Confinamentos de gado de corte se transformam em empresas a céu aberto

A profissionalização tem promovido uma mudança cultural, onde a gestão baseada em dados, a tomada de decisões com informações precisas em mãos e o investimento em ações sustentáveis têm se tornado novos padrões.

O mundo corporativo e a pecuária brasileira têm convergido em vários aspectos, especialmente quando se trata da estruturação de processos, otimização de fluxos de trabalho, redução de desperdícios e gestão eficiente para garantir maior eficiência operacional, aumentando a produtividade e a competitividade no mercado.

Esta é uma percepção que a pesquisa-expedicionária Confina Brasil tem confirmado nas visitas que realiza pelos confinamentos de gado por todo país, já que vários deles se destacam pela adoção de práticas complexas de gestão.

“Super raça de gado corte” que chega ao mercado com novo cruzamento

A profissionalização do setor tem promovido uma mudança cultural, onde a gestão baseada em dados, a tomada de decisões com informações precisas em mãos e o investimento em ações sustentáveis têm se tornado novos padrões que inspiram confinamentos ainda menos estruturados.

“A profissionalização de muitos dos confinamentos chama a nossa atenção ano a ano. Não só em questão de práticas de manejo, mas também na adoção de tecnologias, na presença de uma cultura empresarial, na exploração da seleção genética, nos processos de sucessão familiar ou até mesmo na apresentação de inovações no setor”, comentam os especialistas da Scot Consultoria, responsável pela expedição.

Empresas a céu aberto: práticas empresariais se intensificam nos confinamentos

É o caso, por exemplo, da Fazenda Embu, localizada em Nova Monte Verde – MT. Preocupada com a qualidade da mão-de-obra, oferece diferentes benefícios para a equipe de trabalho na tentativa de diminuir a rotatividade. Horário de almoço com tempo de descanso, controle de ponto na entrada e na saída, cantina organizada com equipe dedicada para a alimentação, são alguns dos exemplos.

É também uma fazenda que utiliza diferentes tecnologias para fazer a gestão de dados e acompanhar a evolução individual dos bovinos, avaliando número a número. Como a fazenda tem uma história no trabalho com cria, as informações levantadas colaboram para a seleção genética do gado. O melhoramento genético, aliás, é uma aposta de muitos anos dos proprietários.

Um dos processos que vale destaque é a estratégia de marcação dos bezerros. Assim que nascem, tanto machos quanto fêmeas recebem um carimbo do mês de nascimento e uma marcação referente à paternidade de cada um. A partir do acompanhamento da evolução desse bezerro, se torna possível fazer a seleção genética dos melhores reprodutores para, posteriormente, ter maior poder de decisão na seleção do sêmen que será utilizado na estação, também possibilitando um melhor planejamento e apartação dos lotes.

Além disso, os proprietários apostaram na integração lavoura-pecuária (ILP), rotacionando o pasto com lavoura, transformando resíduos da agricultura da soja e do milho na silagem do gado, fazendo um melhor aproveitamento desses insumos e conseguindo reduzir custos com uma das principais despesas: a nutrição do gado.

Outra propriedade com ações semelhantes é a Fazenda Ressaca, localizada em Cáceres – MT.

Reconhecido como um dos maiores produtores de touros nelore PO, há tempo apostam também no melhoramento genético e acreditam que a melhor produção deve abranger não somente a qualidade, mas também maior quantidade, no menor custo e com menor tempo.

Para isso, a gestão adota um sistema de produção eficiente, com pastagens perenes e parte da área com agricultura, realizando diferentes rotações de cultivos como sorgo, soja e capim, além de ficar evidente uma preocupação com o fornecimento de água de qualidade e aumento do sombreamento das áreas de alimentação e descanso dos bovinos.

Na propriedade, o confinamento entra como uma ferramenta estratégica, sendo utilizado de diversas maneiras: preparo de animais para leilão, sequestro de bezerros e terminação de bovinos.

O sequestro dos bezerros é realizado com o intuito de retirar os bezerros das pastagens durante os períodos de seca. Ofertando a nutrição no cocho, a propriedade enxergou uma oportunidade de preservar as pastagens nesse momento crítico, além de ampliar significativamente a taxa de lotação da fazenda, promovendo uma lotação média maior.

Os proprietários investem também em sustentabilidade, pensando na longevidade do negócio. Uma das estratégias é a compostagem dos dejetos do confinamento, que enriquecem o solo destinado à lavoura. A fazenda mantém recursos em circulação para promover uma agricultura sustentável que aumenta a biodiversidade e a recuperação da terra.

Foto por: Bela Magrela

A organização da fazenda é notável, com múltiplas divisões e infraestrutura padronizada em cada um dos currais. A logística é eficientemente planejada, conectando confinamento, armazenamento de grãos, tratamento de insumos e áreas de pastagem estrategicamente, como forma de reduzir tempo e distância de deslocamento, impactando positivamente nas horas de trabalho e despesas logísticas. 

Gestão de pessoas como um diferencial competitivo é uma aposta também da Fazenda Santa Fé, de Santa Helena de Goiás – GO. Com estrutura extremamente eficiente e reconhecida como um dos confinamentos mais tecnológicos do país, tem como um dos diferenciais o investimento nos colaboradores, promovendo confraternizações esportivas e capacitações técnicas para formar e unir a equipe. Os colaboradores também participam de reuniões mensais de alinhamento e recebem bonificações de acordo com a sua performance.

Sucessão: a missão de dar continuidade ao profissionalismo dos negócios familiares

O confinamento Santa Fé é um grande exemplo de um processo de sucessão familiar estruturado e de sucesso. 

A preparação adequada de sucessores, através de formação e experiência prática, assegura que eles estejam prontos para enfrentar os desafios do mercado e implementar as inovações necessárias para a continuidade e o sucesso dos negócios.

Tanto no mundo corporativo quanto no campo, essa é uma realidade. Foi o que aconteceu com a família Merola, do confinamento Santa Fé, que hoje tem como proprietário Pedro Merola, bisneto do fundador Misael, que adquiriu a fazenda em 1933.

Mais de 90 anos depois, a Santa Fé é um dos maiores confinamentos da América Latina em volume de bois terminados em boitel, além de contar com gado próprio. São reconhecidos como pioneiros na adoção da integração lavoura-pecuária, se mantendo relevantes no cenário da pecuária de corte desde então. 

De geração em geração, a família tem conseguido dar continuidade ao sucesso da Santa Fé, preservando e atualizando conhecimentos adquiridos, os valores da família, o legado dos antecessores e da cultura empresarial, somando cada vez mais ao negócio.

Foto por: Bela Magrela

Controle de custo na ponta do lápis.. Aliás, na palma da mão, pelo celular

Inovações tecnológicas movem o mundo corporativo e estão chegando cada vez mais rápido à pecuária. Nos últimos anos, o mercado de tecnologia tem desenvolvido softwares e aplicativos específicos para o setor e os produtores que apostam nessas ferramentas conseguem se diferenciar, especialmente por conta do controle de custos mais minucioso.

É o caso dos confinamentos São Lucas e Santa Fé, localizados em Santa Helena de Goiás – GO, que automatizaram toda a gestão do trato, contabilizando exatamente a necessidade nutricional de cada lote.

Na São Lucas, a gestão começa com a leitura do cocho antes do primeiro trato, do total de quatro ao longo do dia. Os dados dessa leitura alimentam o sistema da central de gestão que fica na fábrica de ração, responsável por programar a quantidade distribuída por piquete.

Se, no trato da manhã, a misturadora distribuiu a mais ou a menos, a quantidade é corrigida ao longo do dia, com o objetivo de reduzir ao máximo a sobra ou a falta de comida nos cochos. Eficiência e lucratividade andando lado a lado.

Assim como a São Lucas, a Santa Fé também utiliza automação para o controle da dieta de cada curral, com 6 ou 8 tratos diários dependendo da leitura de cocho, oferecendo sempre alimento fresco e na quantidade adequada.

O confinamento São Lucas utiliza ainda, entre outras ferramentas, o CattleView, um sistema de monitoramento da Nutron Cargill (@nutronbrasil) que combina técnicas de visão computacional, uso de drones, inteligência artificial e computação em nuvem para otimizar a operação do confinamento.

O sistema fornece ao pecuarista informações como contagem de animais no lote, leitura e manejo de cocho, avaliação de estruturas, do comportamento animal e de seu bem-estar, identificação de problemas com fornecimento de água, pesagem diária e determinação do ponto ótimo de abate, facilitando ainda mais a tomada de decisões dos gestores.

Já na Santa Fé, uma das inovações trazidas pelos proprietários ainda em 2017 são as balanças de precisão para o monitoramento do peso do gado em tempo real. Instaladas em cada curral, permitem que cada bovino seja pesado pelo menos oito vezes ao longo do dia, trazendo indicadores individuais detalhados. 

Com esses dados, a gestão pode oferecer, aos parceiros-clientes que deixam seu gado para engorda, os números de desempenho em tempo real dos bovinos, através de um aplicativo, estabelecendo as melhores projeções para ganhos e momento ideal de abate.

Bem-estar do gado como diferencial competitivo

As empresas mais eficientes costumam buscar inovações que vão permitir maior rendimento com o menor custo. Não é diferente nos confinamentos brasileiros.

Muitas das propriedades visitadas pelo Confina Brasil apostam no manejo de bem-estar animal para garantir maior produtividade, oferecendo mais conforto e menor estresse ao gado através de uma alimentação balanceada, água de qualidade, cuidados veterinários preventivos, baias devidamente espaçadas, com sombra e aspersão, além de um manejo intuitivo e não agressivo, que respeite o comportamento animal.

Pecuaristas, técnicos e pesquisadores comprovam, a partir do acompanhamento individual dos bovinos, que os que vivem em condições de bem-estar adequado apresentam taxas mais eficientes de conversão alimentar e menor incidência de doenças ou lesões, reduzindo os custos com tratamentos e perdas.

Uma dessas empresas é a MFG Agropecuária, que tem fazendas em MT, MS e GO. A preocupação com o bem-estar dos bovinos é traduzida diretamente na baixíssima porcentagem de mortalidade de bovinos.

De acordo com o levantamento realizado recentemente pela consultoria Foco Saúde Animal, a MFG é a empresa que apresenta a menor taxa de mortalidade animal do país, sendo que a unidade do grupo em Mineiros – GO, visitada pelo Confina Brasil, aparece entre as 10 principais fazendas neste índice com taxa de apenas 0,17%. De acordo com a mesma pesquisa, para comparação, a média nacional é estimada em 3,15%.

Este resultado se deve especialmente pela intensificação das rondas sanitárias e eficiência na gestão da saúde e bem-estar dos bovinos, reduzindo as mortes por pneumonia, que é hoje o maior desafio sanitário dos confinamentos, seguido por distúrbios metabólicos e refugo de cocho.

Os processos incluem desde a aclimatação na chegada do gado até a observação do escore de fezes, que passou a ser um procedimento padrão nas fazendas do grupo, para melhor acompanhamento da adequação do gado ao cocho, possibilitando tomar providências imediatas se necessário.

Foto por: Bela Magrela

Aproveitamento de dejetos como uma solução rentável

A produção de gado gera uma quantidade significativa de dejetos orgânicos, como urina, esterco e restos de alimentação. A falta de um manejo adequado desses dejetos pode resultar em impactos ambientais e econômicos.

Nos últimos anos, porém, a gestão eficiente de dejetos na pecuária tem se mostrado um fator importante não apenas para a sustentabilidade ambiental, mas também para aumentar a rentabilidade dos pecuaristas.

Nas visitas do Confina Brasil, foi possível perceber que exigências de órgãos governamentais, como as secretarias estaduais do meio ambiente, estão acelerando a necessidade do tratamento de dejetos dos bovinos.

Muitas fazendas estão realizando reformas estruturais para se adequarem às normas e encontrando soluções interessantes para converterem descarte em uma nova fonte de recursos.

É o caso, por exemplo, da Fazenda Lapa do Lobo, do grupo Algar Farming. Localizada em Paranaíba – MS, a propriedade está em processo de reforma de lagoas de estabilização e decantação para continuar com o uso dos biofertilizantes.

A fazenda conta com mais de mil hectares de pivô que utilizam os dejetos líquidos na fertirrigação, reduzindo a dependência de adubos químicos e, ao mesmo tempo, diminuindo os custos de produção na agricultura.

Em parceria com a IFB (@ifbfertilizantes) – empresa especializada em transformar resíduos orgânicos em fertilizantes -, a gestão de dejetos na Lapa do Lobo é tão eficiente a ponto da parte sólida também ser reaproveitada na lavoura, acarretando um excedente que é comercializado gerando renda extra para a fazenda. Por ano, a Lapa do Lobo vende, em média, 20 mil toneladas de esterco in natura para outras fazendas.

Em resumo, o Confina Brasil visitou, nas últimas semanas, confinamentos competitivos e inovadores que estão profissionalizando cada vez mais suas gestões e processos, apostando na capacitação e bem-estar dos colaboradores, no bem-estar dos bovinos, preocupados com a perenidade dos negócios, fazendo movimentos profissionais na sucessão familiar e com muitas ações sustentáveis.

Esses confinamentos têm se tornado referência para o cenário da pecuária nacional, motivando e incentivando propriedades menores interessadas em trilhar o caminho da profissionalização e crescimento.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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