A descoberta da origem dos cavalos só foi possível graças a uma colaboração de mais de 100 cientistas em dois continentes. Liderados pelo arqueólogo molecular Ludovic Orlando, da Universidade Paul Sabatier em Toulouse, na França, essa equipe ofereceu uma nova compreensão sobre a domesticação e a disseminação dos equinos ao longo da história humana; confira
Por milhares de anos, os cavalos desempenharam papéis extremamente importantes nas sociedades humanas em todo o mundo. Esses magníficos animais não apenas facilitaram a agricultura, o transporte e a guerra, mas também se tornaram companheiros inseparáveis do homem. No entanto, por muito tempo, a origem dos cavalos domésticos tem sido um mistério. Agora, graças a uma colaboração de mais de cem cientistas em dois continentes diferentes, finalmente temos algumas respostas sobre: a origem dos cavalos domésticos modernos.
O líder do estudo, Ludovic Orlando, arqueólogo molecular da Universidade Paul Sabatier em Toulouse, na França, e seus colegas, reconstruíram genomas de cavalos antigos a partir de esqueletos encontrados em sítios arqueológicos que se estendem de Portugal à Mongólia. Essa pesquisa extensa ofereceu evidências convincentes de que as estepes da Eurásia ocidental, particularmente uma região no sul da Rússia próxima à interseção dos rios Volga e Don, são o berço dos cavalos domésticos modernos.
A região do Volga-Don já possuía evidências arqueológicas indiretas de domesticação de cavalos, mas a nova pesquisa de DNA revelou que os cavalos domésticos modernos podem ter sua origem entre equinos que habitavam a região entre 4,7 e 4,2 mil anos atrás. Isso sugere que a domesticação dos cavalos e sua rápida disseminação ocorreram em um curto espaço de tempo, “quase da noite para o dia“, como descreve Orlando. A migração das populações humanas com seus cavalos desde o sul da Rússia logo espalhou essa nova linhagem de cavalos da Europa Ocidental para a Ásia Oriental e além.
Mas por que o sul da Rússia? Os cientistas acreditam que as condições ecológicas favoráveis e a presença de pastagens extensas podem ter facilitado a domesticação dos equinos nessa região. Com a domesticação, os cavalos se tornaram parte essencial da vida humana, desempenhando papéis vitais em diferentes aspectos da sociedade.
Durante a Idade do Bronze, cerca de cinco mil a 4,2 mil anos atrás, as pessoas na Europa e na Ásia começaram a domesticar os animais. A espécie Equus caballus evoluiu a partir de pequenos herbívoros parecidos com cavalos que vagavam pelas pastagens norte-americanas há milhões de anos. No entanto, foi apenas com o desenvolvimento da domesticação que os cavalos se tornaram tão fundamentais para as civilizações humanas.
A pesquisa de Orlando e sua equipe também revelou que, ao longo do tempo, os humanos começaram a criar seletivamente os cavalos, selecionando características como resistência, docilidade e capacidade de suportar o peso humano. Isso resultou em ajustes genéticos que moldaram o cavalo que conhecemos hoje.
Essas descobertas reforçam a ideia de que os exemplares não apenas foram domesticados na região do Volga-Don, mas também que essa domesticação foi crucial para o desenvolvimento humano. À medida que se espalhavam, as sociedades humanas se tornavam mais móveis, possibilitando comércio, intercâmbio de conhecimento e migração em uma escala sem precedentes.
A arqueóloga Kate Kanne, da Universidade de Exeter do Reino Unido, destaca que a disseminação dos cavalos foi rápida porque muitas comunidades já estavam familiarizadas com esses animais. Isso sugere uma infraestrutura e conhecimento prévios sobre a criação, que aceleraram sua expansão.
Essa ampliação desses animais e das sociedades humanas marcou o início de uma espécie de “globalização” pré-histórica, onde o mundo se tornou menor devido à mobilidade facilitada pelos equinos. E essa relação entre humanos e cavalos é profundamente enraizada na história evolutiva de ambas as espécies.
Surgimento das raças
As raças de cavalos surgiram ao longo de milênios de seleção artificial realizada pelos seres humanos. Inicialmente, as diferenças entre os cavalos eram principalmente geográficas, com as populações adaptando-se aos diferentes ambientes em que viviam. À medida que os humanos começaram a domesticar os cavalos e a utilizá-los para diferentes fins, como transporte, agricultura e guerra, começaram a surgir preferências por certas características físicas e habilidades. Os criadores selecionavam os cavalos que melhor se adequavam às suas necessidades e preferências, cruzando os animais com características desejáveis entre si. Com o tempo, esse processo de seleção resultou na fixação de certos traços em populações específicas de equinos, dando origem às primeiras raças.
Com o avanço da tecnologia e a globalização, o processo de formação de raças se intensificou. Criadores especializados começaram a selecionar e cruzar cavalos com características específicas, refinando ainda mais as raças existentes e criando novas. Hoje, existem centenas de raças de cavalos em todo o mundo, cada uma com suas próprias características distintas em termos de aparência, temperamento e habilidades. Essas raças são frequentemente associadas a diferentes finalidades, como cavalos de corrida, de trabalho, de esporte, de sela, entre outros, refletindo a diversidade de funções que os cavalos desempenham na sociedade contemporânea.
Surgimento dos equinos no Brasil
A história dos equinos no Brasil remonta ao início da colonização portuguesa. Os primeiros cavalos chegaram ao território brasileiro com as expedições colonizadoras nas capitanias hereditárias. Martim Afonso de Souza introduziu animais da ilha da Madeira em 1534, seguido por Duarte Coelho, que trouxe equinos de Cabo Verde para Pernambuco em 1535, e Tomé de Souza, que fez o mesmo na Bahia em 1549. Naquela época, não havia equídeos nativos no continente.
Inicialmente, a produção de cavalos no país era limitada, e muitos dos animais provinham de Cabo Verde devido aos preços altos dos exemplares internamente. No entanto, com o tempo, a criação em terras brasileiras se desenvolveu significativamente, levando até mesmo à exportação de cavalos para Angola. A adaptação dos equinos ao ambiente local, resultado da seleção natural, tornou-os mais resistentes e ágeis, contribuindo para o crescimento da população equina em todo o país.
A Bahia foi uma das regiões onde os cavalos tiveram um desenvolvimento notável, com um comércio expressivo de cavalos já estabelecido desde 1580, principalmente em direção a Pernambuco. No sertão, os cavalos se tornaram essenciais para a vida cotidiana, sendo utilizados também, embora de forma menos comum, nos engenhos de açúcar. Além disso, a ilha de Marajó teve sua própria história com os cavalos, com a importação dos primeiros exemplares de Cabo Verde por colonizadores portugueses por volta de 1702. Esses animais foram posteriormente cruzados com raças árabes, Alter e outras da Península Ibérica, dando origem à raça Marajoara. Essa miscigenação resultou em uma raça única, adaptada ao ambiente específico da ilha.
Rebanho equino nacional atualmente
O Brasil possui atualmente o quarto maior rebanho de equinos do mundo, com cerca de 5,5 milhões de animais, segundo dados da FAO. Esses animais desempenham um papel fundamental na economia brasileira, tendo sido parte integrante dos principais ciclos econômicos do país ao longo da história, desde o período colonial até os dias de hoje.
Responsáveis por movimentar a economia em diversas áreas, como agricultura, esporte, lazer e competições, os equinos geram uma movimentação financeira que ultrapassa os R$ 30 bilhões e empregam mais de três milhões de pessoas em todo o Brasil.
O setor equestre nacional é composto por uma ampla cadeia produtiva, que vai desde a criação e comercialização dos animais até a fabricação de ração, equipamentos, serviços veterinários e muito mais. Destaca-se, entre as raças brasileiras, o Mangalarga Marchador, que lidera o rebanho nacional correspondendo a 31% do plantel.
Originado do cruzamento entre cavalos Álter, de origem portuguesa, e éguas selecionadas para sela, o Mangalarga Marchador é valorizado por sua versatilidade, sendo utilizado tanto para lazer quanto para esportes e trabalhos. Com um plantel de 709 mil cabeças, a raça continua a crescer e atrair novos criadores, refletindo um cenário otimista para o setor equestre brasileiro.
Escrito por Compre Rural.
VEJA TAMBÉM:
- Aplicativo pesa animais em tempo real pelo celular ou tablet
- Fazendeiros mais ricos do Brasil que você não conhecia
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.