Criação de galinhas livres de gaiola ganha mais participação de mercado; seminário debateu estratégias e desafios para mais produtores aderirem ao sistema
Nos dias 28 e 29 de junho, a Alianima – organização que atua na agenda do bem-estar animal — promoveu o I Seminário sobre Bem-estar na Avicultura de Postura, com a participação de especialistas da área e produtores que adotaram como estratégia e posicionamento no mercado o bem-estar das galinhas poedeiras. Durante os dois dias de evento, foram apresentados os desafios, resultados e percepções do mercado brasileiro de avicultura para que mais produtores se unam ao movimento livre de gaiolas.
Na ocasião, a organização realizou o lançamento da 2ª edição do Estudo de Caso: Abrindo as Gaiolas, que desta vez analisa o mercado pelo lado de três produtores brasileiros de ovos de galinhas em sistemas livres de gaiolas. A publicação complementa a primeira edição, que apresentou cases de empresas do setor alimentício líderes de mercado que se comprometeram e que têm avançado e/ou concluíram com sucesso a transição para ovos livres de gaiolas.
“Queremos fazer a ponte entre os produtores e as empresas que já assumiram o compromisso público de não utilizar ou comercializar ovos e seus derivados provenientes de galinhas criadas em gaiolas e avançar cada vez mais para o sistema livre. No Brasil, não temos uma legislação específica para acabar com o sistema de gaiola, mas por outro lado, 89% dos consumidores brasileiros consideram importante que os animais de produção sejam bem tratados”, ressaltou Patrycia Sato, médica veterinária e presidente da Alianima, durante a abertura do seminário.
O que dizem os produtores de galinhas livres
Aumento na qualidade dos ovos, maior longevidade de produção, mais saúde para as aves e melhorias até na motivação dos colaboradores foram benefícios apontados com unanimidade pelos produtores da Planalto Ovos (MG), Sunny Eggs (GO) e Ovos Mombuca (SP), que contaram suas experiências no primeiro dia do seminário. “O bem-estar animal está relacionado diretamente à resistência imunológica dos animais, resultando numa qualidade melhor do produto e maior tempo de produção desse animal. Nossos colaboradores se sentem melhor ao lidar com galinhas livres de gaiolas”, contou Daniel Mohallem, sócio da Planalto Ovos.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores é esclarecer ao próprio consumidor sobre as diferenças entre os quatro tipos de ovos disponíveis no mercado: orgânico, caipira, cage-free (livre de gaiolas) e convencional (sistema de gaiolas). No Brasil, por não existir uma normatização dos rótulos, embalagens de ovos oriundos de gaiolas estampam imagens de galinhas no campo. E o consumidor, na hora da decisão de compra, sem poder avaliar a diferenciação, acaba optando pelo menor preço.
“O consumidor não sabe a diferença dos ovos disponíveis no mercado. A única forma de mostrar a diferença é ir para frente das gôndolas e explicar para essas pessoas o que é o ovo cage-free. Nosso desafio é mostrar que o meu ovo branco cage-free é igual ao vermelho”, esclareceu Hélio Paiva, fundador da Sunnyeggs.
Ao contrário do que se esperava, a pandemia não prejudicou tanto o setor. Em 2021, cada brasileiro consumiu em média 257 ovos, um aumento de quatro ovos a mais que o ano anterior; e 25 ovos a mais que a média mundial. Para 2022, a expectativa é que o consumo de ovos possa chegar a 262 unidades por brasileiro, segundo a ABPA.
E mesmo com o aumento nos insumos, o melhor valor de mercado do ovo livre de gaiola foi o que ajudou os produtores a enfrentarem as mudanças econômicas, como afirmou o diretor-executivo da Ovos Mombuca. “O bem-estar animal foi a estratégia adotada para alcançarmos uma diferenciação nos ovos. Antes a Mombuca contava com 75% da produção de ovos em sistema convencional e 25% de produção alternativa, e hoje invertemos o cenário. Foi isso que nos fez sobreviver”, disse Tiago Wakiyama.
Mercado impulsiona mudanças
No segundo dia do Seminário foi a vez dos especialistas do setor de alimentos analisarem as tendências da agropecuária, especificamente da avicultura de postura. Durante as apresentações, o cenário detalhado mostra que nos últimos dez anos a pauta de bem-estar animal já é uma realidade para grandes e pequenas empresas e demonstra não ser mais uma opção para os players escolherem entre investir ou não, mas sim uma necessidade para sobreviver.
“O conceito de consumo é diferente para as gerações. O bem-estar animal é crucial para o investidor que tem o enfoque ESG. Existe o custo de se fazer as mudanças de bem-estar animal, mas o risco de não fazer é maior”, alertou o professor e doutor Celso Funcia Lemme, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD da UFRJ).
Também participaram do segundo dia do I Seminário sobre Bem-estar na Avicultura de Postura da Alianima o criador do selo Produtor do Bem, Leonardo de La Vega; a médica veterinária Lizie Buss, da Coordenação de Boas Práticas e Bem-estar Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (CBPA/SDI/MAPA); e o diretor-executivo da Fai Farms, Murilo Quintiliano.
A Alianima é uma organização de proteção animal e ambiental que atua para reduzir o sofrimento de animais impactados pela ação humana e refrear a degradação dos ecossistemas brasileiros, adotando uma perspectiva não-antropocêntrica e embasamento técnico-científico para compor suas ações.