Incidência de insetos e até inimigos ocultos compromete a produtividade das lavouras e causa prejuízos aos sojicultores; manejo correto ajuda a controlar e evitar populações
Manejo adequado com uso de produtos corretos salva uma lavoura. Considerada indústria a céu aberto, a agricultura é refém de intempéries que podem colocar tudo a perder. Não bastasse o risco climático, os produtores têm importantes inimigos para combater durante a safra, como as pragas e os nematóides que atacam as plantas e podem causar prejuízos. É por isso que o manejo fitossanitário é um dos pontos que exige tanta atenção dos sojicultores.
Esses invasores serão temas de dois painéis no Master Meeting Soja 2022, um dos principais eventos da sojicultura do País, realizado entre os dias 12 e 14 de abril, em Cuiabá. Os assuntos serão debatidos especificamente no dia 13, no período matutino, e terá como palestrantes especialistas renomados no Brasil e no mundo. O Painel Pragas terá como palestrantes o professor Dr. Geraldo Papa, da Unesp, que falará sobre Manejo de lagartas de difícil controle e percevejos; o professor Paulo Degrande, da UFGD, que palestrará sobre Cascudinho-da-soja: o que aprendemos no passado para o manejo no presente; o pesquisador do Irac, Fábio Santos, que falará sobre Manejo de residência de pragas da soja no Brasil; e Clérison Perini, da Proteplan, que apresentará os Resultados da safra: manejo de pragas iniciais e sugadores.
De acordo com Clérison, sua palestra tem o objetivo informar e orientar o produtor para ter o mínimo de perdas em decorrência de insetos-praga na lavoura de soja. Ele falará sobre o manejo de pragas iniciais como lagartas e besouros desfolhadores e manejo de sugadores, como a mosca branca e os percevejos. “O cascudinho-da-soja, a mosca-branca e os percevejos (marrom e barriga-verde) têm ocorrido em elevados níveis de infestação nas lavouras de Mato Grosso. E os produtores necessitam de uma orientação mais assertiva para o controle”, comenta ao dizer que o manejo eficiente evita perdas de produtividade. “E o manejo compreende desde o entendimento do comportamento e dos danos desses insetos-praga até os níveis de controle e o posicionamento de inseticidas para controle mais efetivo”, acrescenta o pesquisador.
O manejo de pragas iniciais é importante em algumas regiões e deve considerar alguns fatores como histórico de ocorrência ou monitoramento e o uso de tratamento de sementes com inseticidas direcionados para cada alvo. Quanto à mosca-branca, ele afirma que o manejo nas lavouras de Mato Grosso precisa mudar e melhorar, pois este “inimigo oculto” acarreta na perda de rendimento de muitas variedades, tema de estudo cujos resultados serão apresentados durante o evento.
Com relação aos percevejos, que comprometem a produtividade e a qualidade das sementes, Clérison adianta que o Manejo Estratégico ou Inteligente de Percevejos (MEP ou MIP) será detalhado durante a palestra para melhorar o controle das populações no campo.
Nematóides
Causadores de prejuízos que chegam a aproximadamente R$ 35 bilhões por ano, sendo cerca de 16 bilhões somente na sojicultura, conforme dados da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), os nematóides são outro inimigo oculto dos produtores de soja. Para auxiliá-los a lidar com esse mal invisível, que está cada vez mais presente no solo onde a soja é cultivada, o Painel Nematóides reunirá um time de feras para debater o tema Controle químico e biológico. Entre os palestrantes estão a nematologista e proprietária da Agromax, Tatiane Zambiasi; e os especialistas Fernando Godinho, da IFG, e Claúdia Dias Arieira, da UEM. Eles apresentarão o que há de mais novo e relevante a nível de controle químico e biológico, novas moléculas que estão para ser lançadas no mercado, com seus respectivos pontos fortes e fracos.
Segundo Tatiane, atualmente os nematóides estão entre as pragas e doenças mais importantes na sojicultora brasileira. “É uma perda financeira gigantesca e o problema é que trata-se de um organismo que fica embaixo da terra e afeta diretamente a produtividade da soja”, alerta Tatiane.
Ela informa que o nematóide Pratylenchus brachyurus é nativo do Brasil e de vários países da América do Sul e outros foram trazidos de outras regiões. “Eles penetram no solo e entram na raiz da planta, se alimentando do conteúdo da raiz. E a planta tem dificuldade para absorver água e nutrientes, o que compromete seu desenvolvimento e produtividade.
Para minimizar a incidência da doença e os impactos na produtividade das lavouras, os palestrantes vão apresentar as opções disponíveis aos produtores, como o controle químico e biológico. No caso do nematóide Pratylenchus brachyurus, que é nativo, Tatiane orienta que uma das formas de controle é cultivar culturas que ele não gosta (não multiplica) como as crotalárias, por exemplo. Já para os nematóides de cisto e de galhas, que também têm alta incidência no Brasil e em Mato Grosso, o ideal é evitar sua disseminação. “Partículas de terra numa máquina ou pneu que viaja de uma propriedade para outra pode ajudar na dispersão deles. Então é importante lavar o maquinário e outros locais que possam acumular terra. Inclusive a água que corre de uma fazenda para outra pode levar solo ‘contaminado’. Então a melhor alternativa é a prevenção”.
Químico ou biológico?
O produtor rural pode utilizar diferentes condutas para controle de nematóides. O importante é contribuir para não disseminar a praga, o que será profundamente discutido durante o Master Meeting Soja 2022. Em solos onde há presença desses organismos, o mais indicado é cultivar plantas que não são hospedeiras. Também há o controle varietal, alternativo, químico e biológico.
A nematologista Tatiane Zambiasi explica que o controle químico, como o próprio nome diz, é feito com produtos químicos, conduta que os produtores estão mais acostumados a adotar para combater doenças e pragas. “É um controle muito eficiente. São produtos com ação rápida e que matam uma boa população de nematóides”, afirma. Já o controle biológico, que ganhou força nos últimos 10 anos com o avanço nas pesquisas, é feito com organismos biológicos como fungos e bactérias. “Esses fungos e bactérias têm ações diferentes para matar os nematóides. É um controle excelente, mas há dificuldade em trabalhar com ele porque é preciso tomar cuidados que não são exigidos no controle químico, como não aplicar o produto na hora do almoço, com o sol muito quente, não aplicar num solo descoberto, com pouca matéria orgânica, por exemplo”, explica Tatiane ao comparar que o controle biológico tem uma ação mais duradoura. Ela afirma também que ambas as formas de controle podem ser usadas em conjunto, o que aumenta a eficiência. “São controles que ajudam o produtor a reduzir as perdas de produtividade.