Entre muitos países produtores, o Brasil é provavelmente o que mais de se adequa a análises dessas tendências e mudanças apresentadas a seguir. É o novo cenário da agricultura, interferindo cada vez mais na vida dos agricultores. Da mesma forma que com a situação macroeconômica e da agricultura, apresento uma lista de 20 grandes mudanças que creio ocorrerem nos próximos 10 anos:
- Viveremos períodos de aumento da volatilidade de preços na agricultura mundial;
- Crescentes riscos devido às mudanças climáticas regionais e globais e maiores pressões na área de sustentabilidade, da economia de carbono (“carbon footprint”) e outras;
- Crescentes interferências das políticas governamentais, sejam de impostos, acesso a mercados e outros tipos de controles e exigências. A questão política cada vez mais intrincada no agronegócio;
- Portfólio tecnológico e acesso à tecnologia assumirá uma posição cada vez mais importante;
- Aumento na concentração dos produtores rurais (mais propriedades sendo gerenciadas por um número menor de produtores mais eficientes) impactará fortemente na forma de negócios nas cadeias integradas do agronegócio;
- Mudanças no comportamento do produtor, cada vez mais profissionalizado e informado aumentando constantemente as exigências, o conhecimento técnico e mercadológico;
- Maior acesso à informação, a maioria destas gratuitas, sobre produtos, serviços e preços praticados em diferentes regiões;
- Diversificação da agricultura para outras regiões e atividades, fortalecendo a integração de grãos com produção de proteína animal, energia (biomassa) e atividades florestais. Agricultura do futuro será muito mais integrada;
- Aumento das necessidades de capital, com necessidade de desenvolver novas alternativas de suporte e crédito para atender as necessidades de capital de giro dos agricultores;
- Interferências e restrições maiores sobre o uso da terra;
- Complicações referentes ao uso da água, desde escassez, aumento de custos até pressão da sociedade (“water footprint”);
- Oportunidades para o trabalho urbano aumentam a dificuldade de mão de obra rural e mão de obra continua a ser um dos mais difíceis aspectos para o agronegócio;
- Escassez de recursos para a produção agrícola em muitas regiões, notadamente China e Índia os tornará cada vez mais dependentes de importações. Apesar de grande importadora hoje, deve ser observado qual o papel da África nos próximos 10 anos.
- A necessidade de escala é um princípio básico para ganho de eficiência e redução de custos. O conceito que se tem hoje da fronteira da propriedade será fortemente revisto em 10 anos para gestões de espaços integrados;
- Mudança no balanço de poder na direção dos grandes agricultores organizados e mega-empresas integradas de comercialização e logística trará um “retorcimento” das cadeias integradas e novos players participando de funções que antes não executavam;
- Agricultores estão se organizarão cada vez mais grupos de compra, cooperativas e centrais de cooperativas, ajudando na necessidade de boa gestão da terra, dos ativos e custos via ações coletivas;
- Diferentes perfis de agricultores com diferentes combinações de atributos técnicos, relacionais e de preço se tornarão cada vez mais importantes ao se analisar o comportamento de compra dos agricultores;
- Aumento da exposição ao risco e da demanda por capital devido à oferta de produtos e serviços mais sofisticados e das novas dimensões da agricultura;
- O uso da tecnologia permitirá mudanças incríveis, a maioria relacionada à integração de atividades e à agricultura digital (“nas nuvens”);
- Grandes desafios no tocante à sucessão nas propriedades rurais, nas entidades de classe, associações, sindicatos e cooperativas, entre outros. Uma nova era de governança nas organizações (entidades de classe, associações, sindicatos e cooperativas) estará em curso.
Em se pensando nestas mudanças, fica evidente que a agricultura em 2025 será diferente do formato atual de se produzir. O importante disto tudo é que não faltarão oportunidades para se colocar nos mercados os produtos dos países que produzirão de maneira eficiente, e o Brasil tem grandes chances de aumentar fortemente as exportações no cenário atual, e mais ainda se fizer as reformas estruturais necessárias.
Fonte adealq.org.br
Escrito por Marcos Fava Neves (Sifu – Engenheiro Agrônomo – F-91) é Professor Titular de Planejamento e Estratégia na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, coordenador científico da Markestrat.