Conheça casos de sucesso na produção de leite orgânico

No Brasil, a produção de leite orgânico ainda é incipiente, mas alguns produtores e laticínios estão consolidados no mercado.

A produção de leite orgânico é um nicho de mercado importante e tem crescido nos últimos anos. De acordo com o relatório anual da Global Organic Dairy Market (2019), o mercado global de alimentos e bebidas orgânicos está se expandindo, tendo alcançado US$ 90 bilhões, representando 4% dos produtos consumidos em 2017. Segundo o relatório, o gasto global per capita com produtos orgânicos chega a US$ 12,1, enquanto no Brasil, esse gasto é de US$ 5,00, o que mostra que há ainda um enorme potencial de expansão no mercado doméstico. 

No Brasil, a produção de leite orgânico ainda é incipiente, mas alguns produtores e laticínios estão consolidados no mercado. Conheça agora quatro exemplos de sucesso de produção orgânica de leite no Brasil para se inspirar! 

1. Recanto SS

Com o objetivo de agregar valor e diferenciais à sua matéria-prima, conquistando esse mercado, o produtor Claudinei Saldanha Júnior optou por converter o Recanto SS para o modelo orgânico de produção. Localizada em Itirapina, SP, a propriedade produz leite desde 2005, e em 2013 iniciou o processo de conversão, obtendo a certificação em 2014.

 A fazenda sempre trabalhou com leite a pasto. A ideia de converter para a produção de leite orgânico, de acordo com Saldanha Júnior, surgiu em primeiro lugar pelo apreço da fazenda de criar a vaca em um sistema mais natural possível. Quando eles encontraram uma parceria que viabilizaria o projeto, decidiram fazer a conversão. 

A fazenda é de pequeno porte, com menos de 100 vacas, com uma média de produção de 18,5 a 19 litros por vaca no verão e 20 a 21 litros por vaca no inverno, com uma produção média total de 700 litros por dia. A meta é chegar a 1.100 litros por dia utilizando 20 hectares. A fazenda conta com uma parceria com a Nestlé, que vem fomentando a produção de orgânicos.

2. Guaraci Agropastoril 

Em 2018, a Guaraci Agropastoril iniciou dentro da Fazenda da Toca um projeto de produção de leite orgânico em um sistema agrossilvipastoril, que integra pecuária, árvores, agricultura e pastagem. Esse sistema foi desenhado para combinar gado leiteiro, abacate e mel, tudo orgânico. No centro da produção está o leite em um modelo de pastejo rotacionado com suplementação de silagem no inverno. Nesse design de produção de alimentos, há inúmeros benefícios para a natureza, os animais, o produtor e o consumidor. 

O gado desfruta de mais sombra natural e um ambiente fresco com a arborização mais densa, além de ganhar um reforço nutricional por meio da silagem produzida a partir dos grãos. O produtor dispõe de outras fontes de renda, como abacate e mel, produtos de alto valor agregado. 

 Em uma área de 80 hectares de pastagens, a Guaraci mantém um rebanho de cerca de 600 vacas das raças Simental, Jersey e Girolanda com uma produção de aproximadamente 4.000 litros de leite por dia que deverá passar a 6.000 litros. 

A fazenda lançou em junho de 2021 o primeiro leite “carbono neutro” produzido no Brasil (e um dos primeiros do mundo): NoCarbon. A fazenda também conta com certificação para bem-estar animal, pelo Instituto Certified Humane Brasil, uma das mais respeitadas ONGs que atuam no tema no mundo, e a produção orgânica, certificada pelo IBD.

3. Vale das Palmeiras 

A fazenda está localizada em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e tem uma área de 200 hectares. Há mais de vinte anos, quando comprou a fazenda, existia uma pequena produção convencional de hortaliças e a fazenda estava bem degradada com diversas áreas de desmatamento. Foi montado um plano simples e viável de recuperação que cercou as nascentes, a reserva legal, as áreas de preservação permanente e deixou a vegetação nativa se reconstituir naturalmente. “Hoje somos uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural, onde o proprietário assume compromisso com a conservação da natureza”, diz Marcos Palmeira. 

Aos poucos, um sonho antigo ligado às origens do avô de Marcos foi se tornando realidade: iniciar a produção de leite 100% orgânico para seus derivados como queijo minas frescal, ricota, coalhada, queijo cottage e iogurte. A Vale das Palmeiras possui a Certificação Orgânica desde 1997. 

A fazenda também é um espaço de aprendizagem, e em vista disso, possui parceria com a Embrapa com o projeto Balde Cheio, que tem como objetivo a capacitação de profissionais da assistência técnica, extensão rural e pecuaristas em técnicas, práticas e processos agrícolas, zootécnicos, gerenciais e ambientais. 

No dia a dia dos processos orgânicos da Vale das Palmeiras, o bem-estar e segurança de todos os colaboradores são seguidos à risca, assim como com os animais, sempre buscando a produtividade através da sustentabilidade.

4. Fazenda Nata da Serra 

A Fazenda Nata da Serra, com área total de 102 hectares, foi adquirida em 1988, e se localiza no Bairro da Serra, município de Serra Negra, SP. Em 1997, o proprietário da fazenda iniciou a transformação da produção convencional de hortaliças e legumes em produção orgânica, o que considerava um desafio profissional. Recebeu a certificação correspondente a partir do ano seguinte, 1998, quando também converteu a produção convencional de leite para o sistema orgânico, e obteve o certificado em 1999, pela Associação de Agricultura Natural de Campinas, SP. 

Por não ter orientação técnica, ao contrário do que ocorreu na produção vegetal, a migração da atividade leiteira para o universo orgânico resultou em queda acentuada da produção de 800 litros por dia no modelo convencional para 200 litros diários. Além disso, aumentou a mortalidade de vacas, novilhas e bezerras. 

Apesar disso, em razão do investimento em um pequeno laticínio, o retorno financeiro equiparou-se ao modelo de exploração leiteira anterior. A explicação estava no maior valor agregado, por causa do processamento do leite e do preço de venda dos produtos derivados com origem orgânica. Assim, até 2006, o laticínio sustentou a atividade leiteira. 

Mesmo com a agregação de valor decorrente do laticínio, a atividade leiteira conseguia apenas pagar suas contas, sem retorno financeiro significativo. Por isso, o proprietário contatou a Embrapa Pecuária Sudeste e propôs o início de um trabalho de intensificação da produção orgânica de leite junto ao Projeto Balde Cheio. 

No início do trabalho a propriedade destinava 45 ha para a atividade leiteira. Com o decorrer do tempo e o processo de intensificação sendo estabelecido gradativamente, a área foi reduzida drasticamente para 15 ha e, posteriormente, com o objetivo de elevar a produção leiteira para atender à demanda crescente por produtos lácteos orgânicos, a fazenda passou a destinar mais área para o setor de lácteos, chegando, em 2018, a 25 ha, ou seja, 55,5% de área inicialmente utilizada, confirmando a afirmação que a intensificação do uso do solo é um poupador de terra, possibilitando a liberação de áreas para outras atividades. No caso da Fazenda Nata da Serra, as áreas liberadas foram incorporadas às áreas de proteção permanente. 

Em contrapartida, a produção de leite na propriedade cresceu em 12 anos, tanto pelo aumento da produtividade da terra como pela redução das áreas exploradas pela atividade leiteira. Esse resultado comprova que o processo de intensificação da produção leiteira na Fazenda Nata da Serra foi exitoso.

Fontes:
FAZENDA DA TOCA: Um polo de produção orgânica em larga escala
Primeiro leite carbono neutro é lançado no Brasil
Vale das Palmeiras
O mercado de leite orgânico no mundo e no Brasil
Fazenda Nata da Serra, Serra Negra, SP: descrição de caso de sucesso na produção orgânica de leite.

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