Conheça os impactos das eleições americanas no agronegócio do Brasil

Como as eleições nos Estados Unidos podem influenciar o mercado de soja e milho no Brasil, segundo o especialista residente nos EUA

As eleições americanas sempre geram expectativas globais, e para o agronegócio brasileiro, o impacto pode ser significativo, conforme aponta João Rebequi, fundador da Ag4UP e residente nos Estados Unidos desde 2017. Rebequi oferece uma análise aprofundada sobre como os diferentes resultados eleitorais, nos Estados Unidos, podem influenciar diretamente o setor agrícola brasileiro.

O cenário político nos Estados Unidos tem grande relevância para o agronegócio brasileiro devido à posição do país como um dos maiores importadores de produtos agrícolas do Brasil, tais como café, suco de laranja e produtos florestais, além de ser um parceiro importante no balanço global da cadeia produtiva do milho, e o suprimento dessa comodities para China. Segundo Rebequi, a vitória de diferentes candidatos pode trazer implicações distintas para o comércio entre os dois países.

ex-presidente Donald Trump
Foto: Divulgação

Impactos da vitória Republicana

Rebequi explica que uma vitória de um candidato republicano, como Donald Trump, poderia manter uma postura mais protecionista por parte dos Estados Unidos. “Durante o governo Trump, vimos uma ênfase em políticas de ‘América Primeiro’, que buscavam fortalecer o mercado interno americano, muitas vezes em detrimento de importações”. Essa abordagem poderia resultar em maior pressão sobre o Brasil para que adote práticas comerciais mais alinhadas com os interesses americanos, possivelmente impactando as exportações agrícolas brasileiras.

A possível volta de Donald Trump à Casa Branca, por exemplo, poderia reacender as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. Durante sua gestão anterior (2017-2021), Trump impôs tarifas significativas sobre produtos chineses, levando a uma reação da China que incluiu a redução das compras de produtos agrícolas americanos, como soja e milho. Esse cenário abriu espaço para que o Brasil ampliasse suas exportações para o mercado chinês, especialmente no que diz respeito à soja, produto de extrema relevância para o agronegócio nacional.

Neste ano, os preços da soja caíram 20,11% e os do milho, 18,23%, devido à perspectiva de uma safra abundante nos EUA em 2024/25. Caso Trump retorne à Casa Branca, espera-se uma queda ainda maior nas cotações, dado o risco de um novo conflito comercial entre os EUA e a China. Durante sua administração anterior, Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos chineses, levando a China a reduzir a compra de produtos americanos. Na época, o Brasil preencheu a lacuna nas exportações de soja para a China e poderia se beneficiar novamente em um cenário semelhante. “No entanto, esse mesmo cenário pode trazer desafios, como a queda nos preços internacionais de commodities, caso as tensões entre as duas maiores economias do mundo afetem a demanda global”, ressalta Rebequi.

Ainda temos a questão de Taiwan, que muitos analistas geopolíticos entendem como uma alta probabilidade de acontecimento até 2027, o que colocaria Trump, numa eventual vistoria, gerindo não apenas os conflitos econômicos, mas uma guerra o que elevaria a tensão da região da América Latina como um todo, pela proximidade e relação dos chineses com nossa pais.

Kamala Harris - candidata a presidente dos eua
Foto: Divulgação

A influência democrata no agronegócio brasileiro

Por outro lado, caso a vitória seja de um candidato democrata, como Kamala Harris, espera-se uma postura mais aberta ao comércio internacional e uma maior preocupação com questões ambientais. Rebequi destaca que “os democratas tendem a priorizar acordos comerciais que incluem cláusulas ambientais rigorosas, o que pode pressionar o Brasil a adotar políticas mais sustentáveis no agronegócio.” Isso poderia beneficiar produtores brasileiros que já adotam práticas ambientalmente responsáveis, mas também poderia representar desafios adicionais para aqueles que ainda não se adaptaram às exigências globais de sustentabilidade. “No entanto, mesmo sob uma administração democrata, o Brasil não deve esperar facilidades, pois o lobby agrícola americano permanece forte, independentemente do partido no poder”, diz o especialista.

“Para o Brasil, a estratégia mais prudente diante dessa incerteza é diversificar suas parcerias comerciais e ampliar sua presença em mercados além da China e dos Estados Unidos. Além disso, o agronegócio brasileiro deve continuar investindo em inovação e sustentabilidade, fatores que podem aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado global”, ressalta.

Independentemente do desfecho das eleições, a expectativa de queda nos preços das commodities agrícolas já se consolidou, principalmente devido às projeções de aumento na produção dos Estados Unidos. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê que a safra de soja para o ciclo 2024/25 atinja 120,70 milhões de toneladas, representando um crescimento de 6,5% em relação à safra anterior. Além disso, os estoques finais de soja deverão subir 26,1%. No caso do milho, embora a colheita deva apresentar uma leve redução, os estoques devem aumentar 11,7%, contribuindo para a pressão de baixa nos preços

Rebequi acredita que o Brasil precisa se preparar para um cenário global em que as exigências ambientais e de sustentabilidade ganham cada vez mais força. “O agronegócio brasileiro é fundamental para a economia do país e mundial, mas precisamos estar atentos às mudanças nas políticas internacionais e adaptar nossas práticas para continuar competitivos”, conclui.

“A lição deixada pelas disputas comerciais anteriores é clara: a geopolítica global do agronegócio pode trazer oportunidades, mas também grandes desafios”, finaliza.

João Rebequi é fundador da Ag4UP, com 28 anos de experiência na indústria de agronegócio – empresas globais como John Deere, Case New Holland e Valmont Industries. Experiência em negócios internacionais e fusões e aquisições, é advogado brasileiro com MBA em Negócios. Educação executiva na London Business School, M&A na Chicago Booth e PCD na Harvard Business School. Residente nos EUA desde 2017.

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