Um estudo histórico revela que o avanço das commodities, como a soja, tem deslocado culturas tradicionais da agricultura brasileira para as periferias das zonas urbanas.
O estudo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) revelou que soja, milho, arroz, cana-de-açúcar e feijão dominaram a paisagem agrícola do Brasil, ocupando mais de 70% da área cultivada entre 1985 e 2017. Esses cinco principais cultivos evidenciam a predominância de determinadas produções em larga escala no país.
Paralelamente, uma pesquisa intitulada “Produção de Alimentos no Brasil: Geografia, Cronologia e Evolução” destaca uma notável transformação nas práticas agrícolas nacionais. Observamos uma substituição gradual de culturas como mandioca, frutas e hortaliças, que foram deslocadas para as margens das zonas urbanas, cedendo espaço para o cultivo de commodities agrícolas mais lucrativas.
Além disso, o estudo acompanhou o aumento da produtividade agrícola ao longo de três décadas. Em 1988, uma área total dedicada aos 60 principais cultivos vegetais, excluindo pastagens, era de 57 milhões de hectares, produzindo 382 milhões de toneladas de produtos. Até 2017, essa área se expandiu para 79 milhões de hectares, enquanto a produção agrícola mais que dobrou, atingiu a marca impressionante de 1 bilhão de toneladas. Esses números refletem tanto os avanços tecnológicos no setor quanto a intensificação do uso da terra.
Quais as principais culturas do Brasil?
Soja
As principais culturas agrícolas do Brasil incluem a soja, o milho, o arroz, a cana-de-açúcar e o feijão, sendo a soja a mais proeminente no cenário atual. O Brasil se destaca como o maior produtor mundial de soja, representando cerca de metade das transações internacionais do grão. Essa cultura experimentou um crescimento impressionante, com sua área plantada expandindo em 221%, o que representa um acréscimo de 23 milhões de hectares.
Desde 1995, o cultivo da soja intensificou-se significativamente, com um pico de expansão a partir de 2006, especialmente na região Centro-Oeste do país, com destaque para o estado de Mato Grosso. Nessa região, a paisagem agrícola é amplamente dominada por vastos campos de soja.
A sojicultura no Brasil é caracterizada predominantemente por grandes propriedades, cuja economia de escalada favorece a rentabilidade. A média de lucro por hectare gira em torno de R$ 500. Este modelo econômico torna a atividade menos viável para pequenas propriedades familiares de até 50 hectares, que geralmente sustentam uma média de cinco pessoas em outras culturas. Por essa razão, os produtores de soja frequentemente buscam expandir suas áreas cultivadas a fim de reduzir os custos fixos e aumentar a lucratividade.
Milho
O milho emerge como uma das principais culturas agrícolas do Brasil, com uma distribuição distribuída abrangente por todo o território nacional. Durante o período de análise, o milho registrou um notável crescimento de 32% em área plantada. No entanto, o mais impressionante ainda foi o aumento de 295% na produção, diminuindo avanços significativos em termos de produtividade.
Até o início dos anos 2000, o milho dominava como uma cultura com maior extensão de área plantada no Brasil. No entanto, posteriormente, foi superado pela soja nesse aspecto.
Embora o milho seja cultivado em todas as microrregiões do país, as regiões nordestinas testemunharam uma redução tanto na área plantada quanto na produtividade do cereal. Por outro lado, nas regiões Sul, Sudeste e especialmente no Centro-Oeste, houve uma expansão significativa do cultivo de milho, impulsionada pela intensificação da produção.
Cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar é uma cultura essencial na matriz agrícola do Brasil, especialmente impulsionada pela produção de etanol. Ao longo do período treinado, esta cultura experimentou um aumento substancial tanto em área quanto em produção. Especificamente, a área cultivada de cana cresceu 145%, enquanto a produção aumentou 194%, fazendo com que essa cultura passasse a representar quase metade do total de toneladas produzidas no país.
Geograficamente, o cultivo da cana-de-açúcar está predominantemente concentrado no oeste do estado de São Paulo, onde está intimamente ligado tanto à indústria açucareira quanto à produção de biocombustíveis. Essa região do Sudeste se destaca como o principal centro de produção de cana. No entanto, a cana-de-açúcar também desempenha um papel significativo nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, contribuindo para a diversidade produtiva e económica dessas áreas.
Feijão
O feijão, um dos principais alimentos da dieta brasileira, vem experimentando uma queda no consumo per capita no país. A despeito da retração nas áreas plantadas em muitas regiões do Brasil, houve um aumento notável na região Centro-Oeste durante o período mais recente analisado. A produção nacional de feijão tem se mantido estável em torno de 3 milhões de toneladas nos últimos 15 anos, refletindo essa redução no consumo.
Desde o início dos anos 2000, sugeriu-se uma mudança significativa na distribuição geográfica do cultivo de feijão. Estados como Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo registraram uma diminuição na produção. Por outro lado, Mato Grosso, Goiás e o sul do Piauí registraram aumentos em suas produções. O Paraná continua a ser o líder nacional, responsável por 22% da produção total de feijão no Brasil.
Arroz
O arroz, tradição um dos principais alimentos na dieta brasileira, experimentou a maior redução de área plantada dentre as principais culturas do país, com uma diminuição de 67% entre 1988 e 2017. No entanto, essa redução drástica foi parcialmente compensada por um aumento significativo na produtividade, que saltou de 1,93 tonelada por hectare para 6,20 toneladas por hectare. Como resultado, a produção total de arroz cresceu quase 1 milhão de toneladas durante o período analisado, correspondendo a um incremento de 5,5%.
Apesar desse aumento de produtividade, o crescimento da produção de arroz não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento populacional do Brasil, resultando em uma menor presença deste cereal na alimentação diária dos brasileiros. As principais áreas de cultivo de arroz estão localizadas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a concentração geográfica dificulta o escoamento da produção para outras regiões. Apesar desses desafios, o arroz permanece como o quarto grão mais consumido no país.
A análise das principais culturas agrícolas do Brasil revela um cenário de transformações significativa ao longo das últimas décadas, tanto em termos de expansão quanto de intensificação produtiva. Soja, milho, cana-de-açúcar, feijão e arroz demonstram trajetórias distintas de crescimento, adaptação e desafios. Enquanto a soja e o milho, impulsionados pelo mercado global e avanços tecnológicos, expandiram suas áreas de cultivo e produtividade, a cana-de-açúcar também cresceu robustamente, fortalecida pela demanda por biocombustíveis.
Contrastando com esses crescimentos, o feijão e o arroz enfrentam reduções em suas áreas de cultivo, embora com dinâmicas. O feijão, apesar dos declínios regionais, aumentou no Centro-Oeste, refletindo uma reconfiguração na geografia agrícola nacional. O arroz, por sua vez, sofreu uma drástica redução de área, compensada por um aumento expressivo de produtividade, mas ainda assim não acompanhou o crescimento populacional, trazendo uma mudança nos hábitos alimentares ou na acessibilidade dos alimentos.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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