Plantio consorciado de seringueiras consorciadas é uma alternativa rentável para agricultores familiares amazonenses.
Pesquisas realizadas pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM) mostram que plantio de seringueiras consorciadas com outras espécies de interesse econômico é uma alternativa rentável para agricultores familiares amazonenses. Experimentos desenvolvidos com culturas anuais e perenes apontaram as espécies com maior potencial de geração de renda enquanto o produtor espera o tempo necessário à extração comercial de látex, que pode levar de seis a sete anos. Entre as anuais, o milho e o feijão-caupi (feijão-de-corda) se destacaram pela boa produtividade, com uma média de 30,1 mil espigas e 2.080 kg por hectare, respectivamente.
Segundo o pesquisador da Embrapa Everton Cordeiro, a proposta visa também atender à necessidade do Amazonas “O estado necessitava da retomada de uma cadeia fundamental para sua economia, a da heveicultura, que se reduziu muito, principalmente em decorrência do mal-das-folhas que dizimou os plantios comerciais de seringueira no século passado”, conta o cientista. As pesquisas estão sendo realizadas por meio de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
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Os experimentos com cinco espécies perenes – cacau, guaraná, tucumã, banana e gliricídia – foram conduzidos nos campos experimentais da Embrapa em Manaus, Iranduba (Caldeirão) e Maués, além de uma unidade em área da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As árvores de seringueira são plantadas com uma distância de três metros e, nas entrelinhas, são inseridas as espécies escolhidas. De acordo com Cordeiro, essas culturas foram escolhidas porque mantêm bom desenvolvimento mesmo com o sombreamento das seringueiras e também podem continuar dando frutos depois do início da extração de látex.
Três safras anuais nas entrelinhas
Já em relação às espécies anuais, são feitas avaliações com milho-verde e feijão-caupi plantados nas entrelinhas das seringueiras. Segundo o pesquisador da Embrapa Inocêncio Júnior de Oliveira, em decorrência das condições climáticas locais, é possível ao produtor obter três safras por ano agrícola nessas entrelinhas. O milho e o feijão-caupi foram cultivados em dois locais (campos experimentais de Manaus e do Caldeirão). “Em uma safra agrícola foi possível realizar dois cultivos de milho-verde e um de feijão-caupi, sendo o primeiro de milho semeado no final de novembro (seis linhas de milho entre duas linhas de seringueira), o segundo, no início de março e o do feijão-caupi (nove linhas entre duas linhas de seringueira) em junho,” explica.
Foram realizadas análise do solo, calagem, adubação de plantio e de cobertura e controle de plantas daninhas e pragas. Como resultado, registrou-se uma média de 30,1 mil espigas de milho-verde por hectare, com padrão comercial (comprimento da espiga sem palha maior de 15 cm e diâmetro da espiga sem palha maior que 3,5 cm).
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Do feijão-caupi, foi colhida uma média de 2.080 kg por hectare. Para Oliveira, a produtividade média é boa e pode garantir uma renda considerável ao produtor até que se comece a extrair o látex. “O agricultor pode cultivar essas espécies anuais por quatro ou cinco anos, até que o sombreamento das seringueiras impeça um bom desenvolvimento dessas plantas”, complementa.
Sombra e solo fresco
Outra vantagem de adotar esse tipo de sistema é a proteção do solo, por meio do aumento do sombreamento que promove a diminuição da sua temperatura. “Além disso, com proteção é possível reduzir a taxa de mineralização da matéria orgânica, com consequente melhoria da estrutura do solo”, explica Oliveira.
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Após as colheitas realizadas em 2019 e 2020, serão realizadas avaliações econômicas do sistema, com o objetivo de repassar aos produtores o quanto é necessário desembolsar e o resultado da comercialização ao adotar esse tipo de consorciação.
Nos experimentos, são utilizadas seringueiras desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental desde 1999, obtidas de cruzamentos entre espécies diferentes que dão resistência aos danos causados pelo mal-das-folhas (veja quadro abaixo). Segundo Cordeiro, esses materiais possuem uma grande produtividade e podem chegar a uma produção entre 1,5 mil e dois mil quilos anuais de látex por hectare.
“Os resultados desses trabalhos podem contribuir com a retomada da heveicultura no Amazonas”, acredita o pesquisador. “Disponibilizamos cultivares de seringueiras resistentes ao mal-das-folhas, selecionadas a partir dos melhores materiais genéticos, ao pequeno produtor e à agroindústria e oferecendo o suporte necessário ao seu desenvolvimento no estado”, relata.