
Além de trazer benefícios agronômicos, a carinata se mostra uma opção promissora para os produtores que buscam diversificação e novas fontes de renda
O agronegócio brasileiro está sempre em busca de novas culturas que agreguem valor ao sistema produtivo, garantindo maior rentabilidade e sustentabilidade. Nesse cenário, a carinata surge como uma alternativa viável para a rotação de culturas e para o melhor aproveitamento da entressafra. Parente próxima da canola, essa oleaginosa de inverno tem se destacado principalmente por sua resistência climática e pelo seu potencial como matéria-prima para a produção de combustível sustentável para aviação (SAF), um segmento em franca expansão devido à crescente demanda por soluções ambientalmente responsáveis.
Além de trazer benefícios agronômicos, a carinata se mostra uma opção promissora para os produtores que buscam diversificação e novas fontes de renda. Com o avanço das pesquisas e os primeiros resultados positivos no Brasil, sua adoção tende a crescer nos próximos anos. O país já se posiciona como um mercado estratégico para essa cultura, com perspectivas de aumento expressivo na área cultivada, impulsionado pelo interesse de cooperativas e indústrias no setor de biocombustíveis.
O que é a carinata e por que está ganhando espaço no Brasil?
A carinata é uma planta oleaginosa que compartilha diversas características com a canola, sendo cultivada tradicionalmente em países como Argentina e Canadá. No Brasil, seu cultivo está concentrado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde tem demonstrado boa adaptação às condições climáticas e de solo. Seu ciclo produtivo dura, em média, 120 dias, com semeadura ocorrendo entre abril e maio. A cultura se destaca pela resiliência às mudanças climáticas e pela capacidade de se desenvolver em solos menos férteis, o que amplia seu potencial de cultivo em diversas áreas do país.
Outro fator que contribui para a expansão da carinata é sua função na conservação do solo. Diferentemente de outras culturas de cobertura, como aveia e ervilhaca, que não trazem retorno financeiro direto, a carinata impede a degradação do solo durante a entressafra e ainda gera lucro para o produtor. Esse diferencial a torna uma opção atrativa para a rotação de culturas, ocupando áreas que ficariam improdutivas até o início da próxima safra de verão.
Vantagens agronômicas e ambientais da cultura
Além da resistência climática e da adaptação a solos de baixa fertilidade, a carinata apresenta benefícios ambientais expressivos. Sua capacidade de cobertura vegetal evita a erosão e auxilia na manutenção dos nutrientes no solo, promovendo uma produção mais sustentável. Isso é essencial em regiões onde a perda de matéria orgânica compromete a qualidade produtiva ao longo dos anos. O fato de ser uma cultura de inverno ainda permite sua integração com outras lavouras, sem prejudicar a produção principal, otimizando o uso da terra e elevando a produtividade da propriedade rural.
A maior vantagem ambiental da carinata, no entanto, está ligada ao seu destino final: a produção de combustível sustentável para aviação. O SAF reduz significativamente as emissões de CO₂ quando comparado aos combustíveis fósseis, o que reforça a importância da cultura no contexto global de descarbonização. Com o crescente interesse por fontes renováveis de energia, a carinata se posiciona como uma alternativa estratégica para o agronegócio brasileiro, unindo produção agrícola e inovação tecnológica na busca por uma economia mais sustentável.

Expansão e viabilidade econômica da carinata
O potencial da carinata no Brasil pode ser observado nos números projetados para os próximos anos. Em 2024, a área cultivada foi de aproximadamente 7.000 hectares, mas as expectativas apontam para um crescimento expressivo, atingindo 50.000 hectares ainda neste ano. Esse avanço se deve, em parte, ao interesse de grandes empresas e cooperativas, que enxergam na cultura uma oportunidade de diversificação e aumento de receita para os produtores rurais.
Além disso, a construção de uma planta de produção de SAF no Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, promete impulsionar ainda mais o cultivo da oleaginosa, garantindo maior demanda e atraindo investimentos para o setor.
A viabilidade econômica da carinata também se reflete nos preços praticados no mercado. No último ano, a média de pagamento pelo grão variou em torno do valor da soja balcão, podendo atingir até 110% do seu preço em algumas regiões. Esse fator torna a cultura uma opção financeiramente atrativa para os agricultores, especialmente aqueles que buscam alternativas lucrativas para a entressafra. Com um cenário global favorável ao uso de biocombustíveis e políticas voltadas para a redução das emissões de carbono, a tendência é que a carinata se torne uma cultura cada vez mais valorizada no mercado.
Desafios e perspectivas para os produtores
Apesar de todas as vantagens da cultura, alguns desafios ainda precisam ser superados para que a carinata se consolide definitivamente no agronegócio brasileiro. Um dos principais entraves é a necessidade de certificação para comercialização do grão, um processo que exige documentação específica e maior controle por parte dos produtores. No entanto, esse requisito também agrega valor ao produto final, permitindo que os agricultores sejam remunerados de forma mais justa, especialmente por meio da comercialização de créditos de carbono, que complementam a receita obtida com a venda da produção.
O interesse crescente de cooperativas e empresas na cultura indica que os desafios tendem a ser superados com o avanço das pesquisas e o aprimoramento das técnicas de cultivo. Algumas cooperativas no Sul do país já estão realizando testes com a carinata, avaliando sua viabilidade como cobertura para o plantio de milho e soja precoce. Com o suporte adequado e a ampliação da infraestrutura de beneficiamento, a expectativa é que a carinata se torne uma alternativa consolidada na rotação de culturas, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a rentabilidade dos produtores.
O crescimento da carinata no Brasil é um reflexo das mudanças no agronegócio, que busca cada vez mais equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade. Como alternativa para a entressafra, a cultura apresenta um conjunto de vantagens que vão além da questão econômica, garantindo benefícios para o solo e contribuindo para a redução das emissões de carbono. Seu avanço no país reforça a importância da inovação no campo, oferecendo novas oportunidades para os produtores que desejam diversificar suas atividades sem comprometer a viabilidade do sistema produtivo.
Com a expansão da área cultivada e os investimentos na produção de SAF, a carinata se consolida como um dos principais destaques do setor agrícola nos próximos anos. Para os produtores interessados em explorar essa nova alternativa, acompanhar os testes em andamento e buscar informações sobre o cultivo pode ser um passo decisivo para aproveitar as oportunidades desse mercado emergente. O futuro da carinata no Brasil está apenas começando, e tudo indica que essa cultura veio para ficar.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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