolvimento futuro, não seria diferente com os equídeos
Sendo, portanto, o potro a fase mais importante na criação de cavalos, na qual haverá a formação da base como substrato para o desenvolvimento futuro, prevenindo gastos por negligência ao criador. Para tanto, a base para todo o cavalo é oriunda de 3 ações: manejo, alimentação e genética. Elas quando aplicadas corretamente se complementam e trazem ganhos positivos para o animal (BECK e CINTRA, 2011).
A partir do nascimento até 36 meses de vida o equino é considerado potro, após isso ele deverá possuir condições para o desenvolvimento de atividades físicas e reprodutivas, levando em consideração seu desempenho físico e metabólico (CINTRA, 2011). Nesta idade os equinos apresentam grande sensibilidade, portanto, a atenção nesta fase deve ser redobrada. Sendo, portanto, um pilar para o equino o primeiro ano de vida, para gerar um máximo rendimento do seu potencial genético.
Cuidados Pré-Parto
Primeiramente os cuidados iniciam antes mesmo do nascimento, com a mãe, em relação a alimentação desta e condições físicas e metabólicas para manter-se e gerar o feto, sendo o terço final da gestação onde está a maior problemática, por ser quando o feto ganha mais de 80% do seu desenvolvimento como feto (REZENDE et al., 2012). Deve estar atento ao tipo de alimento e as quantidades necessárias para que a mãe possa dar suporte ao feto e se manter ao mesmo tempo.
Cuidado Pós-parto
Após o nascimento o potro apresenta altura e peso, respectivamente, entre 85 e 110 cm e 40Kg, podendo haver variações relacionados a raça (BUIDE, 1986). Nas primeiras 18 horas o manejo correto é imprescindível para a sobrevivência do potro. Logo após o parto, a égua irá limpar o recém-nascido estimulando-o a levantar-se sozinho. Entre 30 a 180 min, o potro levantará e tentará mamar e sugar o colostro, caso não consiga se levantar ou não procure os tetos ele deve ser direcionado pela pessoa que acompanhar, sendo, portanto, crucial a presença de uma pessoa monitorando essa fase inicial. A pessoa tem que ter capacidade de identificar a necessidade de sua intervenção, pois se ela for feita de modo incorreto ou sem a necessidade para tal, o tratador irá deixar o potro exausto, inabilitando os seus instintos (TORRES e JARDIM, 1981).
Os equinos, assim como outros animais domésticos nascem com a imunidade baixa, sendo necessário a ingestão do colostro para a sua sobrevivência. O colostro apresenta imunoglobulinas, que não são transferidas através da placenta, que serão absorvidas de modo satisfatório pelas paredes do intestino do potro fazendo com que este apresente imunidade passiva, entretanto, essa absorção diminuí com o passar do tempo do pós-parto (FRAPE, 2004). É importante que propriedades, a qual tenham criação de potros possuam banco de colostro, para que órfãos após o parto tenham o manejo inicial preservado e garanta sua sobrevivência (FRAPE, 2004).
PARKER (2008) disse que o tratamento do cordão umbilical é considerado o primeiro cuidado neonatal a ser feito, entrando em controvérsia com outros autores que dizem a primeira mamada como primeira ação a ser feita no potro. Entretanto, sabe-se que é o tratamento do umbigo é essencial e deve ser feito nas primeiras horas de vida. O rompimento do cordão umbilical pode ocorrer por viés naturais ou com intervenção do homem, tendo após a ruptura o tratamento do coto, passando-se produtos antissépticos (iodo à 10%) para que ocorra a total desinfecção e não seja um meio de contaminação para o potro. Aconselha-se a realização da antissepsia com o potro levantado, evitando assim o iodo escorrer e causar lesões na pele do animal.
A eliminação do mecônio, é outra fase de extrema importância para o potro, esta é induzida pela primeira mamada e ocorre nas primeiras 3 horas após o parto, continuando por mais 2 ou 3 dias. O mecônio é uma substância marrom-esverdeada, oriunda do consumo fetal do líquido amniótico e secreções acumuladas no intestino do mesmo (FRAPE, 2004).
Após estes cuidados iniciais, deve se relocar a mãe e o potro para um piquete maternidade, até que o potro complete 7 a 10 dias de nascimento. Após eles serão relocados para um piquete com contato com outros equinos, adaptando-o a socialização (CINTRA, 2011). Deve haver monitoramento constante para garantir alimentação, manejo e saúde dos animais.
Manejo Sanitário
O manejo sanitário consiste em práticas de higiene que condicionem ao animal boa saúde. Medidas profiláticas como limpeza das instalações e equipamentos, alimentação adequada, assim como prevenção contra doenças são práticas que abrange tal manejo (TORRES e JARDIM,1981). Estas medidas garantem o crescimento e desenvolvimento saudável do animal, evitando gastos extras ao dono. Sendo assim, a prevenção é o meio mais eficiente para o desempenho da criação, além de ter um custo mais baixo. Garantir manutenção das instalações e equipamentos, vacinação e vermifugação são práticas de valor irrisório comparado nos problemas oriundos da não prática dessas atividades (TORRES e JARDIM,1981).
O início do tratamento sanitário ocorre desde antes do parto, com a higiene do local em que ocorrerá o mesmo. Entretanto, de modo efetivo o manejo começa aos 30 dias, no qual ocorre a primeira vermifugação, tendo repetições a cada 60 dias até o potro completar 12 meses. O calendário de vacinação se inicia aos 4 meses para prevenir o animal contra doenças de notificação obrigatória, zoonoses e outras próprias da espécie, as quais desvalorizam o animal e geram problemas econômicos. Segue abaixo uma tabela de vacinas recomendadas.
Manejo dos cascos
Prática higiênica que não dão a devida atenção, porém tão importante quanto as demais. Deve-se limpar e tratar os cascos, ação que deve ser constante e que, entretanto, não ocorre de modo satisfatório sendo muitas vezes negligenciada acarretando desconforto físico para o potro e financeiro para o dono (LINS et al., 2008).
A inspeção e limpeza dos cascos diariamente faz com que haja um aumento na longevidade do animal e, também, possibilita encontrar problemas congênitos relacionados ao casco, tendo tempo para que se possa intervir e obter resultados positivos. Averiguando-se a necessidade do casqueamento para o animal (CINTRA, 2011).
Diferente dos animais adultos, os potros possuem os membros anteriores ligeiramente voltados para fora com angulação de 10 a 15°. Há uma espécie de correção natural, que pode ocorrer até os 4 meses, em que o desenvolvimento do tórax e das escápulas se distanciam e rotacionam os membros para frente (PARKER, 2008; LINS et al., 2008). Entretanto, se não ocorrer essa correção, deverá se intervir com a realização de casqueamento corretivo, fornecendo um crescimento adequado para o potro, ele deve ser realizado, somente, a partir dos 60 dias de idade (PARKER, 2008).
Alterações no sistema locomotor do potro são cruciais para o futuro de sua vida atlética, tendo consequências graves se houver o manejo inadequado. Portanto, deve-se sempre verificar se há ou não necessidade de se intervir por meio do casqueamento, pois um procedimento errado pode se agravar e acarretar em desvios de aprumos (PAGANELA et al, 2010). Assim, é necessário um acompanhamento para verificar a necessidade do procedimento. PAGANELA et al. (2010) recomenta a cada 28-30 dias o casqueamento em potros normais e a cada 14 dias em potros com desvios de aprumos, até que se alcance a forma ideal.
Manejo Alimentar
A deficiência de nutricional e o desequilíbrio de nutrientes tem efeito negativo nos ossos e cartilagens, assim como alteram de modo insatisfatório o metabolismo do animal, prejudicando o seu desenvolvimento e desempenho em atividades.
Apesar do crescente avanço tecnológico e frequente desenvolvimento de pesquisas, a equideocultura há pouco vem ganhando importância científica no desenvolvimento tecnológico da nutrição equina. O National Research Council (NRC) lançou em 2007, uma edição com as exigências nutricionais para equinos, o que se deu quase 20 anos após a última versão revisada. Embora seja evidente o crescimento de pesquisas relacionadas à nutrição equina, os resultados obtidos ainda são precários se analisarmos sua aplicabilidade no dia a dia dos produtores (REZENDE et al., 2012).
O manejo alimentar tem início no terço final da gestação, passando pelo desmame, momento mais importante e delicado na criação. Sendo assim, a alimentação da mãe afetará diretamente na nutrição do potro, tendo, então, que ser fornecido à mãe uma dieta balanceada para que ela possa ter um suporte nutricional suficiente para ela e para o feto (TORRES e JARDIM, 1981; PARKER, 2008).
Na equideocultura procura-se que o potro possua um crescimento ótimo, isso se enquadre em estruturas ósseas e musculares em seu pleno desenvolvimento sem o acúmulo de gordura. Em vista disso, o potro deve manter uma dieta balanceada, de forma a suprir as exigências nutricionais.
Amamentação e desmame
O Leite materno é de suma importância para o íntegro crescimento do potro até o 3º mês de vida, por este conter componentes essenciais tais como: 1,6% de gordura, 2,2% de proteína, 6% de lactose, 0,1% de cálcio e 47 cal/100g, tendo variações de acordo com a raça (Ebing e Rutgers, 2006). A produção de leite exige muito das condições físicas e metabólicas da égua sendo, então, necessário manter uma dieta balanceada, com acesso a pastoreio verde e suplementação mineral e proteica se for verificado necessidade para tal. Fornecer sal mineralizado, para égua no final da gestação e para o potro, este último precisa de acompanhamento, pois a ingestão excessiva pode causar intoxicação (TORRES e JARDIM, 1985).
As condições de criação no período de aleitamento são variáveis, podendo corresponder a metade do período de gestação da espécie, entretanto, não se deve tomar como base a idade para determinar o período de desmame. Portanto, para se determinar o momento adequado deve-se observar a capacidade do potro de se alimentar de volumoso/concentrado sem que haja perturbações gastrointestinais, e também o desenvolvimento dentário como a presença dos primeiros molares e a postura de beberagem são fortes indicativos para o desmame (TORRES e JARDIM, 1981). Sendo assim, o desmame ocorre entre 5 a 6 meses, tendo como principal critério a capacidade do potro de digerir concentrado (MEYER, 1995).
Deve-se levar em consideração o impacto que o desmame pode causar no potro, tanto em aspectos físicos como psíquicos, sendo o período mais crítico da criação (APTER, 1996; FRAPE, 2004; CINTRA, 2011). Portanto, deve se respeitar a época ideal e utilizar práticas de manejo adequadas. Há dois tipos de desmame, o natural em que há a separação do potro da mãe de forma abrupta, é o método mais tradicional e constantemente utilizado (FRAPE, 2004). Entretanto, não é o mais adequado. A separação em pequenos intervalos é a mais adequado, em que o tempo de afastamento vai sendo aumentado gradativamente, no qual o potro fica sempre no local em que ele está habituado e desloca-se a mãe para um lugar em que o potro não consiga vê-la nem a ouvir, até o tempo em que ele se encontra habituado e o processo de desmame se completa (MEYER, 1995).
Crescimento
No nascimento os potros possuem, em média, 60-70% da sua altura final quando adultos. Aos 24 meses atinge 95% e aos 60 meses encerra seu desenvolvimento corporal, alternando proporcionalmente de acordo com sua raça, sexo e indivíduo. Fêmeas em geral apresentam desenvolvimento tardio (CINTRA, 2011).
Testes sobre Doenças Ortopédicas do Desenvolvimento (DOD) realizados, em potros puro sangue inglês, por Lins et al. (2008) constataram que desequilíbrios nutricionais são os maiores causadores desses problemas ortopédicos. Dessa forma, o balanço nutricional da dieta fornecida aos animais se mostra um poderoso aliado na prevenção de doenças ou desequilíbrios morfofuncionais assim como a manutenção do funcionamento fisiológico do organismo.
Segundo Frape (2004), a alimentação no cocho pode ser uma alternativa viável para acelerar a maturação fisiológica e anatômica do potro, suprindo os déficits nutricionais provenientes da alimentação exclusiva com leite. Quando as éguas são alimentadas, os potros tendem a começar a beliscar e se alimentar junto com a mãe. Esse comportamento é mais observado nos períodos da manhã e ao anoitecer, sendo mais frequentes a partir do dia 10 a 21 (CINTRA, 2011). Nesse momento pode se utilizar do sistema creep-feeding no qual é fornecido ao potro uma alimentação concentrada diferenciada.
Doma e Imprinting Trainning
Observando-se o comportamento animal, notou-se a necessidade de adequar as condições de criação à natureza comportamental dos cavalos assim como as horas de trabalho diário que o animal suporta de acordo com sua capacidade física e nutricional. Dessa forma surgiu a doma racional ou gentil e o imprinting training (SPIER, 2004).
A doma racional mostrou-se completamente eficaz em todos os processos de educação do animal, pois com procedimentos gentis, ela conseguiu extrair do cavalo o máximo de desempenho com a mínimo de trabalho, diferentemente da metodologia rústica e tradicional que muitas vezes acabava sendo traumática para o animal (BECK, 1985). A doma gentil é realizada em uma sequência lógica de exercícios, trabalhados à partir dos princípios de pressão, alívio, repetição e continuidade, que costumam ser adaptados aos métodos de cada domador. Essa forma de praticar exercícios cria laços de aceitação e respeito do cavalo com o homem, e não mais poder e medo, como era transmitido na doma tradicional (DIEHL, 2005).
O imprintinig training consiste na aproximação do homem com o cavalo desde os primeiros momentos após o seu nascimento, facilitando os futuros manejos e a doma (CINTRA, 2011). Apesar da grande utilidade prática, o imprinting tem como o seu maior vilão a falta de conhecimento dos métodos e resultados devido a reduzida mão de obra qualificada (SCHMIDEK et al. 2011).
Muito se discute com relação ao tempo ideal para se começar a domar e trabalhar os potros. Beck (1985), ao relatar sobre o assunto, divide o processo de doma em duas fases, sendo a aproximação, doma de baixo e doma de cima. A fase de aproximação pode ser utilizada desde os primeiros dias de vida, tornando o potro mais acessível aos ensinamentos do homem. A doma de baixo é um passo sequencial e é desenvolvida ao longo do crescimento do animal, englobando os primeiros contatos com os equipamentos de montaria. Ao completar o seu desenvolvimento o potro pode iniciar a doma de cima, montando e treinando para o fim a qual se destina.
Apesar da doma gentil ser mostrar melhores resultados que a doma tradicional, ela deve ser feita de acordo com a aptidão física adequada de desenvolvimento do potro, para desempenhar os exercícios sem adquirir efeitos negativos devido à má manipulação ou esforço excessivo, como evidenciam Sondergaard e Jargo (2010).
Conclusão
O manejo adequado na criação de produtos é crucial para o desenvolvimento físico e mental do futuro animal atleta, de trabalho e de lazer. A aplicação dessas práticas é importante não só para o desenvolvimento em geral, mas em aspectos financeiros em que a ação preventiva favorecerá um maior aproveitamento do animal com um menor gasto. Portanto, prevenir garantindo um animal saudável culminará em uma animal em plenas condições, capaz de atender quaisquer demandas correlacionadas com sua raça.
Referências
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Autor: GEMEQ – Grupo de Estudos em Medicina Equina da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) – Sede Dois Irmãos .
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