Com fazenda em Mato Grosso do Sul, Almir Sater pretende completar as fases de cria no Pantanal com as de recria e engorda no firme
Ator, compositor, cantor e violeiro de mão cheia, Almir Sater é um artista consagrado. Mas o Globo Rural foi conhecer outro lado desse grande músico. Na propriedade em Mato Grosso do Sul, o fazendeiro Almir Sater faz o manejo de um gado que ele acredita ser o novo sucesso dos pastos do Centro-Oeste.
Maracaju, sudoeste do Mato Grosso do Sul, polo de integração lavoura-pecuária no Brasil. Nos dias de hoje o milho safrinha está no ponto de fazer a colheita. A estrada de terra, que cruza o rio Chaleira, é o caminho para chegar na fazenda cujas construções são de madeira e pedra, os materiais mais abundantes pela região.
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O encontro com o Almir Sater aconteceu para conhecer a face dele de criador de gado. Sem desfazer da primeira fazenda, que fica em Aquidauana, também Mato Grosso do Sul, Almir adquiriu a outra propriedade. O lugar é de serra, com terra boa e que não inunda. Ele pretende completar as fases de cria no Pantanal com as de recria e engorda no firme.
“Eu sempre gostei muito dessa coisa da fazenda, dos horários, de acordar às 3hs e já ter gente na ativa. Muito legal. Quando eu estou mexendo com show, vou dormir às três da manhã. Até fazer o show, meia-noite, uma hora, aí vai jantar. Depois da janta, espera um pouco porque o show excita muito a gente. Então, demora pra dormir. Na fazenda é o oposto. O primeiro dia que eu venho pra fazenda, eu gosto de já acordar muito cedo já pra entrar no fuso horário da fazenda”, diz Almir.
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Em cada fazenda existe um cavalo com nome Miranda. Não é coincidência. Geralmente, é um cavalo alto, manso, bom de sela. Para Almir, o tempo de Zé Trovão, personagem de uma novela que ele fez, já passou. Não mexe mais com cavalo arisco, redomão. O nome Miranda é porque os vaqueiros dizem: que “esse é o cavalo que o almiranda”. Ele se sente à vontade num Miranda. Na fazenda, está quase sempre montado. Como todo criador, fala com entusiasmo do gado que escolheu e que acredita ser de grande futuro no Brasil.
“Essa é uma raça chamada Senepol, de uma vaca que veio do Senegal, um touro Red Pol, que é um touro inglês. Aí nas ilhas caribenhas, Ilhas Virgens americanas, desde mil oitocentos e pouco, o pessoal foi adaptando esse touro Red Pol nessa vaca africana pra amaciar a carne, fazer uma experiência. E deu certo. Isso veio sendo adaptado e hoje virou uma raça pura e especial pra clima tropical, assim”, diz Almir.
Segundo Almir, com menos tempo de pasto, o sangue do Senepol vai significar vantagem na hora de vender o animal. Ele fica pronto mais cedo. Apesar de são ser zebu, o Senepol é resistente ao calor por causa da parte africana. Enfim, está acostumado com o clima parecido ao da fazenda.
Em outro pasto perto da sede, o criador Almir tem tourinhos esperando para ir a leilão. A marca do gado não podia ser outra. “São todos puros, filhos de campeões”, diz Almir.
Com intuito de aumentar o gado puro, Almir usa vacas comuns como barriga de aluguel para implantar embriões de qualidade da raça Senepol.
Boa surpresa na hora do almoço: peças de porco monteiro trazidas do Pantanal e assadas na hora. O porco monteiro já foi porco de casa. Um dia fugiu e virou bicho. Esse é o único animal cuja caça é permitida no Pantanal, ou onde houver dele. Quando transformado em churrasco, é uma alegria sua carne com muito sabor e com quase nada de banha. Melhor mesmo é pegar com a mão e ir tocando gaita na costelinha. Depois do almoço, com o sol, o jeito é ficar em casa conversando um pouco. Família de origem turca e libanesa, se tivesse puxado muito pelo sangue, seria talvez comerciante. Porém, não cedeu à força da genética para transformar-se em exímio tocador de viola caipira.
“No Rio de Janeiro, largo do Machado, indo visitar um amigo meu numa daquelas pensões da avenida do Catete ali, passei pelo Machado e vi uma dupla de violeiros mineiros ponteando viola. Pela primeira vez, vi um instrumento que era apaixonado pelo som, pelo rádio. Naquele momento, vendi meu violão de 12 cordas, comprei uma viola caipira e comecei a trilhar esse ofício maravilhoso de violeiro. Eu fazia faculdade de direito. Aí, entortou o direito”, diz.
Almir é grato a um grande músico, autor de um dos seus maiores sucessos. Há 15 anos, quando o Globo Rural foi conhecer a fazenda dele no Pantanal do Rio Negro, município de Aquidauana, também no Mato Grosso do Sul, estava com a equipe o sanfoneiro Mário Zan, autor de Chalana, que Almir gravara para a participação em outra novela. Os dois nunca tinham estado juntos. O encontro foi uma alegria. Maior ainda quando compositor e interprete, sem nenhum ensaio, tocaram a música.
Há muitos pontos de contato entre a carreira do Almir Sater e o Globo Rural. Em 1980, nascia o programa e o Almir estava trabalhando no primeiro disco. Nos quatro anos depois, já como um virtuoso da viola caipira, Almir gravou o primeiro disco instrumental. Do disco fez parte a música Luzeiro, que acabou se tornando o som mais conhecido do programa até hoje. Hoje, 35 anos depois, Almir e o programa estão cheios de sonho e energia. “Luzeiro era um cavalo que meu pai tinha que nunca perdeu uma corrida e que tinha um galope fantástico. Eu me inspirei no galope dele para fazer essa galopada”, conta.
Luzeiro significa luz de intensa claridade. Pode ser um astro ou estrela. Na música do Almir, serviu de guia para muitas pessoas. “Essa música construiu minha casa, ajudou a criar minha família. Essas coisas que ajudam a criar a família da gente são coisas que a gente nunca esquece. Eu sou feliz de poder viver desse instrumento, com esse instrumento e poder abraça-la sempre que posso e quero também”, diz.
Adaptado de G1