Os caprinos da raça Boer, excelentes produtores carne, são verdadeiros exemplares de vigor, fertilidade e robustez, exibindo uma imponente estrutura física
Reconhecidos por sua notável capacidade de produção de carne e adaptabilidade a diversos ambientes, a raça Boer tem conquistado cada vez mais espaço nas criações ao redor do mundo. Sua distinta pelagem branca, contrastando com tonalidades escuras na cabeça e pescoço, é apenas uma das suas marcantes características.
Além do seu porte imponente, os caprinos Boer são notáveis pela sua qualidade na produção de carne vermelha, apresentando carcaças uniformes que atendem aos mais altos padrões. Suas cabras não ficam para trás, sendo excelentes produtoras de leite, o que as capacita a aumentar suas crias com sucesso, garantindo ganhos de peso substanciais e minimizando a mortalidade pré-desmame. Nesse artigo conheceremos mais sobre essa raça. Boa leitura!
Qual a origem dos caprinos da raça Boer?
Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Boer (ABCBOER), a raça caprina indígena Boer, é fruto do melhoramento de muitos anos com alguma infusão de sangue dos caprinos Angorá, europeus e indianos. Diversas pesquisas apontam que a população indígena original era provavelmente das tribos Bantu. O nome deriva da palavra holandesa “boer”, que quer dizer fazendeiro, e foi usado, provavelmente, para distinguir as cabras nativas das Angorá que foram importadas pela África do Sul durante o século 19.
Os caprinos Boer atuais surgiram no início do século 20, quando rancheiros da Província de Easter Cape iniciaram a seleção para corte. Este novo Boer era um caprino com boa conformação, alta taxa de crescimento, boa fertilidade, pelos curtos, pelagem formadas por manchas vermelhas que se estendiam da cabeça até a região da paleta.
Em 1959, foi fundada a Associação de Criadores de Caprinos da Raça Boer da África do Sul, entidade que estabeleceu um programa de melhoramento genético. A partir da década de 60 um Boer “melhorado” começou a surgir, resultado de formulações de padrões raciais que se constituíram em um guia para a seleção e aprimoramento da raça.
O passo seguinte foi acrescentar à morfologia obtida, características de produção. Atualmente, o Boer apresenta boa conformação, rápida taxa de crescimento, fertilidade e fecundidade altas, tipo e pelagem uniformes. É uma raça muito rústica e de fácil adaptação a várias condições ambientais. Recentemente entrou no Brasil se adaptando muito bem, sendo bastante difundida em todas as regiões.
Quando a raça Boer foi introduzida no Brasil?
A raça tem sua efervescência no Brasil apenas na segunda metade da década de 1990, fato ocorrido após a abertura econômica sul-africana, com o “fim” do reprovável regime de segregação racial (apartheid) vigente naquela nação. É do ano de 1995 o ingresso do Boer no rebanho caprino do Brasil. Foram os criadores Sieb Greidanus e Mário Abreu que lograram as primeiras importações desses animais, trazendo-os da Holanda e do Canadá.
Nos anos seguintes, a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (EMEPA), na Paraíba, sob tutela de Paulo Roberto Miranda Leite, importou algumas dezenas de animais dos Estados Unidos, dando assim passos largos no referido processo de seleção e expansão da raça no Brasil. Em seguida ocorreram outras importações de material genético advindo da Alemanha, Austrália e alguns animais canadenses, norte-americanos e africanos.
Também precisamos destacar o icônico Sr. Luiz Felipe de Almeida Brennand e outros criadores de grande porte importaram sobremodo da África do Sul, animais de características marcantes que alavancaram definitivamente o desenvolvimento da raça no país.
O Boer, seguramente, provocou uma revolução na caprinocultura de corte. Animais reprodutores provenientes de cruzamentos selecionados incrementaram, notoriamente, o peso de animais mestiços do semiárido e de quase todo o país e hoje garantem alto nível no cultivo da raça Boer brasileira, basta observar os resultados dos grandes eventos que ocorrem dentro e fora do país.
Que tipo de criador a raça Boer é indicada?
O diretor técnico lembrou ainda que a raça Boer é indicada a todos os tipos de criadores, desde criadores com áreas pequenas aos de grande porte, assim como os que criam nas regiões mais áridas aos que criam em regiões mais chuvosas. “Indicamos tanto para os de agricultura familiar, como também aos grandes pecuaristas” – finalizou o diretor.
Quais são as principais características da raça Boer?
Segundo o diretor técnico da raça Boer, Cléssio Moreira, as principais características da raça são: rusticidade, ganho de peso e adaptabilidade aos diversos climas. Inclusive, ele contou que os animais podem ser criados em todas as regiões do país, desde as mais áridas até as mais úmidas.
O técnico destacou também sobre o manejo e nutrição dos animais da raça Boer. “Todos os animais de alto valor genético e produtivo, para desempenharem seu potencial, necessitam de atenção e um trato especial, afinal não existe milagre, mas as exigências da raça não são tão altas” – lembrou Cléssio.
Desde muito novos, os animais da raça Boer demonstram um rápido crescimento e um desenvolvimento físico excepcional, alcançando pesos impressionantes na idade adulta, variando entre 118-170 kg para os machos e 95-120 kg para as fêmeas.
Essas notáveis características fizeram dos caprinos Boer os favoritos entre os criadores brasileiros de caprinos, que reconhecem a sua origem na África do Sul, resultado do cruzamento entre caprinos de raças indígenas africanas e raças de origem europeia. O sucesso desse cruzamento reverberou pelo mundo, com criadores em todos os continentes optando por essa raça excepcional.
Os magníficos caprinos da raça Boer são verdadeiros campeões de adaptação, encontrando nos diversos climas do Brasil um ambiente ideal para prosperar. Não é à toa que lideram o ranking de registros na Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC).
Fruto de uma mistura de raças, os caprinos Boer tornaram-se imprescindíveis para qualquer criador, graças às suas inúmeras qualidades, que merecem destaque:
- A carne dos caprinos Boer é uma escolha saudável, com baixo teor de gordura (menos de 3%), colesterol, gordura saturada e calorias. Além disso, é excepcionalmente macia, saborosa e suculenta em comparação com outras raças de caprinos;
- Apresentam alto rendimento de carcaça;
- As cabras Boer atingem a maturidade sexual precocemente, geralmente por volta dos 6 meses de idade;
- São animais de fácil manutenção, com as fêmeas produzindo leite em quantidade suficiente para alimentar suas crias, dispensando a necessidade de alimentação concentrada. E, a desmama ocorre precocemente;
- Possuem couro resistente, de pelos curtos e lisos, com excelente flexibilidade;
- Adaptam-se facilmente a diferentes ambientes, especialmente em áreas áridas e encostas;
- Permitem a criação conjunta com bovinos e ovinos;
- Preferem se alimentar de arbustos, o que ajuda na limpeza das pastagens para o gado, sem competir diretamente por recursos alimentares;
- Apresentam grande precocidade sexual em ambos os sexos. Normalmente, são utilizados 2 machos para cada 100 fêmeas, com duas estações de monta, cada uma com 25 matrizes por macho, além das cabras que não foram cobertas na estação anterior (uma oportunidade antes do descarte da matriz);
- Devido à sua alta fertilidade, é possível obter até 3 partos a cada 2 anos, com 2 a 3 cabritos por parto. O período de gestação tem uma média de 148 a 149 dias;
- Apresentam um ganho de peso médio de cerca de 350 g por dia;
- Os cabritos atingem peso suficiente para o abate aos 90 dias, eliminando a necessidade de castração dos machos.
Manejo simples do Caprino Boer
O caprino Boer é reconhecido por sua rusticidade e baixa exigência de cuidados. Em relação à alimentação e ao ganho de peso, a habilidade materna das cabras é uma grande vantagem, facilitando os cuidados com os filhotes recém-nascidos. Uma vez que atingem a puberdade, esses caprinos se tornam bastante independentes, alimentando-se principalmente de arbustos e até mesmo podendo compartilhar pastagens com bovinos sem prejudicar o pasto de gramíneas.
Em condições normais de saúde e alimentação adequada, um caprino Boer pode ganhar, em média, 350 gramas por dia. No entanto, os produtores devem estar preparados para períodos de escassez e seca, mantendo reservas de silagem para suprir as necessidades do rebanho, se necessário.
O manejo reprodutivo requer um pouco mais de atenção. É comum entre os criadores de Boer realizar duas estações de monta por ano. A proporção recomendada para reprodução é de 2 bodes para cada 100 cabras Boer. É essencial empregar logística e organização no manejo reprodutivo, tanto para descartar matrizes inférteis quanto para manter o equilíbrio no número de animais no rebanho.
Os principais cuidados com a saúde dos Boer estão relacionados à vacinação e à higiene dos currais, especialmente em sistemas de confinamento. Portanto, é crucial seguir rigorosamente o programa de vacinação para prevenir doenças.
Em sistemas de confinamento, é importante evitar que a água e a ração entrem em contato com as fezes, pois a contaminação dos alimentos pode levar os Boer a contraírem coccidiose, uma doença que afeta o sistema digestivo dos caprinos.
Orientações cruciais para a criação de caprinos da raça Boer
- Para os criadores interessados apenas na produção e comercialização de carne de caprinos Boer, é recomendado cruzar machos puros com cabras comuns. No entanto, é importante ressaltar que os filhotes resultantes desse cruzamento estão destinados exclusivamente ao abate.
- Apesar da adaptabilidade e rusticidade desses animais, é essencial que o criador esteja atento à qualidade da pastagem. Em épocas desfavoráveis (dependendo da região), é prudente possuir reservas alimentares, como silagem de milho e árvores de Leucena, para garantir a nutrição adequada dos caprinos.
- A infraestrutura da área de manejo pode ser coberta ou descoberta, conforme as condições climáticas locais.
- A produção em pastagens, em conjunto com bovinos, representa a opção de menor custo e maior lucratividade para os criadores.
- É fundamental manter a vacinação em dia, visando preservar a saúde dos animais e proteger o investimento realizado. Nesse sentido, contar com assistência veterinária é essencial para o sucesso da empreitada.
- Evite o contato das fezes dos animais com a água, pois isso pode aumentar o risco de coccidiose, uma doença que afeta especialmente os cabritos quando confinados.
- Busque alternativas de alimentação de baixo custo para complementar a dieta dos caprinos, como resíduos de processos industriais, como cevada de cervejaria ou polpa cítrica.
- Esteja preparado para enfrentar períodos difíceis mantendo reservas de alimentos, como feno, silagem e áreas com leguminosas arbóreas, como Leucena ou Bracatinga, garantindo assim a disponibilidade rápida de alimento para os animais em momentos de escassez.
“Temos certeza de que o Brasil se constituiu como uma opção de comércio de uma carne nobre, requintada, saudável, e, em face das similitudes georreferenciais equivalentes àquelas dispostas em território Sul Africano, consagrou-se também como plataforma com capacidade crescente dos seus dóceis, versáteis e adaptáveis rebanhos de caprinos Boer” – Hian de Assis Monteiro.
A Carne de cabrito é a carne vermelha mais magra e a mais consumida no mundo. Estudos realizado pela Universidade Federal do Paraná comprovou que os baixos índices de gordura e colesterol aliados aos altos índices de nutrientes tornam a carne de cabrito recomendável para cardíacos e diabéticos.
Concluindo, ao longo destee artigo sobre os caprinos Boer, ficou claro o motivo pelo qual são considerados excelentes produtores de carne. Sua resistência, adaptabilidade e habilidade materna são apenas algumas das características que destacam essa raça no cenário da pecuária. Desde suas origens incertas até os cuidados necessários em seu manejo, os caprinos da raça Boer continuam a surpreender e encantar criadores em todo o mundo.
Mais informações sobre a raça, acesse o site da ABCBOER, clique aqui.
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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