O agronegócio brasileiro tem apresentado forte crescimento de suas vendas externas desde o ano 2000. Neste momento de possíveis mudanças na configuração do comércio internacional, provocadas pelos Estados Unidos principalmente, é essencial ter uma clara noção da importância relativa dos principais países e regiões como destinos das exportações do agronegócio nacional.
De 2000 a 2016, as vendas do setor para o exterior cresceram expressivos 257% em volume, o que representa uma taxa média anual de aumento de 8%. A China tem papel relevante para esse desempenho exportador do agronegócio brasileiro, apesar da desaceleração no ritmo de crescimento dos embarques – de 2005 a 2016, a quantidade exportada ao país asiático aumentou expressivos 577%, de 2011 a 2016, 27%, enquanto entre 2015 e 2016, houve redução de 2%.
A pauta de compras do país asiático concentra-se nos produtos do complexo da soja: em 2016, 74% (em termos de valor em dólar) de tudo que a China comprou do agronegócio brasileiro foi soja em grão. Produtos florestais participaram com 9,8%, aves e suínos, com 4,6%, açúcar, com 3% e bovídeos, com 5,5% do total.
Mesmo crescendo a taxas menores, um incremento nas relações comerciais com a China tende a ter forte impacto, principalmente quando se observa o potencial de absorção quando da reabertura de mercados para novos produtos. Como exemplo, pode-se observar que, logo após retomar as compras da carne bovina brasileira em meados de 2015, o país asiático já figurou como segundo maior destino do produto em 2016.
O comércio com a China tem mantido o continente asiático (exceto Oriente Médio) como principal destino das exportações agro brasileiras. Para este continente, o País vende especialmente açúcar, produtos florestais, carnes de aves e suínos e carne bovina. Mais recentemente, a Índia também tem se destacado como parceiro comercial do Brasil; em sua pauta de aquisições em 2016, os dois principais produtos são o açúcar, com participação de 59%, e o óleo de soja, com 25% do total embarcado pelo Brasil.
Os países do bloco europeu representam o segundo maior destino das exportações agro brasileiras, ainda que tenham reduzido a participação no total adquirido ao longo dos últimos 17 anos, demandando principalmente cereais (com destaque para soja em grão), produtos florestais, café, frutas e carne bovina.
Estados Unidos também figuram como importante destino das exportações agro brasileiras, tendo a participação reduzida ao longo desse mesmo período e apresentando uma pauta de compras bem mais diversificada que a China, adquirindo principalmente produtos florestais, café, etanol e fumo.
Os países do Oriente Médio, por sua vez, têm demandado principalmente carnes de aves e suínos, açúcar, cereais (incluindo a soja em grão) e carne bovina. O volume de produtos com destino ao Oriente Médio cresceu nove vezes últimos 17 anos. Só entre 2015 e 2016, o quantum exportado aumentou 15%.
Quando considerados os países da América Latina como destino das exportações brasileiras, o volume exportado duplicou no período. Atualmente, o México tem sido visto com importante potencial de estreitamento das relações comerciais com o Brasil, principalmente para produtos como milho, carnes e arroz. No entanto, quando considerados apenas nossos vizinhos, os países da América do Sul, esse crescimento foi menor, de 58%.
Em síntese, a evolução do comércio internacional dos produtos agro nos últimos anos mostra que as vendas cresceram expressivamente para a Ásia (exceto Oriente Médio) e para os países do Oriente Médio. Houve crescimento, mas bem mais modesto, das vendas brasileiras para os países da Comunidade Europeia e da América do Sul. Na América do Sul, países importantes como Argentina, Chile e Uruguai reduziram sua participação enquanto destinos das exportações do agronegócio nacional. Já os países da América do Norte, principalmente EUA, aumentaram as compras (em volume), mas tiveram sua participação reduzida, relativamente ao total exportado pelo País.
Observa-se, também, que os mercados de renda média e baixa têm adquirido principalmente açúcar, carnes de aves e suínos e os produtos do complexo da soja. Os países de renda mais alta apresentaram pauta mais diversificada, na qual os produtos florestais, café e frutas têm relevância. Se o País tiver como meta de médio e longo prazos acessar parceiros comerciais de maior renda – com vendas de maior valor agregado –, será preciso cumprir uma extensa lista de requisitos na área sanitária, ambiental, controle de qualidade, etc. Esse, aliás, é um dos maiores desafios para manutenção da viabilidade e sustentabilidade do agronegócio no Brasil, e que estão lastreadas no comportamento das exportações.
Diante da nova orientação das negociações de comércio internacional, o Brasil necessitará alocar maiores esforços também em negociações bilaterais. Assim, é importante identificar oportunidades de crescimento das suas vendas, levando-se em conta tanto a pauta de produtos como as exigências dos parceiros comerciais com quem negociações sejam implementadas.
Autor:
Andreia Adami
Pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea
cepea@usp.br
Data de publicação: 11/04/2017