Conheça o Porco Moura, raça do Paraná que produz carne vermelha igual de boi

O Paraná, conhecido por sua vasta produção agrícola e pecuária, tem na suinocultura um dos pilares de sua economia. Dentro desse cenário destaca-se uma raça.

A história da suinocultura no estado, no entanto, não seria a mesma sem a contribuição de uma raça que, embora menos conhecida atualmente, desempenhou um papel fundamental em sua formação: o Porco Moura. Introduzido no Brasil no período colonial, em meados de 1500, os animais dessa espécie se adaptaram de forma exemplar às condições do sul do país, especialmente no Paraná. Essa adaptação resultou em uma raça com características excepcionais, que se tornou a base da suinocultura na região, influenciando profundamente o desenvolvimento desse setor durante mais de um século.

Durante o período colonial, os portugueses trouxeram para o Brasil diversos animais, entre eles porcos de raças como a espanhola e a portuguesa, que se misturaram com os porcos nativos. O resultado desse cruzamento, adaptado ao clima e às condições locais, foi o Porco Moura, uma raça que ficou conhecida por sua carne saborosa, com um marmoreio que a tornava muito apreciada tanto localmente quanto em mercados externos.

Essa raça foi essencial para o início da suinocultura no estado, permitindo que o Paraná se consolidasse como um dos maiores produtores de carne suína do Brasil.

O surgimento da raça Porco Moura

A origem do Porco Moura, pouco conhecida, remonta ao período colonial quando os colonizadores portugueses introduziram várias raças de porcos no Brasil. No sul do país, as condições naturais e o estilo de vida rural permitiram que esses animais se adaptassem facilmente, criando uma raça robusta e resistente às adversidades do ambiente local. O Porco Moura recebeu esse nome em função de sua pelagem escura, característica que o tornava distinto das demais raças de suínos da época.

Com o tempo, essa raça foi selecionada para características que a tornavam ideal para a produção de carne em grande escala. Sua resistência ao clima frio e quente, aliada à capacidade de se alimentar de raízes, como o pinhão e outros tubérculos, fez com que o Porco Moura fosse fundamental para a formação da suinocultura paranaense. Sua carne, macia e com um marmoreio único, tornou-se um produto de alto valor, utilizado não apenas em pratos tradicionais locais, mas também em defumados que conquistaram mercados externos.

Características físicas e comportamentais

O Porco Moura é uma raça de porte grande, com exemplares que podem atingir até 300 quilos quando adultos. Sua pelagem escura, com uma mistura de pelos claros, formando um padrão único que se assemelha a uma “rajada”, é um dos maiores distintivos da raça.

Essa pelagem é acompanhada por uma estrela branca característica na testa de alguns exemplares, o que torna ainda mais marcante a sua aparência. Seus músculos bem desenvolvidos e a gordura equilibrada entre as fibras musculares são indicativos da qualidade de sua carne, que apresenta um marmoreio notável.

Foto: Divulgação

A carne do Porco Moura é valorizada principalmente pelo seu sabor distinto e textura, que é resultado de sua alimentação natural baseada em tubérculos, raízes e pinhão. Ao contrário de raças mais modernas, que são alimentadas com rações industrializadas, o Porco Moura se alimenta de maneira mais natural, o que impacta diretamente na qualidade de seu produto final. Esse tipo de alimentação confere à carne um sabor marcante e uma maciez incomparável, sendo ideal para o preparo de defumados e pratos tradicionais, como o presunto cru suíno.

O impacto na suinocultura paranaense

A suinocultura no Paraná teve seu crescimento acelerado entre os anos de 1880 e 1960, período em que o Porco Moura se destacou como uma das raças mais importantes para o estado. A adaptabilidade dessa raça à criação extensiva, onde os animais se alimentavam de recursos naturais como pinhão, mandioca e outros tubérculos, contribuiu de forma decisiva para o crescimento do setor. Nessa época, a carne do Porco Moura era um produto essencial, não apenas no consumo local, mas também na produção de defumados que eram comercializados em todo o país.

O Porco Moura se tornou um símbolo de resistência e adaptação, permitindo que pequenos produtores rurais mantivessem suas criações mesmo nas regiões mais remotas do estado. Esse caráter resiliente da raça foi um dos principais fatores que garantiu seu sucesso ao longo das décadas, antes da chegada das raças modernas que passaram a dominar o mercado de suínos.

Os desafios enfrentados pelo Porco Moura e sua extinção gradual

Com a evolução da suinocultura moderna, a raça Porco Moura foi gradualmente substituída por outras mais produtivas, que apresentavam maior rendimento de carne e aceleravam o ganho de peso. As novas raças, adaptadas ao confinamento e à alimentação de ração industrializada, eram mais rentáveis do ponto de vista comercial. Esse processo de modernização levou à diminuição significativa da criação do Porco Moura, que, ao longo das décadas, passou a ser restrita a pequenos produtores e criadores tradicionais.

Além disso, a transição para modelos de produção mais eficientes e em larga escala contribuiu para o declínio da raça. No entanto, a perda do Porco Moura não significou o fim de seu legado, pois sua carne continuou sendo valorizada em algumas comunidades e mercados específicos. O desafio, portanto, foi preservar sua genética e garantir que as futuras gerações pudessem desfrutar dos benefícios dessa raça histórica.

Legado e contribuições do Moura para as raças modernas

O Porco Moura não apenas desempenhou um papel crucial na história da suinocultura paranaense, mas também deixou um legado significativo para as raças modernas. Sua genética, caracterizada pela adaptação ao clima e pela capacidade de produzir carne de alta qualidade, influenciou a seleção de outras raças ao longo do tempo. Hoje, o Porco Moura é considerado um patrimônio genético e cultural, reconhecido por sua importância histórica no Brasil.

Nos últimos anos, diversas iniciativas de resgate da raça começaram a ganhar força. Projetos de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, buscam recuperar a genética do Porco Moura e aumentar sua população. Essas iniciativas não apenas resgatam a história da raça, mas também trazem benefícios para a suinocultura moderna, que pode aproveitar as características genéticas do Porco Moura, como a resistência a doenças e a qualidade superior de sua carne, para melhorar a produção de suínos em larga escala.

O futuro da suinocultura no Paraná e o resgate de raças tradicionais

O resgate do Porco Moura é uma tendência crescente no Paraná, especialmente com o aumento do interesse por produtos autênticos e de qualidade superior. O estado, que é um dos maiores produtores de carne suína do Brasil, vê no Porco Moura uma oportunidade de diversificar sua produção e agregar valor ao mercado. Pequenos rebanhos da raça podem ser encontrados em pelo menos 21 municípios do estado, demonstrando que o interesse pela raça continua vivo, especialmente entre criadores que buscam resgatar as tradições e práticas sustentáveis de produção.

Porco Moura: a raça que deu origem à suinocultura no Paraná
Foto: Divulgação

Com a valorização crescente dos produtos artesanais e de qualidade superior, a carne do Porco Moura tem se destacado novamente no mercado, especialmente em nichos que apreciam sabores autênticos e diferenciados. A criação ao ar livre, característica dessa raça, tem atraído produtores que buscam alternativas mais sustentáveis à produção intensiva de suínos. Isso tem gerado uma nova onda de interesse pela raça, que promete ser um diferencial competitivo para o Paraná, reconhecido mundialmente pela excelência de sua carne suína.

A importância de reconhecer e valorizar a história da suinocultura paranaense

O Porco Moura não é apenas uma raça de porcos, mas um símbolo da história, da cultura e da resistência da suinocultura no Paraná. Sua contribuição para o desenvolvimento da suinocultura no estado foi fundamental, e seu legado continua a influenciar a produção suína atual. O resgate da raça é mais do que uma tentativa de preservar uma tradição, é uma oportunidade de explorar novas formas de produção que valorizam a qualidade e a sustentabilidade.

A história do Porco Moura nos ensina que, ao respeitar as raízes de nossa produção, podemos criar um futuro mais sustentável e promissor para o agronegócio brasileiro. O Paraná, com sua tradição e inovação, continua a ser um exemplo de como a preservação das raças tradicionais pode agregar valor à produção agrícola e pecuária, garantindo não apenas o sucesso econômico, mas também a valorização do patrimônio cultural e genético do Brasil.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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