Cresce o interesse do pecuarista por contratos futuros de insumos

A gestão mais refinada do custo de produção está levando o produtor a olhar com mais atenção ferramentas financeiras que não são somente para a boiada.

De olho nos custos que terá daqui para frente, o pecuarista brasileiro está indo mais à bolsa de valores. Esse movimento não é apenas para negociar os tradicionais contratos futuros de boi. O interesse vai além. O produto começa, também, a mostrar interesse por travar preços de um de seus principais insumos, o milho.

Segundo a médica veterinária e economista, Lygia Pimentel, diretora executiva da consultoria Agrifatto, o produtor está aprendendo a se proteger. Para ela, mesmo a cerca de três meses para o fim do ano, é possível fechar bons negócios, seja para o  milho ou o boi.

“Os contratos são mensais, portanto, há tempo hábil, sim, para o produtor se proteger com derivativos”, afirma Lygia.

Os derivativos são ferramentas do mercado financeiro que funcionam como uma espécie de seguro (hedge) para o produtor rural. Através desse instrumento, ele trava o preço da commodity desejada, o boi, o milho ou soja, por exemplo, e se protege da alta variação de preços ou de altas e baixas no futuro.

Foco no custo

Há, ainda, muito desconhecimento entre os pecuaristas sobre o uso do hedge. Mas, aos poucos, o setor vai se familiarizando com ferramentas financeiras. A lógica é que, no caso do preço do boi, ainda é vantajoso para o produtor esperar por preços maiores. A arroba foi cotada à média de R$ 236, à vista, na semana passada, na porção sudeste de Mato Grosso, o maior produtor de bovinos no País, com 31 milhões de animais. Agora, já chegou em R$ 240 à vista.

Já no caso dos insumos, que formam a base do custo de produção, o interesse é maior em evitar ao máximo pagar mais caro, lá na frente. É essa conta que o pecuarista está fazendo com mais refinamento. Em Mato Grosso, por exemplo, o custo total de produção por arroba saltou 5,75%, de R$ 176,52 para R$ 186,68, na comparação entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

“A tendência é o custo crescer ainda mais, pois tudo está subindo. Por isso, de modo geral, o que temos observado é uma busca menor por fechamento de contratos de futuros de boi gordo e mais para insumos. Este ano passamos a observar milimetricamente esse mercado”, diz Pimentel.

Boi e milho ativos na bolsa

Cerca de 60% da base de produtores atendidos pela Agrifatto travaram pelo menos a metade de seus custos com algum tipo de derivativo. E estão seguindo a tendência de mercado. Segundo os dados da B3, os derivativos de boi e milho estão entre os mais ativos no grupo das commodities do agro.

No caso do boi gordo, no acumulado de janeiro a agosto desde ano (os dados mais recentes na base de dados da B3), era de 317,1 mil contratos e somavam R$ 21,5 bilhões. O número é significativo se comparado a 2019 inteiro, ano em que a B3 contabilizou 403 mil contratos de um total de R$ 23,9 bilhões.

Mas o milho, que é a aposta do pecuarista, segundo Lygia, segue com maior expressividade.  No acumulado de janeiro a agosto deste ano, o grão teve 914,5 mil contratos fechados, somando um total de R$ 20,4 bilhões. O número parcial do ano superou o total de contratos de 2019. No ano passado, o cereal fechou com 898,2 mil contratos, para um total de R$ 15,8 bilhões.

A opção por derivativos cresce à medida que sobem também as intenções de confinamento no País. Tomando por o Estado de Mato Grosso, a intenção de confinar saiu de 53,7% para 68,2% na mais recente pesquisa do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea). São esperados no Estado 641 mil bovinos confinados na segunda safra de boi, no ano, contra 577,6 mil na primeira safra deste ano.

Do frigorífico à bolsa

Na cesta de ferramentas financeiras, o pecuarista tem à mão desde negociações diretas com frigoríficos a operações realizadas por corretoras no ambiente da bolsa de valor como opções de derivativos. Segundo Lygia, ambas as ferramentas possuem suas características. O tipo mais conhecido é o mercado de boi a termo, oferecido pelos frigoríficos – podendo contar com condições facilitadas –, ao passo que os derivativos negociados na bolsa de valor B3 oferecem mais liberdade ao produtor para negociar com quem quiser.

“Tem pecuarista que não gosta de fazer o termo com o frigorífico, pois ele perde o poder de negociação. Por outro lado, as opções de derivativos na bolsa exigem maior capital”, diz.

Em um contrato de boi a termo, o produtor fecha o preço sem necessidade de dar nenhum valor em garantia. No ambiente de bolsa é preciso dar, como garantia, pelo menos 6% do valor do contrato e o pagamento ou recebimento de ajustes diários. Por contrato são negociadas 330 arrobas, o que pode significar a venda de 18 a 20 bovinos.

Com Informações do Portal DBO e Agrifatto

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