Zé do Prato popularizou os bordões, incrementou a sonoplastia e ainda popularizou as duplas sertanejas nos rodeios; sua voz forte e um carisma sem igual chamavam atenção
O locutor de rodeios José Antonio de Souza, mais conhecido como Zé do Prato, revolucionou a locução dos rodeios. Ele, que faleceu no auge da sua carreira com 25 anos de profissão e 43 de idade, recebe até hoje homenagens por transformar o modelo de narração dos rodeios na década de 70. Na época ele narrava, comentava e agradecia os patrocinadores, revolucionou a forma de narrar rodeios e influenciou muitas gerações.
Em Charqueada, São Paulo, há um museu em sua homenagem com mais de 200 peças catalogadas pelo Ministério da Cultura, entre eles microfone, chapéu fivelas e até uma agenda, no Recinto de Rodeios em Cassilândia no Mato Grosso do Sul tem uma estátua dele, já o Recinto de Águas de São Pedro leva o seu nome, onde ele mesmo participou da inauguração. E o estádio de futebol de Regente Feijó, sua cidade natal, se chama Estádio Municipal Zé do Prato.
Zé do Prato nasceu em Regente Feijó no dia 29 de abril de 1948, o apelido surgiu do instrumento que ele tocava na fanfarra da escola na cidade para se diferenciar dos outros Josés. Ele trabalhou em emissoras de rádio como técnico de som e em pouco tempo se tornou locutor de um programa sertanejo.
Sua voz forte e um carisma sem igual chamaram atenção do proprietário da Companhia Marca Estrela, Jorge dos Santos, que o convidou para cuidar dos equipamentos de som e substituí-lo na locução dos rodeios que a empresa organizava na década de 60. Na época havia poucos locutores e era uma outra forma de narração de rodeio, mais falada, anunciada. E, o Zé do Prato passou a se inspirar num narrador esportivo, na entonação de voz, narração mais cantada e usando bordões. Foi então que ele popularizou a expressão “Segura Peão” e o ‘”Boa Noiteeee”.
Em entrevista a um documentário da TV Cultura de 1985, ele contou como entrou nesse meio.
“A gente fazia rádio, programação sertaneja e fui convidado através de uma firma, e graças a Deus tive uma criatividade grande, tive muita sorte e hoje percorro o Brasil todinho levando a animação do rodeio”, disse.
Na década de 70 Zé do Prato foi vereador em Regente Feijó, entre os anos de 1973 e 1977, período em que já era conhecido por narrar rodeios da Companhia Marca Estrela.
Zé do Prato: Locutor e sonoplasta
A estrutura de rodeio naquela época era bem simples e não tinha a tecnologia que nós temos hoje, o Zé do Prato usava um gravador cassete e quatro cornetas para fazer a locução, então ele narrava a montaria, e depois apontava o microfone apontado no gravador para sair as músicas.
No final da década de 70 no rodeio de Tanquinho o Chiquito Som apresentou ao Zé do Prato a sonoplastia do rodeio, então o Zé do Prata narrava e a música ou trilha entrava conforme a ocasião.
Mudou a forma de anunciar os competidores e ajudou a popularizar as duplas sertanejas
Zé do Prato gostava de identificar os competidores com algum apelido ou história, para fazer com que o público lembrasse do competidor, essa também foi uma grande sacada dele. Então por exemplo, ia sair o Lourenço, o Homem do Trem, então quando ele apresentava o Chiquito Som já colocava a trilha do Trem, ia sair o Alencar Risole o Noivo, aí entrava uma trilha de noivado, isso mudou a cara dos rodeios e ajudou a popularizar as duplas sertanejas porque as músicas passaram a ser tocadas nos rodeios.
Logo, na década de 80 os shows começaram a chegar e o Zé do Prato apresentava as atrações.
“Com muito carinho, com muito amor meu povão de Colorado e região vamos nós receber eles artistas das rádios, dos discos e da televisão brasileira, muito sucesso por esses Brasil afora Gilberto e Gilmar uma salva de palmas…”, apresentou ele numa das locuções.
Com um visual sempre impecável, Zé do Prato exibia um conhecimento tanto dos animais quanto dos peões, além de exalar um entusiasmo cada montaria, principalmente nas finais de rodeio, revelando o amor que tinha com a profissão.
Era comum ver o Zé do Prato exigindo responsabilidade dos competidores perante o público, a premiação que era dada, forçando-os a darem o máximo de si durante as montarias.
“Então agora, vamos começar o que interessa a vocês, a comissão e ao povão. Os senhores sabem muito bem que a festa de Colorado, como nós dizemos no sorteio agora a pouco, não é festinha não”…”Então senhores sabe o que o japonês faz, luta, faz judô, caratê então os senhores vão ter que mostrar serviço senhores cavaleiros, é uma comissão que não vem aqui para brincar não, senhores cavaleiros o povo de Colorado conhece o regulamento do rodeio e tem outra o prêmio aqui não é prêmio de novela não heim, é prêmio de 600 mil cruzeiros, uma premiação desta numa época dessa minha gente vocês vão ter que mostrar tudo o que tem ao povo de Colorado. Boa sorte, bom trabalho e vamos com Deus e Nossa Senhora Aparecida”, disse em uma narração.
Ele também costumava brincar com os competidores que eram negros, assim como ele, uma brincadeira sadia, mas que hoje daria o que falar. “Garoto dos olhos azuis, cabelo comprido longo, o nome dele é Aparecido é irmão do Roberto Carlos, abriu a porteira, foi embora e o que é isso daí. Ué ele não era loiro? (risadas) …. “Sensacional o Jabuticaba preta”.
Zé do Prato narrou o rodeio de Barretos por três anos, o último em 1979, mas como o Jorge Santos não ia à Barretos por um desentendimento com a comissão, o Zé do Prato preferiu não ir mais. No entanto, ele narrou grandes rodeios espalhados por todo o Brasil, incluindo Colorado no Paraná.
“A animação da festa vai ficar por conta ele, o moreno mais bonito do mundo de Deus, o negão apaixonado o Zé do Prato”, comentou em uma das narrações realizadas em Colorado
Outro rodeio que teve forte influência de Zé do Prato foi o de Americana, o qual ele ajudou a fundar. “Boa noite Americana cidade do meu coração”….
Em 1991, no auge dos seus 25 anos de carreira, Zé do Prato vivia o seu melhor momento, ganhava bem e estava em evidência na mídia.
Em entrevista para Regina Casé no Programa Legal da Rede Globo em 1991, ela afirmou que ele era um locutor super famoso, o mais conhecido no mundo dos rodeios e perguntou se ele se sentia um galã.
“Meu estilo é estilo caipira, country, cultural. Me sinto um galã sim, eu me sinto um Roberto Carlos”, brincou respondendo a entrevista.
Zé do Prato morou um bom tempo na cidade de Piracicaba, em São Paulo, e lá conviveu com a dona Aurea Bonfiglio mas não deixou filhos.
O último rodeio narrado completo por Zé do Prato foi em Indaiatuba, em São Paulo, em dezembro de 1991.
“Está parecendo a Copa do Mundo no rodeio aqui no Brasil, aqui na cidade de Indaiatuba, o povo está gritando, aplaudindo”, disse no dia.
No dia 26 de dezembro ele fez a abertura do rodeio de Porto Feliz mas já não estava bem e no dia seguinte ele foi internado em Piracicaba, fez uma cirurgia para sanar uma pancreatite. Em janeiro ele foi levado para o Hospital Sírio Libanês em São Paulo, mas durante a recuperação ele foi acometido de uma infecção generalizada e faleceu no dia 27 de janeiro de 1992 aos 43 anos. Ele está sepultado em Piracicaba junto com a dona Aurea. Em sua homenagem, uma Ponte sobre o Rio Piracicaba recebeu o seu nome José Antonio de Souza – Zé do Prato.
“A vida é assim mesmo, nós estamos aqui hoje sorrindo conversando abraçando um ao outro, chega amanhã o patrão convida a gente para subir as alturas nos céus e lá perto dele acertará as contas”, disse Zé do Prato em uma das locuções.
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