Brasil cumprirá o seu papel e produzirá 40% a mais de alimentos de origem animal até 2050, como pede a FAO.
O Brasil deve fechar 2018 com a produção de 27,15 milhões de toneladas de carnes (frangos, bovina, suína e peixes de cultivo) e 34,2 bilhões de litros de leite. Esse resultado é, em média, 10% superior ao obtido em 2011. “A manutenção do aumento da produção nesses níveis permitirá ao país cumprir o seu papel na oferta mundial de alimentos de origem animal solicitada pela FAO para 2050, ressalta Stefan Mihailov, presidente da Trouw Nutrition e coordenador do evento Horizons, realizado nos dias 9 e 10 de outubro, para discutir as tendências da produção de alimentos global e o papel do Brasil.
“O nosso país é um campeão mundial da produção e exportação de alimentos e tem água, terras, tecnologia e competência para manter o ritmo de crescimento da última década, atendendo ao chamado da FAO. Em 2050, o mundo terá 2,2 bilhões de pessoas a mais. É preciso aumentar a oferta de alimentos constantemente e o uso de novas tecnologias é essencial nesse processo”, destacou Mihailov para uma plateia de 250 empresários da cadeia de alimentos de origem animal, que participaram do Horizons, em Atibaia (SP).
A avicultura é a maior fornecedora de proteínas animais do Brasil. Em 2018, a expectativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) é fechar com 13,1 milhões de toneladas. Esse resultado é praticamente o mesmo de 2011, mas nesse período as exportações saltaram 7%, atingindo 4,2 milhões de toneladas/ano. “O Brasil tem custos de produção ajustados, status sanitário excepcional, cadeia de produção integrada e muita tecnologia para produzir mais e cada vez melhor”, explicou Francisco Turra, presidente da ABPA, na mesa-redonda ‘Como o Brasil pode aumentar sua produtividade em 40% para atender à crescente demanda mundial de alimentos”, coordenada pelo ex-secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Arnaldo Jardim e com participação do atual secretário da pasta Francisco Sérgio Ferreira Jardim, durante o Horizons. O dirigente listou entraves que precisam ser olhados com atenção pelo país. É o caso da alta tributação sobre a cadeia produtiva, regulação das relações de trabalho, burocracia, infraestrutura e financiamento, entre outros.
Também participante do evento, Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), apontou os gargalos de logística como importantes complicadores do processo de produção e, particularmente, de exportação de carne bovina. “Expressiva parcela da produção do centro-oeste é escoada pelo porto de Santos. Trata-se de um processo lento e pouco eficiente. Somente no porto, são gastas 60 h para um navio receber a carga e zarpar. É muito tempo”, disse Camardelli. O dirigente mostrou-se confiante quanto ao desempenho das exportações de carne bovina este ano – “que devem fechar em torno de US$ 7 bilhões contra US$ 6,2 bilhões no ano passado” – e, especialmente, para 2019, devido à possível abertura de novos mercados. “O processo de liberação da Indonésia está em fase final e uma missão do Canadá chegará ao Brasil no dia 15 de outubro”, informou.
A melhoria da produtividade com ampliação do uso maciço de novas tecnologias é a receita de Roberto Hugo Jank Jr, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), para o aumento da produção de leite no país, objetivando atender à crescente demanda interna e global. “O Brasil produz 34,2 bilhões de litros de leite em 22 milhões de hectares, com produtividade média de 1.600 litros/hectare/ano. Esse resultado representa um décimo da eficiência da Nova Zelândia”, assinalou Jank, no Horizons. “É perfeitamente possível ampliar rapidamente esse índice e produzir 40 mil litros por hectare/ano! Se atingíssemos esse nível, usaríamos apenas 2 milhões de hectares para obter a produção que temos hoje no país”.
Mais jovem, porém promissora atividade, a piscicultura apresentou no Horizons números muito positivos para os próximos anos. “A FAO pede que a produção aumente 40% até 2050. A piscicultura brasileira triplicará de tamanho nesse período”, ressaltou Ricardo Neukirchner, presidente do Conselho da Associação Brasileira da Piscicultura (PEIXE BR). O dirigente apoia-se no crescimento da produção em 500% nos últimos dez anos e nas potencialidades do Brasil para a atividade, além das vantagens competitivas do peixe de cultivo. “Temos água em abundância, novas tecnologias estão chegando e a produção é sustentável, sem agressão ao meio ambiente. Além disso, o consumo interno é de apenas 3 kg/hab/ano, tendo muito potencial de aumento. A piscicultura é uma atividade de muito futuro no país”, assinalou Ricardo Neukirchner.