“Raçadores da bitola do Evaru da SC mantém seu rebanho no mais alto padrão da raça Nelore; são animais dessa competência que vão manter a raça no caminho certo”
Por Marcio Peruchi* – A história da pecuária brasileira é contada por grandes exploradores e pecuaristas. Desde o início do século passado muitos deles, de forma pioneira, foram até o outro lado do mundo, no berço do Zebu, buscar na Índia o que havia de melhor de genética zebuína. Desde então o Brasil consolidou-se como um dos grandes produtores de carne bovina e possuidor de um dos maiores rebanho bovino do mundo. No século passado as feiras agropecuárias faziam grande sucesso, uma delas era a Expoinel, realizada até hoje.
A Expoinel foi realizada pela primeira vez, de 22 a 29 de março de 1972, no Parque Água Branca, em São Paulo. O Parque foi fundado no dia 02 de junho de 1929, pelo então secretário de agricultura Fernando de Sousa Costa – “Parque Doutor Fernando Costa” – fica na Zona Oeste da capital. Hoje o evento é realizado em outro Parque Fernando Costa, só que agora na capital do zebu e sede da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Uberaba, Minas Gerais.
A Expoinel já foi o lugar perfeito para se discutir os rumos do Nelore no Brasil, era no evento que criadores e técnicos debatiam os rumos da raça indiana que fez e, continua, fazendo sucesso no Brasil. Inclusive alguns criadores não levavam seus animais para a Expozebu, preferindo levá-los para o Parque Água Branca, evento Nacional da raça Nelore. A Expoinel foi o grande elemento de união dos neloristas brasileiros, permitindo mostrar que, por todo o Brasil, havia núcleos importantes de seleção e, que por vezes, nem se conheciam na época.
A grande lema da Expoinel era – “demonstrar, pela exposição de reprodutores finos, o que tem sido alcançado no campo da pecuária, através dos modernos métodos de seleção“, como rezava o primeiro item do artigo 3° do Regulamento da I Exposição Internacional de Nelore (Expoinel). Era essa a visão de José Mário Junqueira de Azevedo, o criador da Expoinel e presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) na época.
“A Expoinel é uma exposição com mais de 50 anos, através dos julgamentos raciais ao longo de mais de meio século, técnicos, pesquisadores e criadores foram selecionando os melhores animais da raça Nelore para a produção de carne. Portanto a feira, sem dúvida nenhuma, contribuiu muito para a evolução de pecuária nacional, especialmente porque a raça Nelore é a principal produtora de carne do país. Podemos concluir que a Expoinel, ao longo do tempo, contribuiu significativamente para a pecuária de corte nacional.” – disse o presidente da ACNB, Victor Miranda.
Onde o Evaru da SC entra nessa história?
Bom, para contar essa história teremos que recorrer a um dos melhores assessores de pecuária seletiva do Brasil, o engenheiro agrônomo, especializado em Zootecnia, Carlos Alberto Marino Filho. A pecuária faz parte de seu DNA, sendo a terceira geração de pecuaristas da família, paixão herdada tanto na parte materna quanto paterna. Inclusive convido você a assistir o podcast que gravamos juntos, contando a história da Raça Nelore no Brasil.
Marino nos conta que naquela época haviam três touros, crioulos de Torres Homen Rodrigues da Cunha, da marca VR (criada em 1914 pelo pai, Vicente Rodrigues da Cunha), nascidos em anos subsequentes: Chummak (1965), Dumu (1966) e o mais jovens deles, Evaru, nascido em 1967. Esses três exemplares da raça Nelore eram expostos nas exposições da raça pelo país, inclusive se encontravam nas feiras e travavam duelos em diversas dessas principais pistas do país.
“Em 1970, o Chummak foi para o Parque Água Branca, também foram o Dumu, já com William Koury (Nelore Jandaia), seu proprietário e Evaru, mais jovem do trio. Neste evento, Chummak foi o Grande Campeão Nacional, enquanto Evaru recebeu o título de reservado campeão. Já no ano seguinte, Chummak não compareceu e o pleito ficou entre Dumu e Evaru, e Dumu sagrou-se Grande Campeão Nacional de 1971” – nos conta Marino.
Já em 1972, houve a realização da I Exposição Internacional de Nelore (Expoinel). O Evaru, mesmo mais jovem que seus oponentes, superou Dumu sagrando-se o primeiro Grande Campeão Nacional da raça Nelore na Expoinel. Evaru é um dos grandes filhos do Karvadi, tornando-se um dos grandes raçadores de sua geração e formador de linhagem, marcando época no Nelore.
“Falar do Evaru, sem citar seus rivais que tanto contribuíram para o seu sucesso, não é possível. São inúmeros descendentes, mas sem dúvidas o Evaru era o filho do Karvadi, genearca da raça Nelore, mais parecido com ele. Um touro da conformação e racial mais próximo do pai, que definitivamente é formador da base da raça Nelore no país. Evaru produziu grandes matrizes após a sua consagração nas pistas provando ser um grande raçador” – enalteceu Marino.
Marino também conta que seus filhos foram muito famosos, vários deles de produção extraordinária, deixando uma herança muito importante, provando que os resultados dessas exposições nacionais eram fruto dos melhores animais da época. Raçadores que se provaram através de seus descendentes e da sua contribuição genética em todo rebanho nacional através das gerações seguintes.
Dentre seus inúmeros filhos destacados, podemos citar Lakree da Zeb. VR, grande campeão da Expozebu em 1976, e Loteria VR, mãe de 3 touros de central com pais diferentes (Visual, Agasalho e Espanto).
Acima, um dos grandes netos de Evaru da SC: VISUAL DA ZEB VR.
Se olharmos para os grandes destaques da geração atual de reprodutores da raça Nelore podemos citar Naman FIV da 2L (Visual da ZEB VR.) que produziu o raçador Tule da 2L. “Tule é filho do Naman em matriz Karvadi, vem de duas das melhores matrizes que passaram pela seleção do Nelore Adir: Bélgica e Tralha. Sua produção mostra exatamente o que ele é: equilibrado, comprido, de caracterização racial perfeita, aprumos corretos e proporções que produzem carcaças de alta qualidade.” – avalia Marino.
“Olhando para o Evaru da SC é possível ver que é um raçador atualíssimo, principalmente aos criadores que querem melhorar o seu rebanho e voltar às origens. Raçadores da bitola do Evaru mantém seu rebanho no mais alto padrão da raça Nelore. Quando a gente fala de formato de cabeça, orelha, posicionamento de cupim, inclusive as partes econômicas: linha de dorso, comprimento e largura de garupa, arqueamento de costelas e aprumos. São animais dessa competência que vão manter a raça no caminho certo” – nos disse o consultor pecuário, João Bonifácio Gonçalves.
“Evaru nasceu e morreu sob a tutela de Torres Homen Rodrigues da Cunha, e também sob os olhos cuidadosos de José da Silva, conhecido como Dico, uma lenda viva da raça Nelore no Brasil” – finaliza Marino.
Artigo escrito por Marcio Peruchi com ajuda dos amigos Carlos Marino e João Bonifácio Gonçalves.
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