A Fider se estabeleceu em Rifaina, São Paulo, às margens do Rio Grande produz mensalmente cerca de 800 toneladas de tilápia; empresa já investiu mais de R$ 200 milhões
O Brasil produziu mais de 845 mil toneladas de peixes de cultivo (tilápia, peixes nativos e outras espécies), em 2021. Esse resultado representa crescimento de 4,7% sobre a produção de 2020 (802.930 t). O levantamento exclusivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), entidade que congrega produtores, empresas de todos os segmentos da cadeia produtiva e entidades de classe, mostra que ano a ano a atividade supera o cenário macroeconômico complexo e mantém média de crescimento de 5,6% desde 2014.
Segundo monitoramento da entidade, a piscicultura envolve mais de 1 milhão de produtores, gera cerca de 1 milhão de empregos diretos e outros 2 milhões indiretos e, em 2021, movimentou R$ 8 bilhões.
A piscicultura foi diretamente impactada pela elevação dos insumos e matérias-primas para alimentação animal. Além dos macroingredientes (milho e farelo de soja), destaque para os microingredientes importados, que subiram em dólar e enfrentaram problemas de abastecimento regular durante diferentes períodos do ano. No mercado interno, a manutenção dos elevados níveis de desemprego e a consequente redução do poder de compra da população também dificultaram a comercialização de peixes com rentabilidade aos produtores, especialmente em estados das regiões Norte e Nordeste.
Conheça um dos maiores projetos de piscicultura do Brasil
O CompreRural teve a oportunidade de percorrer algumas regiões do Estado de São Paulo, por intermédio da Texto Comunicação Corporativa. Foi dessa forma que conhecemos um dos maiores projetos de tilápia do Brasil, a Fider Pescados, uma empresa do Grupo MCassab, que tem 93 de histórias. Dentre os números impressionantes da empresa estão os R$ 200 milhões investidos em Rifaina, cidade de 3.500 habitantes. Com produção de 800 toneladas de tilápia por mês o projeto tem autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O empreendimento é motivo de orgulho para Rifaina pois se trata de um dos mais modernos complexos industriais do país, composto por frigorífico e fábrica de farinha e óleo. No total, a Fider gera 520 empregos diretos e mais de 2.500 indiretos em Rifaina e nas cidades vizinhas. A empresa realiza o programa Menores Aprendizes, de incentivo aos jovens da região, dando-lhes a primeira oportunidade de emprego. Importante: nem o frigorífico nem a fábrica dispersam resíduos no meio ambiente. Tudo é reaproveitado.
“O mercado cresce mais de dois dígitos, anualmente. Ano passado, nossa empresa cresceu 50%, fruto de uma estrutura já instalada. Mas, enfrentamos desafios diários, já que o mercado oscila muito. A alta dos insumos é um complicador”, diz o gerente-geral da Fider Pescados, Juliano Kubitza.
A empresa é uma das quatro maiores processadoras de tilápia do Brasil, é líder em produção no Estado de São Paulo, atende todo o território nacional e exporta para sete países – Estados Unidos, Canadá, Taiwan, Venezuela, Bangladesh, Sri Lanka e Indonésia. Além de linha própria, produz para importantes marcas.
Qualidade da Água é essencial
A qualidade da água recebe atenção especial no projeto, porque esse é um item vital para o sucesso da produção de tilápia. A empresa é auditada por empresas acreditadas pelo INMETRO, que realiza análises da água periodicamente. O resultado é submetido à CETESB, conforme exigências da lei. Além disso, a própria CETESB coleta água regularmente, realizando seus próprios testes de qualidade.
O monitoramento da água na Represa de Jaguara é realizado desde 2009. Todas as análises realizadas pela empresa certificada terceirizada comprovam que a qualidade da água é Ótima. A concessionária Engie Brasil também realiza análises periódicas da qualidade da água na represa. Nos últimos cinco anos, o seu monitoramento também mostra a mesma qualidade da água: Ótima.
O monitoramento da água realizado por empresas certificadoras terceirizadas, com acompanhamento direto da CETESB, comprova que a água sai da Represa de Jaguara melhor do que entra.
A qualidade da água é o principal patrimônio para uma criação de peixes. Sem ela, não há alimento seguro e de qualidade para atender à crescente demanda da população.
Tilápia representa 63,5% da produção nacional
Em 2021, a piscicultura brasileira produziu 534.005 toneladas de tilápia, com crescimento de 9,8% sobre o ano anterior (486.255t). A espécie representou 63,5% da produção de peixes de cultivo como um todo, comprovando sua viabilidade para as condições brasileiras. Foram produzidos 262.370 t de peixes nativos (31,2% do total), com recuo de 5,85% em relação a 2020. A questão ambiental, a falta de programas oficiais de apoio ao cultivo e dificuldades de mercado foram decisivos para esse desempenho do segmento. As outras espécies (carpas, trutas e pangasius) foram responsáveis por 5,3% da produção total de 2021, atingindo 44.585 toneladas: +17% sobre o resultado do ano anterior, comprovando o potencial do pangasius para o clima brasileiro.
A tilápia está presente em todas as regiões do país, com maior ou menor relevância. Mesmo na região Norte, tradicional polo de criação de peixes nativos, a tilápia começa a aparecer, a partir da liberação de cultivo por alguns governos estaduais. Naquela região, em 2021 foram produzidas 860 toneladas, um volume pequeno, mas que representa incremento de quase 40% sobre o ano anterior (620 t).
O Sul lidera, com folga, a produção de tilápia. A espécie representa 86% de todos os peixes de cultivo na região. No total, são 231.900 t nos três estados sulistas: cerca de 43,4% da produção nacional. O Sudeste vem a seguir com perto de 27% da produção total de tilápia (144.340 t), com destaque para São Paulo e Minas Gerais. Juntos, Sul e Sudeste detêm 70% do cultivo no país.
Etapas da instalação do projeto
A instalação de um projeto de produção e processamento de tilápia leva tempo e consome pesados investimentos, além do atendimento de diversas exigências federais e estaduais, tendo em vista que a legislação brasileira é uma das mais rígidas do mundo.
Importante esclarecer que as águas são bens do Estado brasileiro (são chamadas Águas da União). Assim, é necessário obter concessão federal. Além disso, trata-se de uma cessão onerosa. Ou seja, a Fider paga pelo direito de produzir na Represa Jaguara por 20 anos.
Estas são as principais etapas até conseguir aprovação:
- O projeto é submetido a estudo e aprovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
- O projeto é submetido à aprovação da Marinha do Brasil
- O projeto passa por análise técnica de georreferenciamento (GPS) para a determinação exata do seu perímetro
- O projeto necessita, também, da outorga onerosa pela Agência Nacional de Águas (ANA), exigindo o rigoroso cumprimento de suas etapas/prazos de concessão.
A Agência Nacional de Águas (ANA) é responsável pela definição da capacidade de produção da Represa de Jaguara. Ela que define que a capacidade da represa é de 24 mil toneladas de tilápia por ano.
A ANA também determina o volume útil total do conjunto de tanques-rede, a carga média de fósforo gerado pelo sistema de produção, a quantidade média de ração oferecida pela população de peixes e o teor máximo de fósforo na ração. O projeto é fiscalizado periodicamente com rigor pelo MAPA e pela CETESB, objetivando acompanhar o cumprimento da legislação.
Preocupação com a fauna e flora
A área de produção de tilápia da Fider Pescados recebeu sólidos investimentos em infraestrutura, que incluíram atenção à preservação do meio ambiente. A Área de Preservação Permanente (APP) original foi ampliada em 6 mil m2 com o plantio de 15.000 árvores nativas. Esse cuidado representa um importante ganho para a fauna local, com atração de diferentes espécies (inclusive em extinção) para reprodução e área de descanso.
A Fider tem dupla certificação de boas práticas: para a fazenda e para o frigorífico. A certificação BAP (Boas Práticas de Aquicultura) é um dos mais completos e rígidos atestados internacionais de qualidade, que garante a sustentabilidade dos produtos e possibilita, inclusive, a exportação de produtos de tilápia, como para os Estados Unidos – o país com a legislação de segurança alimentar mais rígida do mundo.
Com informações do repórter Moacir Neto do Portal Safra Agribusiness