O gado Franqueiro, adaptados às condições climáticas brasileiras, exibem características semelhantes aos zebuínos, demonstrando uma notável rusticidade e capacidade de aclimatação; descubra mais sobre essa raça de gado com maior chifre do Brasil
O gado Franqueiro, uma preciosidade da pecuária do Brasil, transcende sua importância genética ao se tornar um ícone cultural do sul do país. Enquanto o Texas Longhorn detém o recorde de maiores chifres do mundo, conforme destacado anteriormente no Compre Rural, hoje voltamos nossa atenção ao Franqueiro, ou Gado Crioulo Lageano, que ostenta chifres que podem medir até 2 metros de extensão.
Esses chifres funcionam como um eficiente sistema de refrigeração, uma adaptação curiosa e vital para o clima brasileiro. Este artigo visa explorar a história, as características e os desafios enfrentados por esta primeira raça de bovino genuinamente nativa do Brasil.
Origem
A história do gado Franqueiro remonta ao período do descobrimento do Brasil, quando os portugueses trouxeram gado bovino de origem taurina. Esses animais foram dispersos pelo território brasileiro e, ao longo dos séculos, tiveram que se adaptar e sobreviver em condições diversas, o que resultou nos animais que conhecemos hoje.
Os ancestrais do gado Franqueiro também deram origem a outras raças brasileiras de bovinos, como o gado pantaneiro, caracu, curraleiro pé-duro, crioulo lageano e o gado junqueira. Todos esses são taurinos e compartilham semelhanças físicas significativas. Acredita-se que esses animais descendem de raças portuguesas do tipo aquitânico ou turdetano, representadas pela Alentejana (ou Transtagana), Galega (ou Minhota) e Mirandesa. Além dessas, outras raças do tronco ibérico e possivelmente até gado africano podem ter contribuído para a formação do gado Franqueiro.
A introdução inicial desse gado no sul do Brasil foi feita pelos jesuítas, que trouxeram os primeiros rebanhos. Posteriormente, os bandeirantes também contribuíram para a migração dos bovinos até a região de Franca, no interior de São Paulo, que era um importante entreposto comercial na época. A cidade de Franca possivelmente deu origem ao nome “Franqueiro” devido à intensa movimentação e comercialização desses animais.
Na região de Lages, em Santa Catarina, colonos conseguiram domesticar e realizar cruzamentos entre diversas raças ibéricas, resultando no nascimento do Lajeano. Esses bovinos, adaptados às condições climáticas brasileiras, exibem características semelhantes aos zebuínos, demonstrando uma notável rusticidade e capacidade de aclimatação. O leite do gado Franqueiro foi inicialmente utilizado para a produção do famoso queijo serrano da região, o que destaca a importância cultural e econômica dessa raça.
Características
O gado Crioula Lageana, além de ser um animal rústico, destaca-se pela sua resistência a doenças e parasitas. Os chifres do Franqueiro ou Lageano são horizontais, em forma de lira, e desempenham um papel crucial na adaptação aos trópicos. Durante as épocas mais quentes do ano, esses chifres, que podem atingir até um metro de ponta a ponta, funcionam como radiadores, permitindo que o vento passe por eles e refresque o animal.
Uma curiosidade interessante é que, apesar do tamanho impressionante dos chifres, também existem exemplares mochos, especialmente no estado do Tocantins. Criadores da região têm apostado no cruzamento do Lajeano com o Nelore.
O Franqueiro possui uma pelagem fina e curta de cores variadas e uma pele espessa. As fêmeas desta raça demonstram excelente habilidade materna, garantindo bezerros desmamados com bom peso e desenvolvimento adequado. Elas pesam, em média, cerca de 500 kg e produzem leite rico em gordura. Estudos da Embrapa indicam que esse leite tem predominância do fator AA, responsável por ser menos nocivo ou alérgico para a saúde humana. Os machos da raça Franqueiro pesam entre 800 e 1.000 kg. Sua carne é valorizada por suas qualidades nutricionais e saborosas.
Aqui estão mais algumas das características mais notáveis:
- Dupla aptidão: Esta raça é valorizada por sua dupla aptidão, sendo eficiente tanto na produção de carne quanto de leite.
- Rusticidade: O gado Franqueiro é reconhecido por sua rusticidade, o que significa que ele é capaz de prosperar em condições adversas com custos de criação reduzidos.
- Crescimento: O crescimento do gado Franqueiro é considerado lento, o que historicamente contribuiu para seu uso não apenas na alimentação, mas também como animal de tração.
- Habilidade materna: As fêmeas possuem boa habilidade materna, garantindo bezerros desmamados mais cedo e com bom peso e desenvolvimento adequado.
- Produção leiteira: O leite das fêmeas é rico em gordura, o que era inicialmente utilizado para a produção do famoso queijo serrano da região
Carne
O Franqueiro é conhecido por sua carne de alto teor de marmoreio, macia e suculenta. Atualmente, diversas fazendas em todo o Brasil criam essa raça, utilizando técnicas reprodutivas avançadas, como inseminação artificial e fertilização in vitro. No entanto, o Franqueiro ainda é uma raça com poucos exemplares no país, somando pouco mais de duas mil cabeças e cerca de 50 criadores oficiais cadastrados, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana, com sede em Lages, Santa Catarina.
Esses bovinos são encontrados em diversos estados, incluindo Paraná, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, embora os rebanhos mais significativos estejam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A raça Crioula Lageana é considerada um símbolo da região gaúcha, sendo um patrimônio genético e cultural desses estados. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) reconhece oficialmente esses animais. Os exemplares puros são identificados com tatuagens nas orelhas, garantindo suas certificações e registros genealógicos junto à associação.
Extinção
Atualmente, o gado Franqueiro enfrenta riscos de extinção, com apenas cerca de 350 animais no Rio Grande do Sul e pouco mais de 1000 na região sul. Os criadores lutam pelo reconhecimento e preservação da raça, tanto pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) quanto pelo governo do Rio Grande do Sul, como um dos símbolos que compõem a cultura sulista.
Para aqueles interessados em saber mais sobre o Franqueiro ou Crioula Lageana, basta entrar em contato com a Associação Brasileira dos Criadores da Raça.
Desse modo, o reconhecimento do gado Franqueiro como patrimônio genético e cultural é um passo vital para garantir que as futuras gerações possam continuar a se beneficiar de sua contribuição inestimável. O gado Franqueiro é mais do que uma raça; é um legado vivo da história brasileira, um emblema da diversidade genética e um exemplo da interação harmoniosa entre a natureza e a cultura humana.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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