Copersucar: alta do transporte individual e app pode ampliar demanda do etanol

O levantamento estima que o consumo de combustíveis no Ciclo Otto, atualmente em 60 bilhões de litros por ano, deve superar os 70 bilhões de litros anuais nos próximos dez anos.

São Paulo, 7 – O consumo de combustíveis no Ciclo Otto deve continuar crescendo na próxima década, impulsionado pela mudança nos padrões de mobilidade e pela ampliação da frota flex. Esse cenário abre espaço para o etanol hidratado como uma solução viável e de baixo custo para a descarbonização do setor de transportes, de acordo com um estudo da Copersucar. O levantamento estima que o consumo de combustíveis no Ciclo Otto, atualmente em 60 bilhões de litros por ano, deve superar os 70 bilhões de litros anuais nos próximos dez anos.

O estudo, que analisou os últimos sete anos, revela uma transformação significativa no transporte brasileiro, com o aumento do uso de veículos individuais em detrimento do transporte coletivo. “Observamos uma migração do transporte coletivo para o individual, com redução no uso de ônibus e trens metropolitanos e aumento no uso de carros próprios e aplicativos de transporte”, afirmou ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o CEO da Copersucar, Tomas Manzano.

A participação do transporte coletivo caiu de 48% para 34% nesse período, enquanto o uso de veículos próprios subiu de 22% para 30%. Aplicativos de transporte, que praticamente não existiam há sete anos, já representam 11% da mobilidade urbana, mesma fatia alcançada pelas motocicletas.

A distância média percorrida anualmente por veículo no Brasil também aumentou, passando de menos de 13 mil quilômetros para 14,5 mil quilômetros. Esse crescimento reflete, em parte, a expansão dos aplicativos de transporte, cujos veículos rodam de três a cinco vezes mais do que os carros particulares. Como consequência, a demanda por combustíveis aumentou expressivamente, com destaque para o etanol, que já é uma alternativa relevante na redução das emissões da frota circulante, majoritariamente flex.

Atualmente, o Brasil possui cerca de 42 milhões de veículos, sendo 35 milhões (83%) flex. No entanto, mais de 70% desses automóveis ainda utilizam gasolina. A Copersucar aposta que esse quadro deve mudar nos próximos anos, impulsionado por fatores como a reforma tributária e campanhas educativas sobre os benefícios econômicos, sociais e ambientais do etanol.

Apesar do potencial, o consumo de etanol ainda é baixo em alguns Estados. Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, utilizam menos de 10% de etanol no total de combustíveis consumidos. Mesmo em São Paulo, onde a paridade de preços favorece o biocombustível, metade dos consumidores ainda opta pela gasolina.

A projeção da Copersucar indica que, até 2035, a frota flex continuará a ser dominante, respondendo por pelo menos 75% do total de veículos, mesmo com o avanço da eletrificação. O aumento do uso de etanol na frota flex poderia evitar, a cada 10 pontos porcentuais de crescimento, a emissão de cerca de 6 milhões de toneladas de CO2 e gerar demanda adicional de 5 bilhões de litros do combustível.

Desde a introdução dos carros flex no Brasil, em 2003, o País conseguiu reduzir significativamente suas emissões de CO2. “Desde então, a substituição da gasolina C por etanol hidratado evitou a emissão de cerca de 280 milhões de toneladas de CO2”, destacou a Copersucar.

No entanto, Manzano reconhece que a principal barreira para a expansão do etanol segue sendo o comportamento do consumidor. “O maior limitador é o comportamento do consumidor, que ainda tem alguns mitos e paradigmas em relação ao etanol, principalmente sobre desempenho e manutenção”, afirmou. Para ele, campanhas de esclarecimento são essenciais para aumentar a aceitação do biocombustível, incluindo entre motoristas de aplicativos.

O Brasil já conta com uma infraestrutura robusta de abastecimento, com mais de 40 mil postos de combustíveis, o que facilita a expansão do etanol. Além disso, políticas públicas como o RenovaBio e o Mover, voltadas para eficiência energética e descarbonização, reforçam o compromisso do país com os biocombustíveis. “O arcabouço regulatório está muito mais estruturado e evoluído do que no passado”, ressaltou Manzano.

Para atender à crescente demanda, a Copersucar vem expandindo sua capacidade produtiva. “Temos a maior base de moagem de cana do mundo, com 110 milhões de toneladas por ano por meio de usinas cooperadas, e continuamos ampliando. Além disso, criamos a plataforma Evolua, em parceria com a Vibra, que comercializa 30% do etanol transacionado no Brasil”, afirmou Manzano.

Além do transporte no Brasil. O CEO da Copersucar também destacou o potencial do etanol em novas aplicações, como combustível sustentável de aviação (SAF) e bioplásticos, embora reconheça que esses mercados ainda demandam desenvolvimento tecnológico e redução de custos.

Ele também vê oportunidades no mercado internacional. “Vários países têm programas de mistura de etanol na gasolina, como Estados Unidos, Índia e Japão. O etanol brasileiro, com sua baixa intensidade de carbono, tem vantagem competitiva nesses mercados”, afirmou. No entanto, ele pondera que a expansão da exportação depende de fatores geopolíticos e regulatórios.

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