Cristiana Gutierrez, médica e empresária que atualmente preside a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) e é uma das maiores criadoras do país
A raça Mangalarga Marchador (MM) é tipicamente brasileira e surgiu há cerca de 200 anos na Comarca do Rio das Mortes, no Sul de Minas, através do cruzamento de cavalos da raça Alter – trazidos da Coudelaria de Alter do Chão, em Portugal – com outros cavalos selecionados pelos criadores daquela região mineira. O Mangalarga Marchador teve como berço a fazenda Campo Alegre, no Sul de Minas. Ela pertencia a Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, a quem é atribuída a responsabilidade pela formação da raça.
A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), criada para representar os criadores, foi fundada em 16 de julho de 1949, atualmente sediada no Parque de Exposições da Gameleira, em Belo Horizonte (MG). Seus 74 anos de história foram contadas a partir de inúmeros presidentes homens, entretanto, no ano de 2022 uma mulher resolveu mudar essa história.
Cristiana Gutierrez é a primeira mulher a dirigir a instituição. Entre as mulheres que lideram o Agro no Brasil, ela é uma das mais competentes, assumindo a maior associação de cavalos do país.
Seu mandato teve início em janeiro de 2022 e vai até final de 2025. Primeira mulher a assumir este cargo na entidade, a nova dirigente é Médica por formação há 38 anos. Titular do Haras Morada Nova, em Inhaúma (MG), Doutora, como é carinhosamente conhecida no meio, atua no agronegócio brasileiro. Além do Mangalarga Marchador, está presente nos segmentos da pecuária extensiva, intensiva e leiteira. Há 35 anos, a família de Cristiana é criadora da raça, um negócio que passa de geração para geração.
Na associação, Cristiana olha atentamente para as questões técnicas com o foco na evolução e crescimento da raça no Brasil. “Recebemos uma associação consolidada no sucesso de uma administração compartilhada, que proporcionou números surpreendentes ao Mangalarga Marchador. Daremos continuidade ao trabalho dos últimos seis anos, com comprometimento e respeito aos associados e aos animais, os grandes protagonistas que regem nossa entidade considerada a maior associação de equinos da América Latina”, disse a presidente em sua posse.
Atualmente, a ABCCMM possui mais de 25 mil associados ativos. Com cerca de 56 núcleos e associações regionais de criadores espalhados em todo o Brasil, o Mangalarga Marchador tem representações também no exterior: Alemanha, Itália, Estados Unidos e Argentina.
Em entrevista a Revista Encontro, a líder do MM fala sobre as questões de gênero. “Na verdade, não acho que este seja um desafio ligado à questão de gênero. O ambiente ainda é predominantemente masculino, mas observamos que, embora apenas 18% do nosso quadro de associados sejam mulheres [proprietárias], existe um universo feminino enorme se movimentando no entorno”, diz.
Ela argumenta que há uma mudança visível acontecendo, com mais mulheres assumindo a sucessão de famílias nos haras. “Isso é crescente. Quando eu comecei, há 35 anos, eram poucas as mulheres com grande atuação nesse meio. Quem está mandando agora somos nós!” – declarou ela a revista.
Médica especializada em cardiologia propedêutica e formada pela UFMG, Cristiana trouxe uma experiência de 20 anos trabalhando na Santa Casa, maior hospital público de Minas Gerais, para a nova tarefa. Casada, mãe de três filhos adultos e herdeira do Grupo Andrade Gutierrez, a fazendeira também atua no ramo do agronegócio com a produção extensiva de leite no Norte de Minas.
Seu verdadeiro papel na presidência da associação, diz, é trazer novas ideias e ações: “Todo gestor, quando tem um novo desafio, pensa pelo lado da inovação e na nossa gestão pensamos muito pelo lado da inovação humanizada.” Isso significa, segundo Cristiana, ter um olhar que contemple do pequeno ao grande negócio, dando apoio a todos os associados.
A recente 41ª Exposição do Cavalo Mangalarga Marchador, maior evento da raça realizado no Brasil, mostrou que isso já acontece. “O que nos deixa muito felizes é que, nesta edição da Nacional, tivemos mais de 200 criadores participando com apenas um animal e mais de 70% dos expositores, de um a quatro animais. Ou seja, este é um evento para todo mundo se sentir bem acolhido”, afirma.
Cristiana conta, com orgulho, que sua gestão tem cuidado de cada detalhe, da organização de grandes encontros, passando pelo apoio total aos associados, até a questão do bem-estar animal durante a exposição, que reuniu 1.546 animais de 16 estados das mais diversas regiões do país, com 500 expositores.
Sem leilões ou shows, apenas com rodadas de negócios, provas competitivas e eventos paralelos (palestras, encontros, visitas guiadas, etc.), o Nacional levou cerca de 200 mil pessoas ao parque, com uma estrutura muito bem montada na Gameleira.
As competições premiaram a melhor marcha, a melhor morfologia, o melhor reprodutor, entre outros itens. Foram 1.621 premiações no total (categorias divididas em esporte e pista principal), com campeões, reservados campeões, primeiro prêmio e menções honrosas. Realizado durante duas semanas de muita programação, “este é o maior evento de Belo Horizonte depois do carnaval, segundo a Belotur“, diz Cristiana. “A cada ano, trazemos mais novidades, como o calendário de julgamentos mais amplo em 2024” – ressaltou a mandatária.
“Sua liderança participativa, estimulando sempre o consenso da diretoria nas principais decisões, é uma das suas características mais marcantes e com certeza o olhar feminino, mais atento a detalhes, multitarefas e sensibilidade, faz toda a diferença” – disse Manoel Campos, do Haras Picadão.
Cristiana também é uma defensora do setor, em recente entrevista ao programa Agro B do Canal Viver Brasil a mandatária ressaltou a importância do cavalo para o Brasil.
“Acho muito importante a gente ressaltar que a equinocultura, ao contrário de que muitas pessoas pensam, ela não é apenas um hobby, ou uma atividade elitista. Números mostram que 53% da tropa de equinos no Brasil trabalham da porteira para dentro, na lida, lembrando que nós temos a maior pecuária comercial do mundo. Para a pecuária o cavalo é fundamental, ninguém toca a boiada sem o cavalo, seja ela pequena ou grande. As vezes a pessoa frequenta somente exposições e pode parecer que o cavalo é uma atividade elitista, mas não é. Nós somos a quarta maior tropa do mundo, somente atrás de Estados Unidos, China e México. Minas Gerais [berço do MM] é o estado com o maior rebanho de equinos do país, somando todas as raças” – disse ela durante o programa.
Recentemente, durante o Agro360 Podcast, Cristiana falou sobre o mercado de R$ 30 bilhões da equinocultura brasileira, realizado pelo professor doutor Roberto Arruda da USP, especialmente sobre a relevância do Mangalarga Marchador nestes números. “Esses números são importantíssimos para todos nós [envolvidos com o mundo do cavalo], o Mangalarga Marchador representa 31% desse universo, ou seja, estamos falando em torno de R$ 9,3 bilhões, são números consistentes e robusto, quando pensamos em toda a cadeia da equinocultura” – ressaltou a presidente da ABCCMM.
Confira o episódio completo do podcast:
Com informações do programa Agro B, Revista Encontro e Agro360 Podcast
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