Considerado um dos maiores confinamento do Brasil, a Fazenda Santa Rosa, do Grupo Campanelli, mais parece uma “cidade do boi” com mais de 60 mil cabeças por ano!
Em Altair, município de pouco mais de 4 mil habitantes no extremo norte de São Paulo, cada boi que entra para engorda na Fazenda Santa Rosa tem seus passos vigiados numa espécie de big brother rural. O consumo de ração, o ganho de peso e a sanidade são monitorados com o uso de softwares e uma parafernália eletrônica como câmeras, drones e sensores. As informações são acessadas em tempo real, por meio de computadores, tablets e smartphones.
Para Aline Leonhardt, “É boi pra (sic) mais de metro! você vai se impressionar! A fazenda tem um plantio de 10 mil hectares de cana-de-açúcar e milho, 5 mil hectares de pasto convencional e 25 ha para confinamento, a unidade tem capacidade estática para o confinamento de 18.500 bois e terminação de cerca de 60 mil cabeças/ano e um faturamento de R$ 250 milhões (2016).
Nem os 280 funcionários da Santa Rosa escapam ao irmão mais velho. Todos os dias, eles apresentam pelo celular um relatório com uma avaliação da jornada de trabalho na lida nos currais e no trato das plantações de cana e milho – atividades que fazem da fazenda uma das mais modernas do país quando se trata de agropecuária de precisão.
Em cada piquete do confinamento da empresa, entre os cochos e os bebedouros, existe um sensor equipado com um microchip transmissor de radiofrequência, que envia para um central de controle de dados captados da balança eletrônica onde os bois são pesados, nove vezes por dia .
Todas as manhãs, um zootecnista da fazenda passa por todos os piquetes do confinamento. Para cada um deles é feito, uma avaliação visual se há ou não sobra de comida e uma análise do comportamento dos animais naquele momento. A partir daí, ela dá “nota de cocho” para cada um dos piquetes.
Outro projeto promissor que estará em estudo na Santa Rosa é a associação de sistemas de sombreamento dos animais e rações com aditivos para minimizar o estresse térmico dos bovinos. “A ideia é que isso possa dar mais eficiência à produção, fazendo com que um animal diminua o consumo de água”, diz Campanelli.
“O importante é que estamos gerando dados e isso é o que move nossas decisões”. É exatamente isso que tem feito sua empresa crescer, em anos nos quais a pecuária patinou. Como ocorreu nas quatro últimas safras de boi. A companhia faturou no ano passado R$ 253,4 milhões, 11,1% a mais que em 2017 e 71,6% acima de 2014.
Os abates devem chegar a cerca de 75 mil bovinos este ano. Em 2018, o confinamento abateu 60 mil animais. “Acredito apenas em Deus. Para as demais coisas, só acredito com dados”, destaca Campanelli.
O segredo do sucesso
A Santa Rosa pertence ao Grupo Campanelli, uma empresa familiar que, nos últimos sete anos, investiu R $ 10 milhões de recursos próprios na compra de equipamentos, máquinas e montagem de toda a infraestrutura de tecnologia da informação. Uma rede própria formada por torres integra as sete unidades do grupo num raio de 100 milhas, em sete diferentes municípios do norte paulista.
O responsável pela virada tecnológica foi Victor Campanelli, um jovem administrador de empresas de 37 anos, diretor do grupo e membro da terceira geração à frente dos negócios da família. Ele conta que a fazenda mantém tudo sob controle, todo o histórico de cada lote de animais que passa pelo confinamento: quem é o fornecedor, quanto custou o garrote, o número de mortes, gastos com medicamentos, etc.
Ele explica que, na prática, tem uma DRE (demonstração de resultados do exercício) por lote, com a rentabilidade de cada um, escolher. “Sei o peso inicial e o peso final e, por fim, o frigorífico informa o rendimento de cada uma das carcaças”, explica Victor, que diz ter um algoritmo que informa o melhor momento de venda dos animais.
O sistema permite ter gado para abate o ano inteiro, enquanto no confinamento tradicional os animais estão prontos no segundo semestre, durante a entressafra da pecuária. O rastreamento e o controle de todas as informações sobre o manejo do gado possibilitaram à empresa a habilitação para fornecer carne ao exigente mercado europeu. Neste ano, serão adquiridos 75 mil animais, em um contrato de fornecimento exclusivo com a JBS. A pecuária de corte representa cerca de 80% do faturamento do grupo estimado em R $ 320 milhões para 2019.
O segredo do sucesso dos Campanelli não se deve apenas ao rigoroso controle do confinamento. A automatização começou nos canaviais. A proibição da queimadas gerou o desafio de viabilizar a colheita mecanizada sem perda de produtividade. Para ter lavouras mais produtivas e longevas, uma companhia decidiu, em 2006, implantar o piloto automático na colheita e transbordo da cana.
Como não existiam na época equipamentos de agricultura de precisão específicos para canaviais, Victor Campanelli teve de desenvolver adaptações junto com uma empresa norte-americana. A partir de 2 mil mensurações de solo na fazenda e utilizando um jogo de estatística, ele chegou a um índice de correlação que permite aplicar fósforo e potássio na dose certa e no local certo sem desperdícios.
A cana, que ocupa uma área de 8 mil hectares, respondendo por 15% da receita do grupo, está associada ao cultivo do milho, que é colhido inteiro. Grão, palha e sabugo, colhidos ainda verdes, são utilizados na silagem para o gado. O plantio dos 2.500 hectares de cereal, em áreas de reforma dos canaviais, é feito com uma precisão de 3 centímetros. Isso é possível porque 100% da frota de máquinas agrícolas – o que inclui tratores, plantadeiras e colheitadeiras – possui sistema autônomo de direção.
Victor destaca a sinergia das atividades. Um pequeno percentual da palha é enfardado para suprir a demanda por fibra no confinamento. O canavial abre espaço para o milho, que alimenta o gado, que por sua vez devolve mais de 50 mil toneladas de adubo orgânico para as lavouras. A empresa também conta com a vinhaça da indústria para a qual oferece cana, que lhe garante uma fonte de potássio.
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O negócio mais recente do grupo é a Tecno Beef, uma empresa de nutrição animal que produz suplementos minerais sob medida para seus clientes e já responde por 5% do faturamento. Com menos de um ano em operação, o braço de nutrição já passado por quatro ampliações, necessário para atender a clientes em nove Estados do país.